Alice in Borderland – 2ª temporada
Um autêntico anime em live-action, Alice in Borderland retorna duplamente mais violento, mais sagaz e mais espetacular.
A primeira temporada dessa adaptação do mangá homônimo de Haro Aso já despontava como um dos maiores destaques de 2020, salvando muitos de nós do pânico recente da pandemia. Sua continuação, apesar de algumas barrigas aqui e ali (em especial nos episódios 5 e 6), consegue ser melhor que seu início em todos os aspectos. É impressionante.
E essa comparação com animes e mangás fica ainda mais evidente por aqui. Diferente de todas as outras versões em live-action de produções até mais famosas (como Rurouni Kenshin, Bleach, FMA etc), que variam bastante de qualidade, Alice in Borderland – 2ª temporada acerta justamente por mirar no cerne do que são as estruturas narrativas desse tipo de obra (portanto, se o espectador não for familiarizado com animes ou cultura asiática, pode estranhar um bocado). Assim, temos longos diálogos entre um embate e outro, explicações por vezes redundantes, discursos moralistas “cafonas” (mas não hipócritas), poses super descoladas, backgrounds de coadjuvantes e vilões sendo apresentados de repente, figurino, ambientação, tudo. E isso nem de longe é um aspecto ruim da produção, pelo contrário.
Alice in Borderland – 2ª temporada
Ao se assumir como um legítimo anime (e não meramente uma adaptação de um mangá, que por vezes parece um desfile de cosplay), só que em carne e osso, Alice in Borderland se apresenta como um dos melhores “animes” do momento, do começo ao fim. Dentre os vários estereótipos (mais do que bem-vindos) de vilões, temos o apavorante Rei de Espadas, que parece um invencível John Wick possuído por dez demônios. A sequência do penúltimo episódio quando os principais personagens o enfrentam, é sufocante, brutal e com resultados agridoces. Porque se tem uma coisa que essa série nos ensinou, é de que tal qual em GoT, não devemos nos apegar a nenhum personagem. Muitos morrem.
Dentre os jogos, dois deles entregam episódios sensacionais. A começar por aquele game proposto pelo carismático (e pelado) Kyuma, o Rei de Paus (sem trocadilhos, por favor). Todos os momentos aqui tiram o melhor de cada um dos personagens, sejam os heróis ou seus adversários, com um desfecho somente emocionante. O mesmo pode-se dizer do jogo do misterioso Valete de Copas, que coloca diversos suspeitos à lá Agatha Christie na prisão, em uma situação bastante imprevisível e sufocante. Antigos vilões acabam virando a casaca, outros tantos descobrem o amor ou não resistem até o fim.
A resolução, aliás, contra a Rainha de Copas, tem uma sacada brilhante, quando ela flerta, oferecendo 3 respostas possíveis para explicar “que mundo era aquele?” (todas já utilizadas à exaustão em outras produções por aí), mas o roteiro original opta para algo honesto (e creio, fiel ao mangá de origem), que também é condizente com a sensibilidade que só os asiáticos têm, tornando o desfecho emocionante e satisfatório (afinal, a série se encerrou por aqui, não é mesmo? Não precisa de continuação). Nunca os jogos vorazes foram tão envolventes assim.