Cafarnaum, onde um garoto busca justiça
Cafarnaum, de Nadine Labaki, foi selecionado para a short list de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2019 e foi indicado a Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro 2019. Cafarnaum também conquistou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2018 e o prêmio do Público de Melhor Ficção Internacional na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O filme conta a história de Zain, um menino de 12 anos que resolve processar seus pais por lhe dar a vida.
Zain é um menino de 12 anos que se comporta como adulto. Fuma com os amigos, trabalha muito e cuida dos irmãos menores (que são muitos). Cansado dessa situação e muito apegado à sua irmã Sahar, ele planeja uma fuga para os dois. Fugir dos pais abusivos. Porém, sua irmã (assim como muitas meninas mundo afora) foi “vendida” para um homem mais velho num casamento forçado. Isto é, foi trocada por umas galinhas.
Zain então vai morar nas ruas, mendigar, procurar trabalho e acaba conhecendo Rahil, a refugiada da Etiópia. A moça precisa esconder seu bebê no banheiro do trabalho para que ele não fique sozinho em casa. Zain é acolhido e incutido de cuidar de Yonas, o bebê. Mas tudo isso nos é mostrado como um flashback, pois Zain está preso e cumpre pena por um crime violento. O garoto, então, decide entrar nos tribunais com um processo contra seus pais, acusando-os do “crime” de lhe dar a vida.
A pobreza de Cafarnaum
Assim, presenciamos uma realidade social miserável (que no caso do Brasil, não é uma novidade). Cafarnaum vai além quando adiciona o tema da crise de refugiados na Ásia. Portanto, também integram o roteiro a violência, a justiça (ou a falta dela), a afinidade de Zain com aqueles que precisam de ajuda e o relacionamento entre pais e filhos. Neste universo cheio de desgraças, ainda vemos o tráfico de pessoas, o roubo, a infância que não é vivida, a fome… sem contar que “colocar os filhos na escola pra quê?”
Então, enquanto cumpre sua sentença de cinco anos por um crime violento, Zain processa seus pais por negligência. E com razão. Onde já se viu ficar colocando filho no mundo sem ter as condições adequadas para criá-los? Infelizmente, é a realidade em muitos países. Tudo que é mostrado no filme foi visto pela diretora em sua pesquisa de campo. Nadine foi sozinha a bairros desfavorecidos e prisões juvenis. Ou seja, ela não inventou nada disso.
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Há ainda o elemento do suspense. Como sabemos desde o começo que Zain está preso por um crime violento, todas suas atitudes são esperadas com uma pontinha de medo. “O que será que ele vai fazer?” O menino que estrela como Zain é na verdade um refugiado sírio. Igualmente, todos os atores de Cafarnaum são pessoas cuja vida real se assemelha à do filme. A diretora também participa, fazendo o papel da advogada de Zain.
Zain nunca foi registrado em cartório. Rahil fugiu de seu país pois trabalhava para um cafetão. A moça precisa pintar um sinal no rosto para se parecer com a foto de seu passaporte falsificado. Para a personagem da mãe de Zain, a diretora e roteirista se inspirou em uma mulher que conheceu, que tem 16 filhos e vive nas mesmas condições que os de Cafarnaum. Seis dos seus filhos morreram e outros estão em orfanatos por falta de cuidados. Para se ter uma ideia, há momentos em que a única alimentação disponível é açúcar e cubos de gelo.
Cafarnaum é um filme tocante e pesado, mas que merece ser visto por todos. Os DOIS únicos momentos em que Zain consegue sorrir, são de arrancar lágrimas. Assista ao trailer e se emocione. Estreia dia 17 de janeiro.
Cafarnaum
Um Comentário
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Muito legal, deu vontade de assistir desde o primeiro parágrafo! Pensei em parar de ler para não estragar a surpresa mas em nenhum momento o texto denúncia qualquer elemento revelador, ao invés disso nos alimenta com ainda mais curiosidade. Da hora!