A Mãe
Um retrato da realidade
Maria (Marcélia Cartaxo) vive com seu filho adolescente, Valdo (Dunstin Farias) na periferia de São Paulo. Um dia, ela volta para casa e não encontra Valdo em lugar nenhum.
Depois de uma busca pela vizinhança e uma pequena investigação, Maria descobre que Valdo foi assassinado pela polícia, então, ela sai em busca de justiça.
Calcado na realidade
A Mãe é um filme com uma trama extremamente realista e que se repete quase que diariamente no Brasil. Maria é uma mãe solo, nordestina, que vive na periferia de São Paulo, com seu único filho, Valdo. Ele ainda é estudante e ela trabalha o dia todo.
Um dia, Maria chega em casa e não encontra o filho. Ela sai em busca dele, mas não tem nenhuma resposta. Conversando com pessoas do bairro, ela descobre que talvez Valdo tenha sido assassinado pela polícia, mas claro que ela não tem nenhuma certeza, já que ninguém tem informações precisas. A polícia não ajuda e ninguém encontra o corpo de Valdo.
Nem é preciso explicações mais profundas, qualquer pessoa vivendo no Brasil sabe que um caso como o que o filme retrata é mais do que comum, é corriqueiro, e que os principais alvos são jovens negros e de periferia. A Mãe vai ainda mais longe, quando Maria sai em busca de Valdo ou de ao menos uma resposta sobre o que acontece com ele, ela se encontra com outras mães que perderam seus filhos, algumas devido a violência policial atual e outras que perderam filhos durante ditadura militar. O filme não foge de comparar o período militar, quando se torturava e matava, com os dias de hoje, época em que a polícia ainda tem liberdade para matar, mesmo que se concentre em apenas uma parcela da população.
A jornada de Maria
Dessa maneira, A Mãe acompanha uma espécie de jornada da sua protagonista, que é uma mulher comum, vivendo uma vida difícil, mas que um dia precisa passar pelo momento mais terrível de sua vida: procurar por um filho desaparecido, e se conformar com a ideia de que talvez ele esteja morto.
O filme começa mostrando o dia a dia tanto de Maria, quanto de Valdo, mas a partir do momento em que ele desaparece, acompanhamos só Maria, a partir daí estamos como a protagonista que também não tem notícias de Valdo. O filme tem um ar de suspense justamente por isso, a audiência não sabe exatamente o que aconteceu com Valdo, embora, claro, possamos imaginar.
Maria começa sua própria investigação. Primeiro ela pergunta no bairro, depois na escola onde Valdo estuda e vai seguindo o rastro do filho. No caminho ela encontra e conhece pessoas, como outras mães que também têm filhos desaparecidos e chega até a confrontar a polícia, que finge não ter nada a dizer.
Aspectos técnicos de A Mãe
O roteiro não é especialmente intrincado, mas ele é importante porque a história, ainda que fictícia, é muito realista e acontece todos os dias. Existe um mistério em A Mãe, mas ele não é especialmente surpreendente, é fácil supor o que aconteceu com Valdo, e a ideia do filme não é fazer suspense mesmo, é retratar uma situação terrível e comum no Brasil. Acompanhar a busca de Maria é agoniante e de partir o coração.
Por outro lado, não há muita ação no filme, que começa retratando o dia a dia de seus personagens e segue por essa jornada sem muitas reviravoltas, onde tanto os personagens, quanto a audiência já imaginam o que aconteceu, mas isso não é um problema, A Mãe não é um filme lento e nem parado, a trama é muito forte para que isso aconteça.
Marcélia Cartaxo carrega o longa nas costas, não só porque é a personagem que passa mais tempo em cena, mas também porque sua atuação é muito poderosa e passeia entre a mãe obstinada buscando seu filho a qualquer custo e disposta a correr riscos para encontrar, e a mulher extremamente ferida e machucada, desesperada, sem saber como seguir em frente com tanta dor.
A Mãe é um filme pesado, embora não tenha nenhuma cena especialmente violenta, e nem precisa, já que ele retrata o Brasil e a violência policial que está nas notícias quase todas as semanas e na vida de algumas pessoas diariamente. A Mãe chega aos cinemas no dia 10 de novembro.