Segredos de um Escândalo (2024)
Dançando entre a hipocrisia e a sociedade do espetáculo, Todd Haynes (de Carol e O Preço da Verdade) realiza uma paródia perversa inspirada em eventos reais de mais de 30 anos, que no filme ganha uma pequena roupagem de diferenciação, mas mantém sua essência: mais de vinte anos após seu romance midiático virar assunto da nação, um casal é colocado sob pressão quando uma atriz viaja até seu lar para se preparar para um filme sobre o passado deles… ficando em estadia por lá de maio a dezembro (por isso o título original, May December).
Natalie Portman (a atriz hipócrita, obsessiva e envolvida) e Julianne Moore (a dona de casa de classe média que vira alvo dessa produção) dão um show em tela, com performances ora divertidas ora dramáticas, que funcionam principalmente no campo do do debate, do questionamento, do bate-papo desconfortável na mesa durante o café da manhã. Charles Melton (de Riverdale) acaba se destacando entre as duas estrelas em momentos chave da narrativa, já que seu personagem, afinal, foi a única e verdadeira vítima de todos os ocorridos.
O melodrama típico de Haynes funciona na proposta novelesca, de longos e marcantes diálogos, ainda que algumas tomadas (como os esvaziados minutos finais) e símbolos (como a lagarta que se transforma em borboleta servindo para signo de maturidade do menino que nunca cresceu) soem pueris. Somente a ironia e o cinismo, do ótimo elenco e da direção, é capaz de conduzir essa trama de um escândalo tão complexo de maneira leve, um pouco sedutora e um tanto quanto divertida. A dor chega ao final, afinal.
E irônico também que, o caso real que inspirou esse filme, agora ganhe sua própria interpretação dos fatos, mesmo que sem respostas. Porque para a vida, como ela é, por mais bizarra que seja, não existem respostas fáceis. Aqui tampouco.