O Herói Perdido, Rick Riordan
O Herói Perdido dá continuidade a primeira saga de Percy Jackson, agora numa nova série de 5 livros, que estão mais relacionados entre si do que antes. Rick Riordan, mais à vontade do que nunca nesse rico universo que criou, muda um pouco o estilo de escrita, saindo da voz de Percy em primeira pessoa, para uma narrativa com ponto de vista em terceira pessoa, que transita entre 3 novos semideuses pra lá de interessantes: Jason, um tipo de Bourne que chega na história sem memória e vai se desvendando aos poucos, com poderes elétricos e de voo; Piper, uma cherokee com muita lábia e beleza; e Leo, um construtor nato capaz de manipular o fogo. Ainda que Percy Jackson (que não aparece aqui) continue no topo com sua simpatia e bom humor, é interessantíssimo notar como Riordansabe conceber personagens cativantes e singulares que colaboram para o andamento da trama, mesmo que alguns coadjuvantes continuem relegados ao estereótipo de sempre.
De problema mesmo, o livro tem dois. Primeiro, que o excesso de mistérios cansa e beira ao absurdo. Esse é vício que o autor não consegue mais se desgarrar na fórmula que criou pros seus livros, por isso é difícil engolir personagens que sabem demais segurando informação relevante apenas para uma função de enredo (mas que não faz sentido na histório em si). O segundo problema é a má distribuição de algumas sequências, como as envolvendo Encédalo e depois Porfirion, ambas desinteressantes num mar de quests menores que ocorrem durante a missão dos semideuses.
Sim, o mistério maior (sobre quem é Jason e onde foi parar Percy) é importante e se sustenta até o ótimo desfecho abrupto, que fornece um gancho instigante para sua continuação. Mas os segredos envolvendo Gaia, Hera e a Casa do Lobo se mostram insuficientes e acabam cansando mais do que entretendo. E ainda que o background de Piper e Leo sirvam a história e fortaleçam os personagens na narrativa, muitas vezes o uso exagerado de seus passados acaba empacando a leitura. Mas nada, claro, que realmente atrapalhe o todo. Ainda temos aventuras escapistas divertidas de sempre, diálogos ágeis, sequências engraçadas e dramáticas em equilíbrio, e adolescentes falando como adolescentes.
Rick Riordan não voltou ainda em sua boa forma para O Herói Perdido, mas já conseguiu estabelecer um intrigante e interessante novo palco para futuras e temíveis novas aventuras, com um conceito revigorante pro gênero e promissor, fazendo bom uso de seu próprio universo de super-heróis.