A CCXP vive de lobby

A opinião é o grande ativo de conteúdo aqui do Vitamina Nerd. Tentamos ser o mais francos possíveis em nossas críticas – e apesar de falar isso por mim, tenho total paixão pelo trabalho dos meus colegas de site e sei que eles tentam manter a honestidade em seus textos. É claro que, inconscientemente, não controlamos totalmente a experiência: os estúdios e distribuidoras sabem disso, então quando nos convidam para assistir aos filmes (ou séries, mais recentemente), há um esforço para nos providenciar a melhor experiência possível.

Para quem não sabe, a maior parte das críticas aqui do Vitamina Nerd ocorre em “cabines de imprensa”: sessões especiais para convidados com esse mesmo intuito de gerar conteúdo para um lançamento. É de interesse agradar a quem vai falar do filme, então é comum as sessões acontecerem em cinemas muito bons, com uma taxa especial de frames por segundo ou exuberantes salas IMAX. Às vezes servem um café da manhã, a gente ganha uns mimos, pipoquinha, é legal, é divertido; mas eu pessoalmente tento não confundir a experiência de assistir ao filme com a qualidade do filme em si – e evidentemente falho nessa tarefa; mas todos fracassamos, por isso deixo claro em minhas críticas quando servem uísque na exibição, já que eu sei que eu claramente posso ter gostado mais do filme por causa disso.

Assim que comecei a adentrar nesse mundo, fiquei sabendo de fofocas de bastidores de um grande site que pedia “gratificações” aos estúdios para falar bem dos filmes. O site não durou muito: encerrou sua atividade há alguns anos. O público não é imbecil e essa atitude não é sustentada por muito tempo. Então há uma cumplicidade entre quem produz os filmes e quem produz as críticas: a gente depende dos estúdios tanto quanto eles dependem da gente.

Essa introdução é mais ou menos para explicar como funcionam as coisas no meio e porque não pega bem sair falando mal de outro site ou de nossos caríssimos distribuidores: a gente quer continuar fazendo nosso trabalho, então seria burro criticá-los ou nos queimarmos perante os outros veículos. Por sorte, não temos problema nenhum com eles (e nem eles com a gente, espero). Quando criticamos o filme, é unicamente da obra que estamos falando. Mesmo que a sessão atrase (por dezenas de minutos, às vezes) ou que outros (raros) incidentes aconteçam, sabemos que são coisas pontuais e não vamos sair bradando impropérios a potenciais culpados, não é esse o objetivo de nossas críticas.

A ccxp vive de lobby

Sinergia

Mas agora entra o suicídio pop aqui do site: se já não pega bem falar de outros pequenos veículos, falar mal do maior evento de cultura pop do Brasil – e um dos maiores do mundo – é a forma mais rápida de nos indispormos com uma dezena de colaboradores. Não se fala mal da CCXP no nosso meio: o evento é grande demais, envolve gente demais, companhias importantes demais, e vai jogar o nome do Vitamina Nerd direto na lista negra do negócio, garantindo que a gente não será convidado para as edições vindouras. Ninguém quer isso e ninguém ganha nada com um texto desse, então publicar isso aqui é burrice.

Não somos um portal de notícias, mas nosso plano de cobertura (obrigatório nos pedidos de credenciamento) envolvia crônicas sobre o evento – o tipo de coisa que eu adoro escrever. Mesmo em algumas críticas de filmes eu não resisto em comentar sobre a experiência de assistir ao filme, algo que não é comum em ver nas resenhas de críticos mais aclamados, mas que eu acredito que pode ser um trunfo para as mídias menores, como nós.

Mas já é abertamente conversado entre os pequenos veículos do meio o quanto o evento está cagando para a pequena imprensa. E não só isso: a CCXP também não se preocupa com o público ou com os artistas da alley. Eles sabem que o público nerd é fiel e emocionado, ano que vem vai estar comprando ingresso de novo, esquecendo que passaram horas em uma fila mal organizada para entrar no salão. Eles sabem que estão criando uma das raras oportunidades que os artistas conseguem para serem vistos e ganharem uma graninha com seu trabalho, vão esquecer dos perrengues que tiveram para arrumar água para beber ou até para ir ao banheiro, ficando das 9h às 23h espremidos em uma cadeira desconfortável. E eles sabem que não pega bem para outros veículos falarem mal do evento: é uma das poucas oportunidades de trazer para o Brasil uma relevância no meio pop, que é algo que todos lutamos aqui em conjunto.

