A Divina Comédia dos Mutantes, de Carlos Calado
Uma biografia completa
Depois de uma pesquisa de dois anos, Carlos Calado escreve uma biografia completa sobre Os Mutantes, que aborda a vida de seus integrantes antes da formação da banda, o início de tudo em 1966 e as brigas que levaram ao final do conjunto. O livro narra ainda o que aconteceu depois do término de Os Mutantes.
A banda
O livro de Calado se divide, embora não explicitamente, entre a carreira da banda e a vida pessoal dos integrantes mas, muitas vezes, esses dois aspectos se unem. O livro é muito detalhado quando descreve a história de Os Mutantes.
A obra começa, inclusive, em 1981, depois que Arnaldo Baptista pulou da janela de um hospital em São Paulo, onde estava internado, e então parte para o começo da banda. O livro é bem meticuloso ao falar sobre a vida dos três integrantes antes deles sequer se conhecerem e aborda suas vivências musicais mesmo desde a infância.
A Divina Comédia dos Mutantes então, acompanha a adolescência de seus integrantes, quando eles formam a banda e segue a carreira toda deles, dando especial destaque aos festivais dos anos 1960, que foram responsáveis por impulsionar a banda.
A pesquisa de Calado fica clara durante a leitura do livro, uma vez que ele traz muitas informações e muitos detalhes que são pouco difundidos e A Divina Comédia dos Mutantes é uma ótima pedida para os fãs, que talvez não saibam muito sobre detalhes específicos, que aqui são explanados, como a carreira no Brasil, a carreira internacional, as gravações e os discos.
As vidas pessoais
No entanto, como acontece em todas as bandas, a vida pessoal de seus integrantes é importante e muitas vezes influencia no destino da música e isso toma rumos ainda maiores no caso dOs Mutantes, já que Arnaldo Baptista e Rita Lee foram namorados e, inclusive, se casaram, enquanto estavam na banda.
A Divina Comédia dos Mutantes também entra nessas questões, como não podia deixar de ser. Aqui Calado se debruça sobre a vida de Arnaldo, Rita e Sergio Dias, contando detalhes sobre as relações entre os três, as brigas, a amizade, os romances e sobre as relações deles com familiares – Arnaldo e Sergio são irmãos -, amigos e pessoas que não fazem parte da banda.
A relação de Arnaldo e Rita é uma questão bem relevante inclusive dentro da banda, já que é a partir do momento que o relacionamento dos dois começa a degringolar, que o mesmo acontece com o grupo. Calado dá detalhes sobre os começos e términos de Arnaldo e Rita, que coincidem com o início e o fim da banda e, nesses momentos, como o autor escreve de maneira literária, inclusive com os supostos diálogos, parece que estamos lendo uma ficção.
A Divina Comédia dos Mutantes é bem completo nesse sentido. A biografia explora tanto a carreira quanto as vidas pessoais de seus integrantes.
A importância de A Divina Comédia dos Mutantes
Como toda biografia, esta é importante porque retrata a vida de pessoas que realizaram grandes feitos. Nesse caso específico, o livro fala sobre uma das bandas mais importantes do Brasil, reconhecida internacionalmente, e que não recebe o devido crédito dentro do país. Atualmente, poucas pessoas conhecem Os Mutantes e mesmo quem conhece, sabe pouca coisa.
Rita Lee, uma das integrantes da banda, é muito famosa e considerada a rainha do rock nacional, mas nem todo mundo sabe sobre o começo da sua carreira ou sobre a vida dos outros dois integrantes, Arnaldo Baptista e Sergio Dias.
Para além disso, A Divina Comédia dos Mutantes fala sobre a música brasileira nos anos 1960. Aqui não conhecemos só a história dOs Mutantes, mas também de outros músicos nacionais tão importantes quanto a banda, que cruzaram o caminho deles, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Elis Regina e Ronnie Von.
Justamente por retratar essa época, o livro também é um relato da ditadura militar no Brasil e, mais ainda, de como era a cultura e a arte nesse tempo de censura. Os Mutantes não tiveram problemas diretos com o governo, mas viveram o período e fizeram suas próprias manifestações – como na capa do disco A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado, que mostra os três integrantes da banda na cama, e um soldado de pé, tomando chá – e tiveram amigos e conhecidos que foram perseguidos e até exilados.
A Divina Comédia dos Mutantes não é só uma leitura rápida e divertida, como também retrata um período importante e fértil da música nacional e é um livro com muita informação, com potencial para agradar aos fãs da banda, aos fãs de música e também qualquer pessoa que se interesse pelo período retratado.