Across The Universe, um musical beatlemaníaco (2007)
Nos anos 60, Jude (Jim Sturgess) mora em Liverpool com a mãe solteira. A única coisa que ele sabe sobre o pai é que ele era um soldado americano que serviu na segunda guerra mundial. Então, munido dessas informações e de uma foto do pai, Jude viaja para os Estados Unidos. Lá ele conhece Max (Joe Anderson) de quem se torna amigo imediatamente. Mais tarde, Jude se apaixona pela irmã de Max, Lucy (Evan Rachel Wood).
Jude decide ficar nos Estados Unidos e ele e Max vão morar em Nova York, junto com diversas pessoas. Entre eles Sadie (Dana Fuchs), Jojo (Martin Luther McCoy) e Prudence (T.V. Carpio). Posteriormente, Lucy também se muda para lá e se envolve ativamente nos protestos contra a guerra do Vietnã.
Across the Universe – Um musical diferente
Across The Universe é um filme de 2007 conhecido como o musical dos Beatles, uma vez que todas as músicas da trilha sonora são dos Beatles. A diretora e roteirista, Julie Taymor também é responsável pela direção da versão musical de O Rei Leão e de Spider Man: Turn Off The Dark. No cinema, ela dirigiu Frida (2002) e A Tempestade (2010).
Existem duas formas de assistir Across The Universe. Se você não é fã de Beatles e nem conhece muito da história da banda, Across The Universe é um romance musical bonitinho. Mas para os Beatlemaníacos, o filme tem outros contornos.
Referências aos Beatles em Across the Universe
Todos os personagens do filme, dos protagonistas aos coadjuvantes, tem nomes que aparecem em músicas dos Beatles. Então Jude vem de Hey Jude; Lucy de Lucy in The Sky With Diamonds; Max de Maxwell’s Silver Hammer; Sadie de Sexy Sadie; Jojo é um dos personagens de Get Back; Prudence de Dear Prudence; a mãe de Jude, que aparece em poucas cenas, se chama Martha, de Martha My Dear; e até uma personagem que aparece só em uma cena tem o nome de Rita, de Lovely Rita.
Além disso, o filme faz diversas citações aos Beatles. Por exemplo, o fato de Jude ser de Liverpool e frequentar o Cavern Club, aonde os Beatles começaram a sua carreira; quando Max e Jude conhecem Sadie, ela diz “vocês parecem legais, mas poderiam ter matado sua avó com marteladas”, que é justamente um trecho da música Maxwell´s Silver Hammer; mais tarde, alguém comenta que Prudence entrou pela janela do banheiro, que é o titulo de outra música dos Beatles.
Quando Jude e Lucy vão à uma festa de um tal Dr. Robert (Bono Vox), eles tomam uma bebida que aparentemente está batizada com LSD. No entanto, Dr. Robert não só é o nome de uma música dos Beatles que fala sobre uma bebida especial. Também era o nome de um dentista que colocou LSD no café de John Lennon e George Harrison, durante um jantar; e a cena final do filme se passa em um show no telhado de um prédio. Exatamente o mesmo cenário do ultimo show dos Beatles, em 1969.
Onde está o quarteto?
As referências são inúmeras, mas nenhuma delas é direta e o nome “Beatles” não é dito em nenhum momento. Embora o filme se passe nos anos 60, basicamente a década em que a banda existiu, é como se os Beatles nem existissem no universo do filme. Apesar de uma banda muita parecida com eles aparecer de relance nas cenas do Cavern Club.
Isso torna o filme muito interessante para quem conhece a história e detalhes sobre a banda, uma vez que cada vez que o filme é assistido, é possível identificar uma referência nova. E claro, dá a entender que o filme foi muito bem pensado e escrito por uma pessoa que também gosta muito de Beatles.
Lennon e McCartney
Existe uma referência, no entanto, que quase passa despercebida, mas que dá o tom do filme. A relação de Jude e Lucy é uma metáfora para a relação musical de John Lennon e Paul McCartney. No sentido de que a parceria dos dois funcionava mais ou menos como um casamento.
Jude é um pintor romântico, que não quer nada mais do que passar seus dias com Lucy. Já Lucy é uma jovem idealista, completamente envolvida com as manifestações politicas da época. Se formos analisar as composições creditadas a McCartney (tanto as músicas de Lennon, quanto as de McCartney são creditadas como Lennon e McCartney, mas na maioria das vezes a música é de apenas um dos dois), elas são em suas maioria músicas que falam de amor e de relacionamentos. Já as músicas de Lennon falam de outros assuntos e algumas das músicas escritas depois de 66 falam de questões políticas. É importante lembrar que Lennon acabou tão envolvido com os protestos pacifistas referentes ao Vietnã que chegou a ter problemas com o governo americano.
As diferenças entre Jude e Lucy são idealísticas. As de Lennon e McCartney também eram, especialmente nos anos finais da banda, onde os dois pareciam ser o exato oposto um do outro.
Nesse sentido, Jude e Lucy representam um casamento repleto de cumplicidade, mas também com diferenças suficientes para causar uma ruptura, como aconteceu no caso de Lennon e McCartney. A análise faz mais sentido ainda, quando se pensa que o nome Jude deriva de Hey Jude, escrita por Paul McCartney e Lucy deriva de Lucy in The Sky With Diamonds, escrita por John Lennon.
Paul e Jim
Também é impossível não notar a semelhança física de Jim Sturgess, que interpreta Jude, com Paul McCartney. Ainda mais sabendo que Sturgess era um ator desconhecido na época e foi escolhido para o papel justamente em função dessa semelhança e porque seu timbre de voz é relativamente parecido com o de McCartney.
