Anatomia de Uma Queda (2024)
A verdade é o que menos importa nesse suspense exemplar de Justine Triet, colocando uma escritora sendo investigada pela estranha morte do marido, que caiu do alto do chalé quando somente ela estava em casa. Criando uma trama intrincada, que supera em muito qualquer episódio de CSI e derivados, com seus toques hitchcockianos, a cineasta francesa vai a fundo em todos os procedimentos padrões de uma investigação nesse caso (da perícia ao tribunal, do julgamento midiático até o elo com o advogado), mas sem jamais perder o fôlego.
A narrativa alterna entre diferentes momentos que contribuem para esse bom ritmo, com diálogos marcantes, olhares que dizem muito e sequências que variam de um gradual bate-boca até uma conversa casual que não aparenta nada, mas em Anatomia de Uma Queda tudo importa, ainda que a resolução efêmera não tenha essa valia toda que Hollywood fez o público de thrillers se acostumar. É ao redor do cachorro e da ótima performance do prodígio Milo Machado Graner, ao qual gira a chave emocional do enredo, com Swann Arlaud tentando equilibrar as questões do espectador, com a tranquila e intrigante trilha de Benoît Daniel, ou aquela que traz uma ode a gravidade de Chopin, ou então com a ensurdecedora e perturbadora “P.I.M.P” de Bacao Rhythm & Steel Band.
Mas Anatomia de Uma Queda não seria metade do grande filme que é sem a presença formidável de Sandra Hüller, com seu jeito pacato, casual e… dissimulado. A atriz dá um show em tela com uma atuação que vai gerar um amontoado de sensações, nenhuma delas resolutivas. Onde reside a verdade? A sua verdade? A diretora deixa para o público julgar ou isso é irrelevante? Em uma história que discute a verdade em tempos de cancelamento, prestando seus tributos a Hitchcock e aos irmãos Coen, temos um cinema que brinca com as interpretações, mas sendo assim cinema de verdade