A Festa, uma comédia de trágicas proporções
Para celebrar seu tão aguardado e prestigioso cargo em um ministério, e, esperançosamente, um trampolim para a liderança do partido, a recém-nomeada política da oposição britânica, Janet, está dando uma festa para os amigos em seu apartamento em Londres. É claro que, neste seleto e íntimo soirée, além do marido acadêmico abnegado de Janet, Bill, um grupo heterogêneo de amigos, escolhidos a dedo, foi convidado: há April, a melhor amiga americana e amargamente cínica; seu improvável marido alemão, Gottfried; há também Jinny e Martha; e, finalmente, Tom, o banqueiro tranquilo em seu terno impecável. Inevitavelmente, antes que o jantar seja servido, o ambiente otimista se despedaçará, já que os segredos obscuros começam a ser revelados nesta superfície hostil. Sem dúvida, depois desta noite, as coisas nunca mais serão as mesmas.
A Festa é um filme simples, uma comédia de tragédias, em que uma reunião entre amigos que era para ser uma comemoração, acaba se tornando o caos.
Janet quer comemorar seu novo cargo na política, mas vive trocando mensagens com uma pessoa misteriosa; seu marido Bill parece a depressão em pessoa, colocando discos de gosto duvidoso na vitrola e bebendo sem parar. Entre os convidados temos a melhor amiga de Janet, April, que está ali para enaltecer a grande amiga e humilhar o marido hippie, Gottfried. Ainda conhecemos o casal Martha e Jinny, que acaba de descobrir que trigêmeos estão à caminho. Para completar a festa em crise, temos Tom, um jovem banqueiro que se tranca no banheiro para não deixar transparecer seu nervosismo e uso de drogas.
A festa
O que está havendo com Tom? Com quem Janet não para de trocar mensagens suspeitas? Por que Bill está tão deprimido?
Entendemos que Janet (Kristin Scott Thomas) acaba de ser promovida e está feliz, mas esconde algo. Bill (Timothy Spall) é um acadêmico que desistiu de algumas oportunidades na vida para dar suporte à esposa. Ou seja, temos aí o cenário de um casamento com decepções, frustrações e mentiras.
Com os outros cinco convidados (e um ausente significativo – Marianne, esposa de Tom) a “festa” se transforma em uma sequência de revelações, uma comédia envolvida em elementos trágicos.
April (Patricia Clarkson) é uma personagem que quase nunca sorri, mas que ao caçoar de seu marido Gottfried, é quem arranca mais risadas do público. O casal lésbico (Cherry Jones e Emily Mortimer) é um tanto estereotipado e se encontra em crise por conta dos bebês; Tom (Cillian Murphy) carrega uma arma e drogas escondidas; já Gottfried (Bruno Ganz) é quase um guru espiritual que apesar de alemão, afirma que não é um nazista (referência clara ao filme A Queda (2004) em que Bruno interpretou nada mais, nada menos do que o próprio Hitler).
“O longa foi concebido como um filme “básico”, transformando o confinamento do lugar (e as restrições do tempo real) em uma virtude”, diz a diretora Sally Potter. “É uma crise que se desenvolve à medida que cada um começa a dizer a verdade.”
Uma celebração ou um confronto?
A Festa é uma história sobre pessoas e relacionamentos, sobre política e ideologia. Um filme inteiro em forma de confronto, a começar pela cena de abertura, onde Janet atende à campainha com uma arma na mão. A história se desenrolará não a partir desta cena inicial, e sim para que nós possamos chegar a ela. Sendo contada em tempo real e em preto e branco, a dinâmica do filme me lembrou Carnage – Deus da Carnificina, longa onde os personagens se reúnem amigavelmente para discutir uma briga dos filhos, mas que acaba se tornando uma briga entre os pais.
De acordo com a produção, “O preto e branco ajuda porque facilita a concentração na ação e no estado dos atores e de seus rostos.” O que poucas horas na vida de algumas pessoas podem nos dizer sobre poder, amor, desejo, traição, saudade, desapontamento e experiências humanas universais. A Festa consegue nos entreter, fazer rir e também pensar, com essa montanha-russa de revelações e momentos cômicos.