A Baleia – mais uma opinião

Brendan Fraser impressiona em um drama telegrafado e autoindulgente

A Baleia, adaptação da peça escrita por Samuel D. Hunter, narra os últimos dias de Charlie, um professor que dá aulas online, já que não consegue se locomover bem por conta de seus 270 kg. Sua saúde está cada vez mais debilitada, causando preocupações nos amigos e familiares ao redor. Triste após perder o parceiro, o maior arrependimento de Charlie foi ter abandonado a filha ainda na infância. Então, ele decide tentar se aproximar da jovem rebelde pelos dias que lhe restam, uma tarefa que não será nada fácil.

O astro da trilogia A Múmia (que eu particularmente idolatro), passou por dificuldades e alterações de peso nos últimos anos, quando Brendan Fraser também revelou os abusos que sofreu em Hollywood no começo de carreira. Esses elementos de bastidores parecem ressoar no protagonista que ele interpreta aqui com tanto empenho, talvez no melhor papel de sua vida. Hong Chau e Samantha Morton também elevam o nível da produção, com atuações fortes. Por outro lado, os estereótipos estridentes entregues por Sadie Sink (que está muito melhor em Stranger Things 4 do que aqui) e Ty Simpkins, parecem fazer gol contra o tempo inteiro.

A Baleia – mais uma opinião

Darren Aronofsky não chega nem perto de seus melhores filmes, ainda que emule os efeitos estranhos e sombrios já vistos nos ótimos Cisne Negro e Mãe!, enquadrando a produção em um aspect ratio quadrado, com fotografia granulada, flashes de luz em alto contraste, desconforto psicológico traduzido no corpo, em um gesto desesperado por tornar esse filme em algo mais artístico, visando a Academia para abocanhar um Oscar a todo custo.

O texto de Samuel D. Hunter, também autor da peça original, não contribui em alguns diálogos (funciona com o protagonista e sua amiga, mas não com os demais, em especial os jovens insuportáveis e seus dramalhões vazios). O diretor, ao querer emular pedaços da peça nas telonas, cria um efeito estranho, que soa bobo ou incompleto, como nas inúmeras repetições onde um personagem abre a porta da casa (e como isso vem seguido de um efeito de impacto, mas com um impacto que não diz nada, porque não se tem nada a dizer com o entra e sai naquele ambiente).

O texto ainda pode levantar polêmicas sobre gordofobia, já que mesmo empenhado, Fraser exagera muitas vezes na sua maneira de comer ou gesticular. Mas o roteiro quer mesmo é mirar na relação pai-filha, algo que, se comparado a outra produção recente, Aftersun (incluindo aqui seus desfechos visualmente poéticos), deixa A Baleia muito aquém. Como exercício de desenvolvimento de personagem em uma condição de redenção, a obra se eleva, mas não vai muito além de uma grande atuação.

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