A Outra Face da Guerra – filme de trincheira
Virou o padrão para filmes de guerra abordarem os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Há vários motivos para isso: é uma guerra fácil de ser entendida, os inimigos são muito claros, foi o maior confronto bélico da história, entre outros. “A Outra Face da Guerra” é uma história ambientada na Primeira Guerra e que não segue o caminho fácil de cair no maniqueísmo, fazendo uma obra inacurada historicamente e degringolando daí pra frente.
A boa dose de competência histórica é facilmente justificada pela inspiração do filme: o livro homônimo (“Blizzard of Souls”, em inglês) publicado em 1934 por Aleksandrs Grīns que, por sua vez, conta parte das próprias experiências do autor em um front de Primeira Guerra.
A Primeira Guerra
E o maior desafio de uma história de Primeira Guerra é não colocar os alemães como grandes vilões (estou falando com você, Mulher Maravilha). É difícil conceber uma guerra sem culpados, mas foi exatamente assim que esse conflito se deu. E, por isso, uma história de Primeira Guerra funciona muito melhor se o “vilão” do filme for o conflito em si e não um batalhão de inocentes do outro lado das trincheiras.
Nesse ponto, o filme acerta em cheio, apesar de serem alemães os catalisadores da jornada do protagonista letão Arturs, que aos 16 anos de idade se alista nas forças armadas da Letônia para atuar na Grande Guerra. Não demora muito para ele aprender sobre as dificuldades e horrores da batalha.
O filme é lento como foi o confronto: passamos grande parte dele entrincheirados perto da linha inimiga, sem poder colocar a cabeça pra fora para olhar o outro lado, tal qual os personagens. É um acerto estético e histórico que quase nunca nos deparamos com o inimigo.
Lama e Sangue
O filme foi a escolha da Letônia para liderar o país nas indicações do Oscar deste ano. Não foi nem indicada, mas, honestamente, merecia bastante.
Não só o enredo vai bem, como é uma produção muito bem feitinha: as locações são variadas e, a escolha de manter a câmera intimista – apertada em corredores estreitos quando entrincheirado ou em closes próximos quando em campo aberto – faz parecer que tudo é muito maior do que realmente é, o que, por sua vez, faz parecer que o filme custou mais caro do que realmente custou.
O ritmo também é excelente, alimentando a ideia do tédio passado pelos soldados, mas sem ficar enfadonho para quem assiste. Oto Brantevics, ator letão que interpreta o protagonista e que nem foto no IMDB tem ainda, manda muito bem.
A Outra Face da Guerra
Completando com uma trilha sonora digna de grandes filmes, talvez o longa peque um pouco na mensagem ufanista um pouco exagerada e na confusão que a história pode causar – que é consequência da confusão que a história real causou, mas isso é culpa da União Soviética de emendar uma guerra atrás da outra lá no começo do século passado.
No final, até fica meio difícil entender contra quem o jovem Arturs está lutando. É um sentimento perfeito para um filme de Primeira Guerra. A Outra Face da Guerra já pode ser adquirido para aluguel e compra no NOW, Looke, Vivo Play, Google Play, Microsoft e iTunes nas versões dublada ou legendada (com áudio original).