Aftersun

Sophie (nessa fase interpretada por Frankie Corio) tem 11 anos e vai passar as férias com seu pai, Calum (Paul Mescal) na Turquia. Os dois aproveitam os dias no hotel, na piscina, em jantares e em passeios, enquanto o pai tenta dar o melhor de si e Sophie se descobre.

Alguns anos depois, Sophie já mais velha (nessa fase interpretada por Celia Rowlson-Hall) reflete sobre sua relação com o pai e tenta entender as partes dele que ela não conheceu.

Sophie e Calum

Aftersun é completamente focado na relação de Calum, um jovem pai, e Sophie, sua filha de 11 anos, e é essa a grande força do filme. Sophie, filha de pais separados, mas que se dão bem, embarca em uma viagem com o pai para a Turquia, onde eles vão passar um tempo em um hotel requintado, com muitas opções de diversão. E é basicamente isso que acontece no longa.

Mas Aftersun tem essa aura de nostalgia – que se torna ainda maior combinada com o fato de que o filme se passa no final dos anos 1990 -, que mistura diversão, mas também melancolia. Sophie e Calum se divertem o dia todo: eles jogam bilhar, cantam, dançam, jantam, assistem shows, passam horas na piscina, mergulham em alto mar, mas existe uma tristeza presente nos dois personagens e que Sophie inclusive verbaliza em determinado momento, quando pergunta para o pai se ele sabe como é a tristeza depois de um dia ótimo, quando você sabe que o dia não vai mais se repetir, e o pai, embora não responda, parece compreender o que a filha quer dizer.

Nesse sentido Aftersun é quase um retrato do dia a dia, ainda que seja um dia a dia de férias, que não é tão comum assim e, na teoria, acontece apenas uma vez por ano, o filme não tem grandes reviravoltas ou plot twists, mas ele se concentra bastante nessa relação de pai e filha, que é quase idílica, parece saída de um conto de fadas, mas claro que não é bem assim.

A tristeza sutil

Aftersun é um filme que trabalha na sutilidade, ele não entrega quase nada, não dá nenhuma definição clara da situação completa, mas diz tudo nos detalhes e no que ele insinua. Enquanto acompanhamos pai e filha se divertindo em férias paradisíacas, também percebemos quem Sophie e Calum são como indivíduos, independentemente da relação que existe entre os dois.

Sophie, no começo da pré-adolescência, está se descobrindo e se vendo interessada por pessoas, ela anda com os garotos mais velhos, presta atenção em como eles se comportam perto das garotas adolescentes, quer saber por que os pais se separaram ou se o pai tem uma namorada. Ela parece estar querendo conhecer o mundo, seu olhar é sempre otimista.

Já Calum é jovem, mas parece cansado e frustrado, ele até comenta que não acreditava que conseguiria chegar aos 30 anos. Sophie lhe pergunta sobre uma namorada e ele diz que terminou, depois lhe pergunta sobre um emprego e ele diz que ainda não deu certo. Quando a filha pergunta se com a idade dela ele se imaginava onde está, ele fica bravo e não quer responder, e em vários momentos, percebemos uma tristeza nele. É claro que Calum não está feliz com a vida, ele parece frustrado com tudo, sem esperanças, mas ele obviamente faz um esforço para dar o seu melhor quando está com a filha, esperando que ela crie memórias boas com ele, diferente das que ele diz ter com seus pais.

É só a Sophie mais velha, agora já mãe, que compreende os sentimentos do seu pai e que tenta entender quem ele era por completo.

Aspectos técnicos de Aftersun

Aftersun se dedica basicamente a retratar as férias de Sophie e Calum, não tem nenhum acontecimento revelador para além de questões que são comuns à vida de todos, como primeiras experiências no caso de Sophie e uma aparente depressão ou tristeza no caso de Calum. Por isso, ele pode soar um pouco parado, mas ele não é, os detalhes de Aftersun estão cheios de mensagens que o longa passa de maneira bem sutil.

Como o filme depende demais da relação de seus protagonistas, ela é muito bem trabalhada e funciona, não só porque Paul Mescal e Frankie Corio estão ótimos no filme, mas também porque eles têm muita química e a sensação é que de fato estamos acompanhando um pai e uma filha. Aliás, a atuação de ambos os atores, que é impressionante, é um dos pontos altos aqui.

Também tem que se destacar o figurino, que remete aos anos 1990, mas que não é caricato, e que permite fazer essa ligação com os dias de hoje. É preciso prestar atenção para notar que o filme não se passa nos dias de hoje só pelos figurinos, o que ajuda é a tecnologia que os personagens usam. A câmera de vídeo onde Sophie e Calum registram suas férias, aliás, ganha bastante destaque, acompanhamos várias das filmagens que eles fazem, e parece lógico pensar que nesses momentos estamos assistindo a essas memórias – e fitas – através dos olhos da Sophie adulta, que já percebe seu pai de maneira diferente.

Aftersun nos leva nessa viagem com Sophie e Calum, que na realidade é a viagem do crescimento de Sophie, que quando criança vê seu pai como herói, como invencível e como a pessoa mais divertida que ela já conheceu, mas quando adulta reconhece que ele era apenas humano, que tinha dúvidas, frustrações e medos, e funciona porque todos nós já fomos Sophie e também já fomos, ou vamos ser, Calum. Aftesun chega aos cinemas no dia 1 de dezembro.