A Sereia: Lago dos Mortos, terror mal explorado
Depois que obteve sucesso internacional com os longas A Dama do Espelho – O Ritual das Trevas e A Noiva, produzidos por Ivan Kapitonov, o diretor Svyatoslav Podgayevskiy recorre à rica tradição da mitologia eslava para dirigir seu novo trabalho com a mesma parceria: A Sereia: Lago dos Mortos.
Entre os muitos temas e personagens fascinantes do folclore eslavo, Kapitonov e Podgaevsky ficaram particularmente intrigados com uma versão russa do mito da sereia. Segundo ele, as mulheres solteiras que se afogavam em rios e lagos estavam condenadas a se tornarem sereias demoníacas, assombrando as águas onde encontravam seus fins trágicos. Dessa forma, as mulheres viriam à superfície à noite para atrair homens desavisados a seus reinos submersos com canções e encantos. Os homens capturados se tornariam seus servos pela eternidade.
Debruçados sobre as lendas, os mitos e os contos que caracterizam a sereia russa, a produção é focada no sombrio sentimento de vingança contra os homens. Eles são atraídos, seduzidos, separados de seus entes queridos e, depois, destruídos. Roman (Efim Petrunin) encontra uma estranha jovem em um lago no meio da floresta e, a partir deste encontro, sua vida é colocada em risco. Em meio às investigações, Roman e sua noiva Marina (Viktoriya Agalakova) são perseguidos e assombrados pela mulher transformada em monstro.
A Sereia: Lago dos Mortos
Lisa Grigorieva é uma jovem que se afogou séculos atrás e se tornou uma sereia malvada que seduz qualquer homem que se aproxime de seu lago. Há anos ela quase arrastou o pai de Roman água abaixo, mas para ser salvo, sua esposa se ofereceu à sereia. Nos dias atuais, Roman está noivo de Marina, mas assim como seu pai, a sereia insiste em mantê-lo longe de seu amor.
O rapaz é nadador profissional. Já Marina, morre de medo de nadar. Utilizando a água como pano de fundo para quase tudo, o filme é rodeado de água por todos os lados. Há o lago misterioso, a piscina em que Roman compete, a torneira da pia que mostra sinais de entupimento, banheira, alagamento, xícaras… Se há três cenas sem água no longa, é muito. Inclusive o nome de Marina remete ao mundo aquático.
O filme começa bem, com uma animação com potencial para aterrorizar sob a narração de uma criança. Mas depois acaba trazendo todos os clichês possíveis do gênero. A música, os sons estranhos, a água misteriosa. O roteiro é fraco e não prende o espectador. Tudo que queremos é que a história acabe de uma vez por todas. A trama é indecisa, ora querendo chamar a atenção para a história de Lisa Grigorieva, ora para o transe de Roman. Nenhum desses dois pontos é aprofundado como poderia.
Sereia sem cauda
De fato, eu nem mesmo acho que Lisa deveria ser considerada uma sereia. A moça está mais para um fantasma insistente. Quase todas as cenas em que aparece ela está em pé, fora da água. Inclusive usa as roupas dos homens que quer capturar. As cenas debaixo d’água não tem sua presença, apesar de bem feitas. Poderiam ter mostrado mais do reino submerso, mais um pouco dos cadáveres que lá habitam.
Infelizmente, a cópia que irá para os cinemas brasileiros é dublada em inglês com legendas em português. Assim, insisto em perguntar: qual é o problema de ouvir o áudio original? No caso, o russo. A dublagem não encaixa nada bem no movimento das falas dos personagens, acabando ainda mais com a credibilidade das atuações. A Sereia: Lago dos Mortos estreia dia 31 nos cinemas.