A Família Addams, terrivelmente divertido!
Depois do sucesso da série de TV sessentista e dos dois filmes dos anos 90, a família mais querida e esquisita retorna em uma animação repleta de personalidade, bizarrice e humor. Dessa vez pelas mãos de Conrad Vernon e Greg Tiernan (dois animadores de mão cheia). Eles resgatam as inventivas tiras de Charles Addams da década 30 (inclusive no estilo visual). Este sempre se apoiou em um humor mórbido e trocadilhos irreverentes relacionados às normas comuns da sociedade.
Introduzida pela primeira vez com uma rápida história de origem, a trama mostra o casamento de Gomez (dublado na versão original por Oscar Isaac) e Mortícia (Charlize Theron). Em seguida, sua rápida fuga após aldeões amedrontados decidirem expulsá-los da cidade onde vivem. Dessa forma, o momento serve apenas para (re)apresentar alguns personagens, como Vovó Addams (Bette Midler), Tio Chico (Nick Kroll) e o mordomo Tropeço (Vernon, que além de co-dirigir o filme, também dá voz ao espírito da casa). Interessante, inclusive, a revelação de que a mansão dos Addams foi levantada em um hospício abandonado.
A Família Addams
Para os antigos fãs, a história chega com um sabor requentado (porém, funcional e respeitoso às bases). Entretanto, ainda pode funcionar melhor com um novo público, ao destacar as crianças da família em suas próprias subtramas, bem equilibradas em 86 minutos.
Wandinha (Chloë Grace Moretz), quer explorar a nova cidade construída no lugar do pântano da região. Ali ela acaba se envolvendo com o ensino fundamental, o rosa fru-fru e a rebeldia adolescente à sua maneira. Feioso (Finn Wolfhard), por outro lado, precisa passar por uma espécie de bar-mitzvah para ser considerado membro de sua família. Enquanto isso, outros eventos menores (como o da vilã Margô, uma design de interiores com poder midiático e com ecos de fake news bastante contemporâneos; ou do cotidiano da família estranha) são espalhados aqui e ali.
No entanto, o roteiro nunca se aprofunda para valer em nada do que propõe, deixando apenas promessas vazias no ar (como a curiosidade de Wandinha, que morre ao vento, ou até sua suposta amizade com a garota, que nunca chega a lugar nenhum; ou os planos da vilã, que só tem destaque no primeiro e terceiro ato, perdendo a força à medida que aparece mais vezes) e resoluções mornas.
Sendo assim, divirta-se
Claro, sendo um longa animado voltado para o público infanto-juvenil, algumas passagens podem não exigir tanto desenvolvimento, mas produções como Zootopia e Coraline provaram que dá para se dizer muito mesmo que em piso de vidro, sem que afete a classificação etária. Portanto, com exceção de alguns olhares sinistros e dos vários trocadilhos de Gomez, nenhum outro caminho do enredo ousa tanto, abrindo inúmeras brechas narrativas a serem exploradas, ficando bastante pelo meio do caminho e deixando muito um gosto de quero mais.
Mas num oceano de animações mainstream com a mesma cara, A Família Addams vem renovar o cenário. Assim, mesmo com a parte técnica inferior aos seus pares, a obra ganha com o seu maior trunfo: o humor mórbido e cínico, que chega sempre na hora certa e quase faz com que se releve os pequenos problemas. Tudo embalado por uma trilha sonora inspirada, com aquela música-tema tão marcante, aqui explorada das mais diversas maneiras. E não importa sua idade, antes dos créditos subirem, você terá rido o suficiente para um dia inteiro.