A Luz do Demônio
O exorcismo do ponto de vista feminino
A irmã Ann (Jacqueline Byers) quer ser exorcista, mas a igreja católica não permite que mulheres façam o ritual, as freiras atuam apenas como enfermeiras. O professor, padre Quinn (Colin Salmon), no entanto, acha que Ann tem um talento natural e a aceita em sua turma.
Quando Natalie (Posy Taylor), uma menina de dez anos, chega à instituição com a suspeita de estar possuída, Ann passa a ter certeza de que o que quer que esteja dominando a menina, também dominou a mãe (Koyna Ruseva) de Ann.
Uma mulher exorcista
O filme de exorcismo já é um subgênero relativamente estabelecido dentro do terror, e tem O Exorcista como sua maior expressão. Justamente em função da fama do filme de 1973, que virou referência, é quase impossível assistir a um filme sobre o assunto completamente livre de noções pré-concebidas ou sem fazer a óbvia comparação.
No entanto, A Luz do Demônio tem uma proposta diferente, o longa já começa nos informando que os relatos de possessão aumentaram em 2018 e que a igreja católica não permite que mulheres façam o curso de exorcista e nem que exerçam essa profissão. As freiras atuam apenas como enfermeiras diante de casos assim. Ao mesmo tempo, a protagonista é Ann, uma freira que se interessa pelo assunto e que deseja ser exorcista.
Nesse sentido, A Luz do Demônio parece uma tentativa de dar, pela primeira vez, uma perspectiva feminina a esse subgênero, já que em função das regras da própria igreja, um filme com uma exorcista mulher não seria muito realista. Mais do que isso, o longa tenta até emplacar uma visão mais feminista do tema, tendo não só uma protagonista mulher que mais tarde se torna a única mulher a estudar para se tornar exorcista, como outras figuras femininas importantes, a psiquiatra, Dr. Peters (Virginia Madsen), que analisa os casos antes que eles sejam oficialmente considerados possessões demoníacas e a própria possuída, Natalie.
A tentativa é tímida, ainda que Ann tenha alguns discursos relativamente empoderados, mas em um subgênero onde normalmente o que vemos é invariavelmente vários homens – os exorcistas – tentando domar e ter controle sobre um corpo feminino – a possuída, que na maioria dos filmes é uma mulher ou uma menina – A Luz do Demônio não deixa de ser um avanço.
A trama
A trama de A Luz do Demônio, por outro lado, peca em alguns momentos. O filme começa de maneira bem interessante e se constrói bem como um filme de terror: Ann é uma jovem freira que deseja ser exorcista, e seu desejo vem de um trauma do passado, que é revelado logo no início, Ann acredita que sua mãe, que a maltratava e era abusiva, também estava possuída. Quando ela consegue frequentar as aulas de exorcismo, ela fica sabendo de Natalie, uma menina de dez anos, que está possuída.
Ann sente uma ligação imediata com Natalie e passa a acreditar que o mesmo demônio que possuiu sua mãe, agora possui a garota, e que por isso, Ann é a melhor opção para realizar o exorcismo dela.
A Luz do Demônio segue nesse ritmo por bastante tempo e aposta bastante nos jump scares, existe um mistério que prende a atenção, mas o plot twist é tão atrapalhado que estraga o resultado final do longa.
O filme não é um terror genérico, porque pelo menos tenta inovar em algumas questões, mas ele tem reviravoltas que rebaixam o roteiro um pouco e que poderiam ser mais bem trabalhadas.
Aspectos técnicos de A Luz do Demônio
O roteiro não é especialmente criativo, o que o diferencia de outros filmes é justamente sua protagonista e a boa sacada de finalmente colocar uma mulher como exorcista. Essa ideia traz à tona algumas discussões, que não são muito exploradas, mas que pelo menos, vem à luz, como por exemplo, o machismo dentro da estrutura da igreja católica, já que assim como mulheres não podem ser padres, elas também não podem ser exorcistas.
Por outro lado, o filme funciona como um filme de terror, tem sustos, tem suspense e tem cenas que assustam. Funciona mais ainda como um filme de exorcismo, e os efeitos especiais aqui ajudam bastante a história, as cenas de Natalie possuída, por exemplo, são bem assustadoras, e ainda que não impressionem tanto quanto as de “O Exorcista” – porque mais uma vez, é muito difícil superar o filme referência do subgênero – elas impressionam.
É notável também o cuidado com a parte técnica, o filme todo se passa dentro da instituição onde a protagonista estuda e onde também ficam os possuídos, o lugar é sinistro, escuro e cheio de corredores que deixam o telespectador com a eterna sensação de que algo terrível vai aparecer quando se menos espera. Os figurinos se dedicam a ressaltar a rebeldia de Ann, seu hábito é mais claro do que as roupas dos outros personagens, deixando-a sempre em destaque e tornando possível notá-la em qualquer cena. Ann também mantém sempre duas pequenas mechas de cabelo para fora da touca, que representam a sua não conformação com a situação das freiras.
Jacqueline Byers, que interpreta Ann, se sai muito bem, ela é muito carismática e é muito fácil simpatizar com sua personagem, talvez seja justamente porque ela parece sempre disposta a quebrar as rígidas regras da igreja para conseguir o que quer. Quem também chama a atenção é Posy Taylor, que interpreta Natalie, pois as cenas de possessão são muito impactantes e a menina consegue ficar bem assustadora.
A Luz do Demônio é um filme completamente inserido no subgênero do exorcismo, mas que tenta modernizar a fórmula e ainda que tenha pequenos problemas na sua trama, pelo menos, se dispõem a inovar. O filme tem pré-estreias a partir do dia 1 de novembro e chega aos cinemas no dia 3 de novembro.