The Affair – Terceira Temporada – Reflexões
The Affair integra facilmente o rol das melhores séries que já assisti na vida. Sua qualidade quase literária de diálogos, sempre orgânicos e fluídos, em uma narrativa que nunca desemboca para a novela barata. Preserva o que foi estabelecido nas duas primeiras temporadas, mas que aqui, sobe alguns degraus. Com um elenco formidável, da qual a câmera nunca desgruda, permitindo que cada ator tenha seu momento de entrega, de uma riqueza emocionante.
Depois do caso criminal resolvido na trama anterior, a história avança três anos e algumas semanas no tempo. Coloca então a questão da saúde mental em cheque. Alison passa por um novo período de internação. Ela enfrenta uma crise quando sua filha Joanie atinge a mesma idade que tinha seu filho ao morrer. Já Noah, ao sair da prisão, entra em uma espécie de vórtice no qual se sente perseguido o tempo todo pela figura de um policial abusivo vivido por Brendan Fraser, gordo e assustador, mas em seu melhor papel na carreira.
The Affair
E aí, novamente The Affair reacende a sua grande sacada: a reflexão sobre onde, afinal, reside a verdade dos fatos. Uma vez que estamos fatalmente presos dentro de nós mesmos. E assim condenados a ver o mundo por meio de nossos sempre limitados pontos de vista. Onde nenhum lado enxerga exatamente a mesma coisa que o outro. Isso nos entrega novidades no enredo a cada mini-arco. A meu ver, a verdade sempre se encontra no meio termo, entre a visão de um e de outro personagem que viveu aquele mesmo momento.
Entre os grandes momentos desta temporada, temos um dia novamente com Noah e Alison em uma cidade fantasma, lavando roupa suja. Ao mesmo tempo que um deles busca a impossível reconquista, e do outro lado, a lucidez das ideias traz o desfecho inevitável. Assim, com uma conclusão sobre o affair que muitos espectadores vão se identificar. Na visão crua e real dos sentimentos que nos tomam durante a vida, durante uma parte da vida. E também, de como uma coisa leva à outra, ainda mais quando questões mal resolvidas do passado refletem no presente com outras e turbulentas figurações. Sequências impecáveis.
Um pouco mais sobre a trama
Além do suspense bem executado nas partes de Noah, e do drama sempre aflitivo que os momentos cruelmente mundanos de Alison nos fornecem, Cole e Helen também continuam entregando momentos estupendos. E dessa forma todos fecham suas pontas soltas de maneira bastante convincente. Juliette é alocada na trama mais do que apenas como ferramenta narrativa, atuando como uma professora universitária com quem Noah terá uma aproximação marcada por tribulações. E cuja história só encontra alguma profundidade no último episódio. No mais, sinto que Luisa e Vic poderiam ter pontos de vista próprios, para desenvolverem melhor seus lados das histórias.
Praticamente todos os personagens tem seus momentos de redenção na terceira temporada. Seja de ex com ex, marido e mulher, casos e amigos, filhos e pais etc. Ninguém fica de fora, mostrando uma grandiosa habilidade dos roteiristas em resolver todas as situações e sair de cada história sem deixar uma porta aberta. Mesmo com o desfecho inconclusivo, fico com a impressão que a terceira temporada de The Affair foi um ótimo final de série. E que a trama não necessita de continuidade, ainda que ela venha. Estou mais do que satisfeito até aqui. Recomendadíssima.