A Balada de Adam Henry, de Ian McEwan
A religião e a justiça
Fiona Maye é uma prestigiada juíza da suprema corte que vive uma vida tranquila com seu marido, Jack. Um dia, ele propõe que os dois abram o casamento, uma vez que ele está, aparentemente, apaixonado por uma mulher de 28 anos.
Ao mesmo tempo, Fiona precisa decidir sobre um caso complexo: o jovem Adam Henry, prestes a completar 18 anos, tem leucemia e precisa fazer uma transfusão de sangue, mas os pais do adolescente são Testemunhas de Jeová e o tratamento vai contra a religião. Adam também não deseja fazer a transfusão, mas como ainda é menor de idade, cabe ao estado resolver o impasse.
Enquanto sua vida pessoal colapsa, Fiona entra na vida de Adam para tentar entender qual é a posição dele e de sua família e decidir o que deve fazer.
Fiona
A Balada de Adam Henry é escrito em terceira pessoa, mas o narrador mergulha nos pensamentos de Fiona e, por isso, o leitor sabe tudo que a protagonista está pensando. E Fiona, de fato, é o centro da trama.
Ela é uma juíza da suprema corte de muito sucesso, especializada em direito de família e que geralmente decide questões que dizem respeito a divórcios e guardas de crianças, mas que ainda tem muito poder na mão.
O livro então acompanha um pouco de sua vida pessoal, quando retrata seu casamento, aparentemente, tranquilo, e a crise apontada pelo seu marido, que Fiona não via. Jack, o marido de Fiona, argumenta que a convivência fez com que eles virassem quase irmãos e que ele deseja ter mais uma aventura com uma moça de 28 anos, então ele quer abrir o casamento, mas Fiona não aceita, e Jack sai de casa.
Fiona começa a se ressentir do casamento e do fato de não ter filhos, quando o caso de Adam aparece na sua vida.
Adam
Se Fiona é a protagonista de A Balada de Adam Henry, Adam é, definitivamente, a motivação da trama. Ele tem 17 anos e, junto com seus pais, é Testemunha de Jeová. O garoto também sofre de leucemia e precisa de uma transfusão de sangue.
Adam e seus pais não querem aceitar a transfusão de sangue, pois a religião deles não permite, e Adam vai fazer 18 anos em três meses, mas a questão precisa ser resolvida urgentemente, o que obriga o estado a decidir o impasse e o caso cai nas mãos de Fiona.
Para decidir, Fiona resolve falar com o próprio Adam, que está internado. Ela acredita em ouvir todos os lados e que um adolescente de 17 anos, prestes a fazer 18, embora não possa responder na lei, pode ser responsável pelo seu próprio destino.
O interessante de A Balada de Adam Henry é justamente essa mistura de assuntos. Ao mesmo tempo que Fiona vê a decisão dos pais e de Adam como irracional, já que sem a transfusão Adam muito possivelmente vai morrer, ela ainda assim, resolve ouvir o lado dele. O livro questiona, por exemplo, se a religião deve ficar acima da lei e, em muitos aspectos, se a lei deve ficar acima da crença, e se pergunta por que um adolescente de 18 anos pode decidir seu futuro e um de 17 e nove meses não pode, ou se, qualquer um dos dois, de fato pode.
Envolvimento
Mas A Balada de Adam Henry se torna ainda mais interessante quando o relacionamento de Fiona e Adam vira pessoal. O fato de Fiona ir até o hospital para conversar com Adam e entender o que ele quer já é incomum, mas Fiona é uma mulher muito justa – Fiona, inclusive, significa “justa” -, que acredita que o rapaz tem direito a palpitar na sua própria vida. Mas também é a partir desse momento que a vida dos dois se toca e que a relação deixa de ser de trabalho para Fiona e de justiça para Adam.
Adam é um garoto muito simpático, charmoso e talentoso e o tempo que Fiona passa com ele, acaba sendo prazeroso tanto para ela, quanto para ele. Fiona, que se ressentia por não ter tido filhos, começa a ver Adam de uma maneira quase maternal e Adam passa a confiar na juíza.
Mas o rapaz mistura as coisas e começa a se sentir atraído por Fiona. Fiona, que acabou de “terminar” seu casamento, vê a atenção de Adam como lisonjeira e as relações se complicam ainda mais. O que era para ser um trabalho para Fiona se torna uma amizade e vai ficando cada vez mais complexo e, em muitos aspectos, impedindo que ela exerça seu trabalho da maneira correta.
A Balada de Adam Henry na mídia
O livro é recente e só teve uma adaptação para o cinema por enquanto, o filme Um Ato de Esperança, de 2017, estrelado por Emma Thompson, Fionn Whitehead e Stanley Tucci.
O longa é bem fiel ao livro e provavelmente vai agradar quem gostou da obra original.
A Balada de Adam Henry usa de uma situação incomum para falar de questões que estão próximas da vida real. O livro fala sobre religião, fé e depressão, e analisa o quanto de nossas crenças, religiosas ou não, formam quem nós realmente somos.