Elis
Elis Regina foi uma interprete única na história da música brasileira. Criou conceitos, bases e estilos com sua voz forte e cheia de emoção. Suas músicas, pelo protagonismo imposto em suas interpretações, dificilmente são regravadas. Muito por medo de uma injusta comparação e muito por respeito a algo que nunca será replicado com o mesmo brilho.
A vida pessoal da cantora, como sempre acontece com artistas de absurdo talento, também foi um tanto atribulada e cheia de aspectos passiveis de revisões eternas…
Era apenas questão de tempo até que alguém se dispusesse a contar a história de Elis no cinema – o que eu acho que até demorou bastante!! O que era preciso saber é se teríamos aquele velho formato de biografia Wikipédia – contando a vida inteira do artista sem se aprofundar verdadeiramente em nenhum fato – ou se teríamos algo mais interessante, que focasse em algum momento específico da carreira da artista e que somente com este trecho, a produção pudesse mostrar as nuances de sua personalidade.
Infelizmente, o diretor estreante Hugo Prata escolheu o primeiro caminho em “Elis” e o que temos é praticamente uma fotocopia estrutural de noventa por centro de todas as biográficas filmadas no Brasil. Tim Maia, Renato Russo, Cazuza… todos grandes artistas e pessoas incontroláveis, que foram retratados da mesma forma em suas respectivas cinebiografias, mesmo que sejam pessoas extremamente diferentes entre si. Com Elis, não é diferente.
O filme começa mostrando a cantora chegando ao Rio de Janeiro – ela era Gaúcha – com o pai empresário e a partir daí, você assiste a uma sucessão rápida de fatos isolados da vida dela, com cortes abruptos de tempo. O mais irritante no formato é a absurda vontade de mostrar e justificar todas as ocorrências e polêmicas que marcaram sua trajetória, sem ser corajoso de fato.
Outro erro cabal foi a escolha da atriz Andreia Horta (“Muita Calma Nessa Hora 2”) para interpretar Elis Regina no filme. Não que ela seja má atriz – longe disso – ou que ela esteja mal no filme – apesar de alguns cacoetes ocasionais aqui e ali, que soam um tanto forçados. O problema é que ela não tem voz!!! Quando ela fala ou ri, por exemplo, a sua voz some!! Não que isso seja um defeito da atriz e sim uma característica própria dela. Porém, para interpretar uma pessoa que tinha uma das vozes mais poderosas da história da música, fica muito difícil comprar uma atuação que transite entre estes dois extremos. Isso porque, o diretor também optou por usar playback – com a voz original de Elis – nos momentos musicais do filme.
Não ajudam também os atores coadjuvantes, com o destaque negativo para Lúcio Mauro Filho, que interpreta um Miéle cheio de maneirismos e que só profere frases de efeito!
A história de Elis foi e é muito importante para nossa cultura. O medo do diferente e de um possível afastamento das plateias, fizeram com que os produtores e o diretor do filme escolhessem um caminho “mais fácil”, que com certeza atrairá muitos fãns da cantora. Porém o cinema e a artista saem mais uma vez prejudicados. Com mais uma colcha de retalhos frouxa, mal costurada e que não chega aos pés do que Elis Regina realmente merecia.
*Agradecimento Especial: Downtown Filmes e Paris Filmes