E, acima de tudo, eles sabem que não precisam tratar bem nenhum desses grupos, porque eles aprenderam logo cedo a fazer um lobby com quem eles julgam que realmente importa: uma meia dúzia de veículos gigantescos e umas companhias relevantes que se interessam em aparecer. E é isso que a CCXP faz de umas edições para cá: puro lobby.

Há uns anos atrás, eles até contrataram uma assessoria para lidar com todos os indesejados: a Approach. Com isso, ficou impossível contactar diretamente qualquer ponto da organização do evento, seja para dúvidas, críticas, ou o básico de um relacionamento de imprensa. A Approach cuida de negar a entrada de todo mundo que trabalha na área e servir como relações públicas para o evento. A mensagem que todos receberam é a mesma: eles estariam “…priorizando a imprensa e os criadores de conteúdo especializados em conteúdo que possuam sinergia com a proposta da CCXP“.

É claro que essa “sinergia” nunca é explicada. A resposta também lembra que eles disponibilizam diversos materiais de divulgação, imagens e releases, tentando incentivar os veículos a divulgá-los. Na cabeça da CCXP, essa tal sinergia tem de acontecer somente de um dos lados. Já virou notório o péssimo atendimento aos portais especializados, tanto que ao contestar o que seria essa “sinergia” e pedir mais esclarecimentos sobre o que se espera de um colaborador, a Approach respondeu com outra mensagem copiada e colada: “Infelizmente, o número de credenciais de imprensa é limitado, impedindo que todas as solicitações sejam aceitas e esperamos que você e demais colegas entendam como essa decisão difícil foi tomada“.

Nas cabines de imprensa das últimas semanas foi possível encontrar muita gente que contestou e recebeu essa mesma mensagem. Um petulante “cala a boca”. A arrogância do evento é movida pela arrogância do Omelete, um dos maiores portais de cultura pop do Brasil, que colocou a si mesmo em um pedestal alto demais para se importar em olhar pela beirada dele aqui para baixo.

A maioria dos jornalistas e influenciadores que vocês verão este ano criando conteúdo do evento terão sua entrada fornecida não pela CCXP, mas pelos parceiros que pagam fortunas para montar seus estandes lá. É mais fácil conseguir participar do evento com uma entrada provida por um desses parceiros do que ser aprovado no crivo da Approach.

A assessoria talvez nem seja exatamente culpada pela negação: o mais provável (pelo que outros veículos andaram especulando na boca pequena) é que eles só estão cumprindo ordens do evento.

Conclusão

É idiota pensar que essa crítica virá a trazer qualquer mudança positiva. A CCXP deste ano já está fadada ao sucesso: mesmo se não for um sucesso, o lobby já está muito bem estruturado para que os problemas sejam abafados por notícias positivas e vídeos emocionados de nerds encontrando seus ídolos, mesmo que esses nerds tenham sido tratados que nem merda e tenham esperado horas de pé em mata-burros intermináveis.

Na última edição do evento, houve uma comoção em relação à forma como os artistas da alley foram tratados: hashtags destacando os maus tratos se tornaram relevantes no twitter – eles se esforçaram para tornar o assunto um trending topic e essa foi a forma com que essas pessoas conseguiram ser notadas pelo evento. Isso resultou somente em uma resposta levemente mais dedicada de um dos organizadores, mas, pela forma como fomos tratados pela Approach, dificilmente isso vai resultar em qualquer melhoria na estrutura este ano. A CCXP não precisa nos agradar. E nem quer.

A única consequência possível deste texto é uma resposta mais assertiva da organização ano que vem para negar a nossa entrada no evento. Também pode pegar meio mal com os distribuidores e estúdios que se aproveitam do lobby do evento para chamar atenção aos seus próprios lançamentos.

Então não há nada de positivo que este texto enorme pode trazer. Mas é, tal qual todas as críticas que eu já escrevi aqui, totalmente sincero.

Porque ter o rabo preso ou ter falta de sinceridade é algo que ninguém jamais poderá nos acusar.

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