A Casa Que Jack Construiu, novo filme de Lars von Trier

A Casa Que Jack Construiu se passa nos anos 70, nos Estados Unidos. Seguimos o altamente inteligente Jack (Matt Dillon) através de cinco incidentes. Somos apresentados aos assassinatos que definem seu desenvolvimento como um serial killer. Vemos a história do ponto de vista de Jack. Ele vê cada assassinato como uma obra de arte, mesmo com sua condição lhe causando problemas no mundo externo.

Embora o fato de que no final é inevitável que a polícia intervenha, Jack está, ao contrário de toda a lógica, determinado a ir mais e mais longe. Durante o caminho experimentamos as sensações de sua condição pessoal, problemas e pensamentos através de recorrentes conversas com o desconhecido Virgílio (Bruno Ganz). Uma grotesca mistura de argumentos enganadores combinados com uma auto comiseração infantil e explicações profundas de perigosas e difíceis manobras.

Matt Dillon é Jack
Matt Dillon é Jack

A Casa Que Jack Construiu

Um dia, durante um imprevisto na estrada, o engenheiro Jack mata uma mulher. Este evento provoca um prazer inesperado no personagem, que passa a assassinar dezenas de pessoas ao longo de doze anos. Devido ao descaso das autoridades e à indiferença dos habitantes locais, o criminoso não encontra dificuldade em planejar seus crimes, executá-los ao olhar de todos e guardar os cadáveres num grande frigorífico.

Tempos mais tarde, ele compartilha os seus casos mais marcantes com o sábio Virgílio numa jornada rumo ao inferno. Bruno Ganz quase não aparece, mas suas palavras são fundamentais para o desenvolvimento da narrativa. Mas não só de assassinatos vive Jack. Ele realmente está construindo uma casa. Somente não encontrou o material ideal para sua obra. Jack é engenheiro, mas queria ser arquiteto.

Uma Thurman é sua primeira vítima
Uma Thurman é sua primeira vítima

Os Incidentes

Uma Thurman está bizarra no papel de uma mulher que fura o pneu na estrada. O macaco (jack em inglês) está quebrado e ela resolve pedir ajuda. Jack é quem passa e tenta ajudar, mas no fim é convencido a levar a mulher chata ao soldador para que ele arrume a ferramenta. No caminho de ida e volta, a mulher é uma matraca. Seu discurso repetitivo se refere a Jack se parecer com um serial killer. Quase como Hitchcock faria, o macaco é filmado insistentemente pela câmera, o que nos encaminha ao assassinato da senhora insuportável. E estúpida. Mas ok, entendemos que deve ser difícil não flertar com Matt Dillon.

A segunda vítima de Jack (Siobhan Fallon Hogan) é uma senhora que reluta bastante, mas acaba abrindo a porta para nosso protagonista. Ele se finge de policial, tem um discurso confuso, mas afinal convence a mulher de que é um corretor que poderá dobrar o valor de sua pensão. Quem não quer ganhar o dobro, não é mesmo? E morreu.

Jack coleciona seus mortos
Jack coleciona seus mortos

Jack segue apaticamente contando seus mais brutais crimes. Uma mãe e seus dois filhos. Uma namorada idiota. Homens, mulheres, animais. E todos os corpos são levados por ele. Um assassino com TOC. Não satisfeito, Jack também fotografa suas “obras” e assim como Zodíaco, envia as fotos para o jornal se intitulando Sr. Sofisticação. Além disso, Jack também gosta de trabalhar os corpos antes de atingirem o rigor mortis, fazendo assim, verdadeiras esculturas macabras.

Por muitos anos eu fiz filmes sobre boas mulheres, agora fiz um sobre um homem mau. A Casa Que Jack Construiu celebra a ideia de que a vida é má e sem alma, o que é tristemente provado pela recente ascensão do “Homo trumpus” – o rei dos ratos.

          Lars von Trier

E no meio de tanta violência…

Há também beleza! Lars von Trier consegue trazer mesmo com todo o sangue e carnificina, muita arte e ensinamentos filosóficos. Há momentos de animação em stop motion; trechos de desenhos animados; lições sobre a produção de vinho através de geadas; verdadeiras aulas de história da arte. E como não poderia deixar de fazer, o diretor também coloca trechos de seus próprios filmes como Ninfomaníaca, Anticristo e Melancolia.

Pra quem gosta de Lars von Trier, o filme é uma delícia. Pode despertar raiva, nojo, desgosto, mas mesmo assim é um prato cheio. A trilha sonora não decepciona. “Fame” de David Bowie é tocada em vários momentos, dando um clima de total insensatez. Há também cenas em que Matt Dillon mostra cartazes com palavras chaves de seus discursos, como aquele clipe de Bob Dylan, para a música “Subterranean Homesick Blues”.

Homenagem a Bob Dylan
Homenagem a Bob Dylan

Apesar da reação do público em relação a uma cena envolvendo a mutilação de um patinho quando Jack era criança, a PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) defendeu o filme em uma declaração elogiando seu retrato preciso do vínculo entre abuso de animais e psicopatia e os efeitos especiais realistas.

Quando foi exibido em Cannes, mais de 100 espectadores saíram da sala condenando o filme por sua violência chocante e extrema. Além de seu tom niilista. Mas aqueles que ficaram até o fim da sessão aplaudiram por seis minutos inteiros. Confesso que saí animada, mas um tanto se deveu à música que toca nos créditos… que eu não vou revelar, hehehe.

A Casa Que Jack Construiu é uma história sombria e sinistra, mas é apresentada através de um conto filosófico com toques de humor.

A Casa Que Jack Construiu

Nome original: The House That Jack Built

Elenco: Matt Dillon, Bruno Ganz, Uma Thurman, Siobhan Fallon Hogan, Sofie Gråbøl, Riley Keough

Direção: Lars von Trier

Gênero: Crime, Drama, Horror, Thriller

Produtora: Zentropa Entertainments

Distribuição: California Filmes

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