PéPequeno, uma aventura de animação para todas as idades

Migo (voz de Channing Tatum, na versão original) é um yeti que acredita em todos os preceitos da sua espécie, que são contatos pelo chefe do vilarejo, Stonekeeper (voz original de Commom), até que um dia ele encontra com um humano, que os yetis chamam de Pépequeno e que eles acreditam ser uma lenda. Quando ele conta, no vilarejo, que a lenda é verdade, ele é banido e então, junto com Meechee (voz de Zendaya) ele resolve provar que o Pépequeno de fato existe. Na sua busca, ele esbarra em Percy (voz de James Corden), um apresentador que está disposto a fazer tudo para popularizar seus vídeos, inclusive expor o vilarejo de yetis.

Pépequeno lembra muito as animações dos anos 90, com um protagonista sonhador, que deseja provar algo para os seus pares. O filme também tem o clássico romance e uma coisa que faz tempo que não se usa: o desenho tem cenas musicais, com os personagens cantando. Claro que diferentemente dos filmes mais antigos, Pépequeno tem poucas músicas, talvez porque hoje em dia as crianças tem cada vez menos paciência para coisas que não tenham uma linguagem parecida com a da internet.

De qualquer maneira, as músicas são bem feitas e bem divertidas, e tem até uma versão de Under Pressure do Queen, cantada por Percy.

Outra moda que Pépequeno segue à risca é aquela de contar a história da visão dos vilões, que já apareceu em filmes como Malévola e no livro Maligna. No filme, nós acompanhamos a história do ponto de vista de um yeti, que normalmente é visto como um monstro. O que o filme mostra é que para os yetis, os monstros somos nós.

Quando Migo e Percy se encontram, a plateia tem a chance de assistir uma enorme comédia de erros, enquanto os dois tentam se entender. Eles não falam a mesma língua e tem hábitos completamente diferentes, o que causa momentos divertidíssimos.

Embora seja um filme infantil, Pépequeno trata de vários temas adultos, sendo um deles a confiança cega no governo ou nos superiores, já que o líder do vilarejo é o único a ditar regras, que raramente são questionadas pelos habitantes, e o filme faz uma critica sobre não pensar por si mesmo e apenas aceitar calado o que lhe é dado.

Stonekeeper, o chefe do vilarejo é o único que sabe a história de como o mundo surgiu e ele diz que ela está escrita em pedras, quase como se fizesse uma alusão à igreja católica e seus dogmas. Por sua vez, dentro do vilarejo existe um grupo que, em segredo, questiona se as histórias são verdadeiras, eles tem provas de que os humanos existem e de maneira bem leve, Pépequeno nos fala sobre o embate entre a fé e a ciência.

Mas o tema mais importante do filme é o medo do desconhecido, que gera o preconceito. Os yetis tem medo dos humanos, da mesma maneira que os humanos tem medo dos yetis, porque é natural que se tenha medo do que é diferente de você, ainda mais se essa sensação é inflada, com a ideia de que o diferente e o de fora, são necessariamente perigosos. Em uma época onde se discute a questão da imigração com tanta frequência, um filme que fala sobre preconceito contra pessoas que são de fora é muito relevante, mesmo que isso não esteja dito de maneira clara no longa. O fato do elenco de dubladores ser composto de atores como Gina Rodriguez, de ascendência porto-riquenha, Danny DeVito, de ascendência italiana e Yara Shahidi, de ascendência iraniana só reforça essa ideia.

Além de tudo isso, a animação é sim, muito divertida e colorida, se tornando assim, um prato cheio para as crianças. Recomendo ficar até o final na sala, porque tem duas cenas pós-créditos.

Pépequeno é uma animação capaz de entreter e também tocar em assuntos sérios e espinhosos. O filme já está em cartaz.