A Lenda de Candyman – O que está por trás
O filme conta a história de Anthony (Yahya Abdul-Mateen III), um artista plástico negro em bloqueio criativo que encontra inspiração para sua produção em uma fonte inusitada. Sob pressão da crítica para encontrar nova vitalidade para suas obras, Anthony desenvolve uma obsessão pela lenda de Candyman, uma entidade que ao ser chamada 5 vezes diante de um espelho, aparece para clamar a vida de seu invocador.
A história se desenvolve num bairro chamado Cabrini Green, na periferia da cidade de Chicago. Brianna (Teyona Parris), namorada de Anthony, possui uma galeria de arte, através da qual promove o trabalho de Anthony dentre outros artistas, garantindo a eles uma vida confortável.
Fica claro que o bairro está atravessando um processo conhecido atualmente como gentrificação (a perda de características e personalidade originais de uma comunidade predominantemente negra e de baixa renda, favorecendo sua remodelação em edificações de luxo, povoada pela opulência e uma população predominantemente branca).
A Lenda de Candyman
A crítica, também composta predominantemente por pessoas brancas, pressiona Anthony para que se reinvente; ele presume que conhecer mais sobre o que ocorreu na história de Cabrini Green pode ser benéfico para sua produção, e é nesse contexto que ele se encontra com William (Colman Domingo), dono de uma lavanderia na parte pobre do gueto.
Através dele, Anthony descobre a lenda de Candyman e é tomado por um grande vigor artístico. Dá início a uma série de obras certamente diferentes de tudo o que ele já havia feito. À medida que produz novas obras sob a fulgurante luz de sua obsessão, Anthony despercebidamente e vagarosamente desperta uma cadeia de eventos tenebrosos que ele nem imagina.
Dessa forma, o ponto crucial do filme não está na violência, no sangue ou nas vítimas – a menos que estejamos falando da violência estrutural da comunidade negra. Em meio ao mundo pós Black Lives Matter, em pleno 2021, não poderia ser feito um filme de Candyman que não tangencie todos os assuntos pertencentes a este debate: a gentrificação, o racismo ambiental, o racismo estrutural, a violência policial, a dor e a ira de gerações acumulados na figura de um vingador distorcido.
Apesar de ser um filme violento, A Lenda de Candyman não é necessariamente um filme de terror. Normalmente, espera-se desse gênero horrores que superam a realidade. E nada do que é vivenciado pelos personagens principais é mais horrorizante do que suas experiências como uma minoria oprimida. Nesse ponto, o filme, é comparável à série Lovecraft Country enquanto comentário sobre a temática sócio racial.