Anna – Uma homenagem à década de 1960

Serge (Jean-Claude Brialy) fica obcecado pela foto de uma mulher que ele vê em um outdoor, mas como a imagem é ampliada, ele não consegue ver o rosto todo da mulher e, portanto, não é capaz de reconhecê-la, mas resolve sair a sua procura mesmo assim.

O que ele não imagina é que a moça da foto é Anna (Anna Karina), uma colorista que trabalha no estúdio das tias de Serge.

O romance

Anna é um musical, mas que também se encaixa com facilidade nos gêneros da comédia e do romance, uma parte bem importante da trama e que se desenvolve bastante durante o longa é o romance, que aqui não é claro desde o começo.

Anna Karina como Anna
Anna Karina como Anna

O filme acompanha Serge, um jovem fotógrafo que se encanta pela moça de um outdoor. A foto está ampliada e ele só vê pedaços do rosto dela, mas mesmo assim, se apaixona. Serge fica obcecado pela mulher do outdoor e passa a procurá-la em todo lugar. O grande plot twist do filme é o fato de que a moça, que se chama Anna, não é uma modelo, nem atriz, e sim uma colorista que trabalha no estúdio das tias do protagonista e, portanto, está bem próxima dele.

Serge vê Anna em vários momentos, mas não sabe que ela é a moça do outdoor porque nunca viu o rosto inteiro da moça e, nesse sentido, o filme se desenvolve mais ou menos como um Cinderela moderno, onde o protagonista precisa descobrir quem é a mulher por quem ele está apaixonado mesmo sem conhecer o rosto dela ou saber o seu nome.

A história pode soar um pouco datada, afinal, o interesse de Serge em Anna se baseia quase que unicamente na aparência dela, embora os dois se conheçam melhor durante o filme, e o romance é um pouco lento, eles se encontram uma série de vezes antes que ele comece a se interessar por ela. Além do mais, Anna não é um musical Hollywoodiano que geralmente segue passos muito clássicos.

Anna e Serge
Anna e Serge

Os anos 60

Filmado em 1967, Anna é um filme típico de sua década, que retrata muito bem o período e suas tendências. A produção tem uma forte influência da Nouvelle Vague, movimento de cinema francês da década, que buscava um cinema com uma montagem menos clássica, e que retratava muito mais os jovens e seus costumes. Este não é um filme especialmente moderno, a maneira com que as relações se dão é bem clássica, diferentemente de outros filmes da Nouvelle Vague, mas a história é centrada em personagens jovens.

O longa também bebe na fonte da Pop Art, ele é colorido e vibrante, com cores fortes nos seus cenários, fotografia e figurino. A trilha sonora, composta por Serge Gainsbourg, é repleta de músicas pop e rock, bem típicas da época.

Para além disso, o elenco também é cheio de ícones da década de 1960, como Anna Karina, a musa de Jean-Luc Godard e uma das atrizes símbolos da Nouvelle Vague, Jean-Claude Brialy, outro rosto conhecido do movimento, Serge Gainsbourg, que também faz uma pontinha no filme e a cantora e atriz, Marianne Faithfull.

Anna é colorido e vibrante
Anna é colorido e vibrante

Aspectos técnicos de Anna

Anna é um filme que chama bastante atenção pelos seus aspectos visuais, é muito colorido e usa cores fortes nos figurinos e cenários. A estética é muito influenciada pela Pop Art e as cores, geralmente presentes nas roupas dos personagens, fazem um contraste com as ruas cinzas de Paris. Suas cores fortes e alegres lembram filmes contemporâneos a ele como Uma Mulher é Uma Mulher – também estrelado por Karina e Brialy –  e Os Guarda-Chuvas do Amor e filmes mais recentes como Canções de Amor e Bem Amadas, que são obviamente influenciados pela Nouvelle Vague. Curiosamente, Anna foi o primeiro filme colorido feito para a televisão francesa.

Anna também tem um figurino bem interessante, cheio de tendências dos anos 60, como minissaias, vestidos tubinhos e lacinhos. Ele não parece, no entanto, especialmente bem pensado, a impressão que se tem é que os atores apenas usam as roupas que os jovens usavam na época e até que eles mesmos tinham. Existe um charme nas roupas usadas no filme, mas isso acontece mais porque os anos 60 são uma década com a moda bem característica e onde os jovens passaram a se vestir de maneira diferente das de seus pais e, portanto, criaram sua própria moda, do que porque o diretor tenha pensado sobre isso.

O elenco também se sai bem, Anna Karina canta e tem muita presença na frente da câmera. Como acontece com frequência na carreira da atriz, boa parte da graça de Anna é justamente a sua protagonista. Faz sentido que ela seja a musa de Serge e automaticamente do filme, já que esse é o papel que Karina tem em quase toda a filmografia de Godard e no qual ela se sai bem. Para além de Karina, Brialy se sai muito bem também e o telespectador gosta de acompanhar e torcer por esse casal, esperando que eles se reconheçam logo. Marianne Faithfull também chama atenção, embora esteja presente em apenas uma cena, que é muito bonita.

A trilha sonora foi composta por Serge Gainsbourg
A trilha sonora foi composta por Serge Gainsbourg

A trama de Anna é simples e, para os dias de hoje, até um pouco bobinha, o filme chama atenção justamente nos seus aspectos técnicos e no charme das atuações, que se combinam com a história e com o cenário, sempre romântico, de Paris.

As músicas

A trilha sonora de Anna foi composta por Serge Gainsbourg – outro grande nome da década de 1960 – e faz referência ao pop e rock inglês, que fazia sucesso na época. Algumas das músicas até beiram ao psicodélico, que faria sucesso no final dos anos 60 e na década de 70.

Entre as músicas que fazem parte da trilha sonora estão Souse Le Soleil Exactement, Pas Mal Pas Mal Du Tout, Boomerang, Un Poison Violet e Roller Girl.

O filme é bem típico da sua época
O filme é bem típico da sua época

Anna é um musical muito diferente, tanto nas suas performances, que exprimem os sentimentos dos personagens, mas que estão bem longe de um musical tradicional Hollywoodiano e tem números bem mais contidos e quase cotidianos, quanto nas suas músicas, que não só pendem para o pop/rock da época, como também tem algumas faixas completamente instrumentais, algo bem incomum para um gênero de filme onde as letras das músicas representam a história.

Anna é, por fim, um filme com um roteiro relativamente simples, mas se destaca na parte visual e é uma boa pedida não só para os fãs da Nouvelle Vague, mas também para quem gosta da década de 60 e vai gostar de ver muitas personalidades da época em cena, esbanjando todo o seu charme em lindos figurinos.

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