Across The Universe não se limita a fazer referências só aos Beatles. Os personagens coadjuvantes fazem referências a outros artistas. Sadie, por exemplo, é uma cantora que está embrenhada nas bebidas e nas drogas, e inclusive fisicamente, se parece com Janis Joplin. Já Jojo é um grande guitarrista, que lembra muito Jimi Hendrix.
Os anos 60
O musical se passa nos anos 60, sendo possível ver a progressão da década durante o filme. No começo, tudo parece mais inocente, e principalmente os figurinos lembram muito mais os anos 50 do que os anos 60.
Então mais tarde, quando os personagens já estão em Nova York, vemos roupas que beiram mais o movimento Hippie, que apareceu no final dos anos 60. Essa década é conhecida por ser repleta de movimentos revolucionários no mundo todo. E o filme também fala disso.
Sexo, drogas e rock ‘n roll
Across The Universe toca no ponto das drogas, que foram ligadas aos anos 60 e muitas vezes ao movimento hippie. Embora o filme fale de outras drogas, existe muito destaque para as drogas lisérgicas, que ficaram populares na década de 60. O filme também fala sobre a revolução sexual. Os personagens moram juntos e mantém relações sexuais, mesmo sem estarem casados, o que não era tão comum na geração anterior, mas passou a ser comum na década de 60.
Além disso, Prudence é aparentemente lésbica (ou pelo menos bissexual), uma vez que ela se apaixona por algumas garotas durante o filme. A homossexualidade certamente não era falada abertamente na época, embora ela tenha sido descriminalizada no Reino Unido nos anos 60. Mas é interessante que a diretora coloque isso no filme, uma vez que ele foi produzido nos dias de hoje.
A música que também é ligada a década de 60 com frequência também aparece bastante em Across The Universe, já que o filme não só faz citações aos Beatles, a banda mais popular da década, como também fala de outros músicos.
Ademais, o longa aborda uma das questão políticas dos anos 60, a guerra do Vietnã e os movimentos pacifistas que derivaram dela, vindo principalmente dos jovens. O primeiro namorado de Lucy, Daniel (Spencer Liff) morre na guerra logo no começo do filme. Logo depois, Max é convocado para a guerra e embora ele fale em queimar a convocação e em técnicas para escapar, ele acaba se apresentando e indo parar no Vietnã.
Isso leva Lucy a se tornar uma ferrenha opositora a guerra, a colocando em protestos e até se juntando a um grupo de guerrilheiros que é contra a guerra, o que posteriormente, a afasta de Jude, por questões idealísticas de cada um.
O filme questiona a barbaridade da guerra, que mata jovens com um enorme futuro pela frente, como Daniel. E que traumatiza outros para a vida, como Max, que não deseja participar da guerra, mas que não vê outra alternativa.
Aspectos técnicos
Across The Universe é um filme que parece ter se preocupado com os mínimos detalhes. O filme se passa na década de 60, e os figurinos não só são bonitos e realistas, como também conseguem transmitir as mudanças que aconteceram durante essa década tão turbulenta. O resto da direção de arte também segue esse estilo. As cenas que se passam em Liverpool, são mais escuras, talvez porque a Inglaterra seja conhecida como um país cinza. Já a parte que se passa na cidade natal de Lucy usa mais de tons pastéis, que retrata muito bem o subúrbio americano. Quando os personagens chegam a Nova York, o filme se torna extremamente colorido. Como se quisesse representar uma cidade que é cheia de arte e movimento.
O elenco é composto basicamente de jovens, que na época, não eram muito famosos. A exceção a isso é Evan Rachel Wood, que atua desde criança e que ficou famosa pelo filme Aos Treze (2003). Assim, Joe Anderson esteve em poucos filmes, tanto antes, quanto depois de Across The Universe, mas ele parece a escolha perfeita para Max, que é irreverente e divertido. Já Dana Fuchs e Martin Luther McCoy são mais conhecidos por sua carreira musical, e T. V. Carpio, que estreou neste filme, mais tarde, fez parte do elenco de Spider Man: Turn Off the Dark.
A grande revelação do elenco é Jim Sturgess, que junto com Evan Rachel Wood, carrega boa parte do filme nas costas. Além de ser parecido com Paul McCartney, ele também parece perfeito para interpretar um herói romântico e sonhador. Sturgess continuou sua carreira no cinema. Embora não tenha feito nenhum filme muito grande depois de Across The Universe e não esteve em mais nenhum musical.
A química entre o casal principal também é clara, o que ajuda muito o espectador a acreditar na trama e entrar de cabeça na história. A saber, o filme também tem algumas participações especiais como Bono Vox, Joe Cocker, Salma Hayek e Eddie Izzard.
As músicas
A trilha sonora de Across the Universe é composta só de músicas dos Beatles. Entre elas estão Girl; Hold Me Tight; All My Loving; With a Little Help From My Friends; I’ve Just Seen a Face; If i Fell; Something; Revolution; All You Need is Love e claro, Across The Universe, Hey Jude e Lucy In the Sky With Diamonds. Aliás, todas as músicas tem novas versões e são cantadas pelos atores.
Os números musicais, em sua maioria, não são grandes números. Eles acontecem em coisas do dia a dia. Como por exemplo, em Nova York, em pleno horário de pico e ou em um boliche.
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E quanto aos ex-Beatles, gostaram do resultado afinal? Pois Paul McCartney quando perguntado, respondeu: “O que tem para não gostar?”
Across The Universe é de fato um filme extremamente bem pensado e bem executado. Feito por fãs de Beatles para os fãs de Beatles, mas que certamente pode agradar todos os públicos.