Alguém Especial, uma comédia romântica diferente

Apesar de se enquadrar em um gênero preso a uma velha fórmula que funciona até os dias de hoje, Alguém Especial, essa simpática produção da Netflix, consegue autenticidade ao escolher um caminho mais crível e próximo da realidade de qualquer um de nós. Depois de passar por um término devastador (ela vai se mudar para São Francisco por conta do novo emprego e o relacionamento não sobreviveria a distância), a jornalista musical Jenny resolve afogar as mágoas com suas duas melhores amigas em uma grande noitada por Nova York.

Jenn Kaytin Robinson faz aqui sua estreia como diretora (em um filme que ela também escreve). E se ainda não entrega grandes assinaturas técnicas, pelo menos não faz feio no que se propõe a compor em tela. Entre seus trunfos, está o de extrair o melhor do elenco, carregado de sinergia incrível. É como se elas fossem verdadeiramente amigas, não transparece a atuação. Gina Rodriguez (que ficou famosa por Jane, a Virgem) é carregada de carisma e sustenta o protagonismo com folga e empolgação, à medida que consegue também nos vender a ideia de sua mágoa profunda, tão sincera quanto qualquer um que já tenha passado ao fim de um namoro.

Ela está muitíssimo bem acompanhada por DeWanda Wise e Brittany Snow. A primeira é lésbica, mas teme assumir um relacionamento sério por conta de um trauma do passado; enquanto a outra esconde um lado independente e acaba se provando a figura mais bem resolvida do longa. Lakeith Stanfield, Peter Vack e Alex Moffat, apesar de serem construídos como estereótipos, surpreendem depois do segundo ato. Seus gestos e diálogos são bastante verossímeis e atuais, mostrando como homens podem funcionar nas histórias.

Alguém Especial

O trio bebe muito e fuma maconha sem qualquer senso de culpa ou de politicamente correto, transparecendo uma autenticidade maior em suas ações, do sexo sem compromisso a ouvir uma música que leve a chorar, com personagens tão humanos quanto qualquer um que conheçamos no mundo real, se comportando como boa parte dessa geração que está virando a chave para os trinta anos, em uma nova fase de decisões que vai muito além de qualquer romance, mas de assumir responsabilidades para se sustentar e criar uma carreira.

Com bom ritmo, bons diálogos e boa cinematografia, Alguém Especial supera o título genérico (que também o é no original) para narrar uma história que não tem fórmula, mas todo mundo conhece de certa maneira e em algum momento da vida. Relacionamentos nem sempre duram. A paixão muitas vezes prevalece, mesmo quando separados. E o amor próprio deve prevalecer, afinal.