Adeus, Idiotas

Existem comédias deliciosas: são aquelas em que o humor é retirado de situações surreais, mas próximas da realidade. E se o roteiro consegue ser delicado no tratar de certos temas e permite uma profusão dessas situações e um ritmo frenético, o que exige muita criatividade, melhor ainda. Por unir essas características, Adeus, Idiotas vale muito a pena.

A premissa é insana: um burocrata de informática resolver tirar a própria vida, mas não consegue executar a proposta e, ao invés disso, causa um acidente grotesco; ao mesmo tempo, uma cabeleireira adquire uma doença terminal por excesso de inalação de spray, decidindo então encontrar um filho da qual foi separada logo no parto. Os dois se unem de maneira improvável em uma jornada de busca a lidar com seus problemas, traumas e sentimentos.

O que é mais legal aqui é que as risadas dessa comédia de humor negro bem ao estilo francês surgem de situações que são leves distorções do que a realidade ofereceria (um personagem em especial, em dado momento, precisa dirigir um carro: essa cena é impagável), e a sensação é bastante clara: os protagonistas, por incrível que pareça, são os únicos emocionalmente equilibrados, enquanto todo o mundo ao redor está desajustado, com seres suficientemente perturbados para criar a progressão de gags da qual a narrativa se alimenta.

Adeus, Idiotas

Adeus, Idiotas

As atuações de Virginie Efira (Benedetta e Na Cama com Victoria) e Nicolas Marié (como um homem cego) são excelentes também. Em especial, a ótima Efira mostra que pode, sim, ser uma diva do cinema francês num futuro bem próximo (olha só, novamente, o pequeno lapso de tempo surgindo nesta conversa). Há, também, um elenco de apoio utilizado com muita habilidade pela direção, servindo como os elementos disparadores de novas ocasiões na trama.

Um sucesso em seu país de origem quando de seu lançamento, Adeus, Idiotas é dirigido pelo próprio ator principal, o divertido Dupontel (ele está em Irreversível) e conquistou três Césares (melhor filme, melhor direção e melhor roteiro original; foi indicado para melhor ator) e tem como seu maior mérito a condução sensível que imprime: em nenhum momento ele caminha para o óbvio de situações pastiches. Em verdade, o roteiro extrai humor da quase possibilidade dos acontecimentos e não de personagens representantes de minorias, excluídos ou desajustados. Há, ao contrário, um olhar carinhoso para com todos estes, o que torna o filme agradável.

Adeus, Idiotas

Há elementos interessantes na imagética: um universo futurista, mas muito próximo do presente (coerente com o que foi comentado acima); a descrição das alterações das ruas em relação ao real (uma cena, em especial, chama a atenção, na qual se exibem as modificações na paisagem urbana com o passar do tempo). Enfim, há um constante reforço em nos informar que o mundo foi um pouco chacoalhado e, na confusão gerada, os protagonistas tentam encontrar seu caminho. Quem nunca teve a sensação de que tudo parece fora do lugar e nosso caminhar se torna dificultado ou confuso?

Há também um olhar ácido ao ser humano: pessoas insensíveis e incompetentes permeiam o que vemos. Conhecemos muitos próximos de nós nas mesmas condições, o que gera incômodo. Muito do que vemos na tela está de fato dentro de um alcance da realidade plausível. É, sim, um belo exemplar do humor francês. Recomendo este Adeus, Idiotas sem sustos.

Adeus, Idiotas

Nome Original: Adieu les cons
Direção: Albert Dupontel
Elenco: Virginie Efira, Albert Dupontel, Nicolas Marié, Jackie Berroyer
Gênero: Comédia, Drama
Produtora: ADCB Films
Distribuidora: A2 Filmes
Ano de Lançamento: 2020
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