Aumenta que é Rock’n’Roll (2024)
Chegando aos cinemas em 25 de Abril, “Aumenta que é Rock’n’Roll” é um longa-metragem baseado no livro autobiográfico de Luiz Antonio Mello, “A Onda Maldita”, apresentando a criação da Rádio Fluminense FM, que recebeu a alcunha de “Maldita”; a primeira rádio com locução exclusivamente feminina e voltada totalmente ao gênero musical rock’n’roll.
Em um período de redemocratização do país, onde os frutos de uma longa ditadura militar ainda estavam latentes, ser um amante de rock significava ir contra o que era imposto e obrigatório. Servia com uma espécie de cultura revolucionária, onde seus embriões viam em suas bandas favoritas um meio de nascer, crescer e se espalhar.
Nesse contexto, vemos os amigos Luiz (interpretado por Johnny Massaro) e Samuca (George Sauma) lutando pela criação de uma rádio exclusivamente rock’n’roll, munidos apenas de sonhos e muita determinação. Eles, juntamente com um grupo de pessoas apaixonadas – onde se inclui a locutora Alice, personagem de Marina Provenzzano – nos mostram as dificuldades e os sucessos de ir contra todo um padrão social imperativo.
Em razão da Rádio Fluminense FM ter sido a responsável pelo lançamento de inúmeros gigantes do Rock Nacional, aparições de bandas, cantores e músicas famosas (também internacionais) são recorrentes em todo o longa, mas em momento algum se sobressaem sobre os personagens principais e a própria Rádio “Maldita” – as almas do filme.
O humor é uma característica sempre presente no longa dirigido por Tomás Portella, mas quando há um peso dramático maior, principalmente no terço final, toda a emoção é sentida, justamente por apresentar personagens relacionáveis e falhos.
Acredito ser sempre dificultoso representar o papel de uma figura que de fato existiu, mas que também apresenta toda uma camada ficcional por trás. Johnny Massaro (com um ótimo timing cômico) conseguiu o balanço perfeito ao interpretar um Luis Antonio Mello explosivo, impetuoso, mas também companheiro, falho e cheio de dúvidas. Já Marina Provenzzano acrescenta um ótimo contraposto ao personagem de Johnny. Alice é enigmática e temperamental – assim como o protagonista – o que gera uma gama de conflitos e paixões no dia-a-dia da rádio.
Gostaria também de ressaltar uma característica fundamental aqui, especialmente para uma obra que tem como seu grande núcleo uma rádio; os diálogos. É comum topar com filmes em que as falas são citadas de uma maneira artificial, quase robótica, com meandros e tecnicismos que não vemos em conversas diárias. Porém, neste longa roteirizado por L.G. Bayão, os diálogos são orgânicos e críveis. E a forma como os atores entregam suas falas, seja nas entonações ou utilizando-se de palavrões, contribui para que tudo soe natural.
Há sim algumas conveniências de roteiro, que acredito acontecer ao tentar condensar uma história real com o envolvimento de um incontável número de pessoas em um longa de 2h. Mas nada que atrapalhe a imersão e comprometa o filme.
Passando por momentos importantes da história brasileira, como o período de redemocratização, as diretas já e a criação do primeiro Rock in Rio, o filme, mais do que divertir e entreter, mostra que um grupo de jovens apaixonados e determinados pode sim mudar o status quo.
Durante a coletiva de imprensa ocorrida hoje (17), a produtora do longa, Renata Almeida Magalhães, disse ter ficado em conflito ao tentar enquadrar o filme em apenas um gênero, pois ele contém comédia, drama, música e aventura – sem que nenhum tema se sobressaia aos demais. Por fim, ela disse que o filme poderia ser considerado um “épico”.
Respeito e muito a roupagem dada por ela. Mas me permito colocar o filme em uma outra categoria.
Se me perguntarem em qual gênero o longa faz parte, direi simplesmente:
Rock’n’Roll.