Crimes do Futuro
David Cronenberg propõe uma experiência única nesse filme de horror corporal, com uma construção de mundo, costumes e política muito bem atrelados à condição bizarra de evolução humana, que desenvolve novos órgãos (ou seriam super tumores?), seja triplicando orelhas, seja criando algo completamente novo, o que muda a sociedade. O público é jogado nesse contexto de cabeça, mas a condição vai ficando mais compreensível à medida que a história de Crimes do Futuro avança.
Envolvendo o corpo (e depois a autópsia) de um menino morto, um artista performático mostrando a metamorfose de seus órgãos em espetáculos, e um grupo misterioso que tenta usar a notoriedade do protagonista para jogar luz sobre a próxima fase da evolução humana, Crimes do Futuro é repleto de boas ideias, mas que não são desenvolvidas a fundo, deixando claro que a trama teria funcionado melhor em uma minissérie.
A Timlin da efervescente Kristen Stewart merecia mais tempo de tela. O detetive Cope de Welket Bunguê e a dupla creepy formada por Tanaya Beatty e Nadia Litz, mal justificam suas presenças, apesar da importância delas. E todos nós queríamos mais da envolvente Caprice da sempre maravilhosa Léa Seydoux. Ao menos temos o que considero o melhor papel de Viggo Mortensen, que faz uma entrega excepcional, da vocalização à linguagem corporal, contribuindo para a estranheza e incômodos que o filme quer evocar.
Mesmo que repleto de possibilidades futuras, Crimes do Futuro ainda é um inventivo e poderoso exercício de worldbuilding, feito na medida para os fãs de Cronenberg.