Warcraft é um filme deslumbrante, mas bastante instável do começo ao fim

Com um primeiro ato sofrível, uma pífia trama nos joga de um lugar pro outro sem maiores explicações e sem se preocupar em apresentar os personagens. O erro primário do diretor Duncan Jones acontece em acreditar que somente jogares de WoW assistiriam seu filme (algo que não aconteceu inteiramente, já que foi um fracasso de bilheteria), esquecendo do grande público, em que deveria ter feito a lição de casa e se focado para desenvolver melhor o básico do worldbuilding.

O protagonista humano (Anduin Lothar), que é interpretado pelo limitado ator de Vikings (Travis Fimmel), em uma persona desleixada que fracassa em se identificar com o espectador, vai ganhando camadas conforme a história avança, ainda que não nos importemos com ele até o último minuto. Por outro lado, o protagonista orc (Durotan) está ótimo e com mais carisma que qualquer humana, nas performances de Tobby Kebbell. Paula Patton (Garona Meiorken) é um deslumbre, mas soa cafona o tempo todo. Ben Foster (Medivh) se esforça bastante em seu complexo papel e o restante do elenco apenas cumpre uma função teatral sem grandes surpresas.

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E ainda que os outros monstros da Horda (que só existem graças ao Hulk da Marvel e guardam muitas semelhanças de movimentação e CG com ele) variem um bocado em qualidade visual, a maior parte nos convencem em tela pelo menos. Outro detalhe que é curioso, não exatamente um defeito, é justamente o uso do CG para outras cenas, de outras criaturas, de cenário etc. O tempo todo é visível o quão artificiais são esses elementos, o que pode soar um pecado pro cinema atual, mas ao mesmo tempo o CG aqui evoca o dos games e talvez esse tenha sido o propósito desde o princípio. As sequências de batalhas são sensacionais e melhor do que elas, só as que envolvem o uso da magia — é realmente de encher os olhos!

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Deixando de lado o primeiro ato completamente perdido, a história melhora a partir do segundo ato até seu desfecho, dando destinos trágicos para personagens improváveis, enquanto outros plot-twists se constroem de maneira harmoniosa ao lado de clichês esperados, trazendo equilíbrio ao longa e é então que passamos a compreender o grande plano que Duncan Jones nos reserva. Claramente apaixonado pelos games de WoW, assim como Peter Jackson era com os livros de Tolkien, o jovem diretor é pretensioso e coloca cada contexto e personagem em seu lugar no tabuleiro, visando o futuro de uma trilogia que talvez nunca aconteça.

Lothar & Garona mainAs cores vivas e vibrantes contrastam de maneira estranha com a violência gráfica acima da média usada no filme, com decapitações, desmembramentos, perfurações, explosões de miolos, mortes horrendas (de humanos e orcs), natimortos, possessões e uma sorte de horrores primorosamente bem executados, que quase beiram a um filme de horror. Assim, eu não consegui enxergar a que público essa obra se direciona. Se por um lado, visual e tematicamente parece mirar nos jovens, por outro, o grafismo brutal visa somente os adultos.

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Não que eu não tenha gostado, pelo contrário. Ficando no meio-fio e desconhecendo completamente os jogos, consegui me entreter e melhor ainda: me surpreender com os momentos finais, entre um visual acachapante e outro, Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos também entrega uma narrativa criativa, que sim demora a se encontrar, mas quando se acha, revive o fôlego da fantasia para os novos tempos e merece uma chance de sessão.

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