Aniquilação – Uma surpresa agradável disponível agora no Netflix

Alex Garland é um criador velho de guerra e um dos nomes mais importantes da FC atual, tendo roteirizado filmes como Extermínio (2002) e Dredd (2012) e jogos como DmC: Devil May Cry (2013). O cineasta fez sua estreia como diretor com o excelente Ex Machina de 2014 (que eu resenhei aqui) e agora repete sua dose inventiva ao adaptar o famoso livro de mesmo nome de Jeff Vandermeer (publicado aqui no Brasil pela Editora Intrínseca).

A trama acompanha Lena, viúva, ex-militar e bióloga, que vê no misterioso retorno de seu marido Kane, após um ano dado como morto em missão para investigar a Área X, uma espécie de distorção que está se alastrando e pode representar uma ameaça à raça humana. Essa volta faz com que a garota se junte a outras pesquisadoras para investigar a natureza dos acontecimentos dentro do local misterioso.

Com uma narrativa não-linear e pouco confiável, temos uma inspirada Natalie Portman recontando os eventos da jornada para um grupo de médicos, sendo ela a única sobrevivente da expedição, que ainda intercala cenas antes da missão em sua rotina no casamento desgastado. Garland fornece um tom meio Discovery ao longa, com panorâmicas distantes e tomadas lentas para o espectador apreciar a paisagem prismada, ao mesmo tempo hiper-realista, por outro lado absurdista a sua maneira, criando interessantes paralelos com tumores e fungos, na fusão da natureza e do mal-estar inevitável que isso causa graficamente (a cena do urso na sala é espetacular, angustiante e aterrorizante).

Além de Oscar Isaac, mais perturbado do que nunca, o elenco brilhante ainda conta com outras quatro mulheres que empoderam o enredo sem panfletar, encontrando brechas no roteiro para justificá-las na ação: com Tessa Thompson (Thor: Ragnarok), Jennifer Jason Leigh (Twin Peaks), Gina Rodriguez (Jane the Virgin) e Tuva Novotny (Comer Rezar Amar) reagindo aos efeitos dessa realidade alienígena sobre a Terra, enfrentando bestas alteradas da nossa fauna e descobrindo as revelações da história junto ao público — este nunca subestimado pelo diretor, que confia em sua narrativa mosaica, mas clara, com um bizarríssimo clímax e um grandioso desfecho, colocando Aniquilação no mesmo patamar de O Enigma de Outro Mundo (1982) e A Chegada (2016).

Não só a FC está bem representada, como também o tão pouco explorado subgênero do horror cósmico, concebido por Robert W. Chambers (O Rei de Amarelo) e H.P. Lovecraft (O Chamado de Cthulhu), que encontram nesse filme uma amostra de qualidade de quão insignificantes nós, humanos, somos perante a imensidão do universo.

Aniquilação

Ficção científica se une ao horror cósmico para conceber um dos filmes mais impressionantes e criativos do ano.

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