Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll

Sinopse: Quando decidiu seguir um coelho que estava muito atrasado, Alice caiu em um enorme buraco. Só mais tarde descobriu que aquele era o caminho para o País das Maravilhas, um lugar povoado por criaturas que misturam características humanas e fantásticas, como o Gato, o Chapeleiro e a Rainha de Copas – e lhe apresentam enigmas.

Publicado em 1865, Alice no País das Maravilhas é o livro mais famoso de Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Dodgson, um matemático que lecionava em Oxford. A história veio a sua mente quando ele passeava de barco junto com Alice Liddell e suas irmãs, filhas de um casal de colegas de Oxford. Carroll mantinha uma polêmica amizade com Alice.

O livro conta a história de Alice, uma menina que em uma tarde, persegue um coelho branco usando roupas e um relógio para dentro de um buraco e vai parar no país das maravilhas.

Existem milhões de camadas em Alice no País das Maravilhas e embora, ele seja considerado um livro para crianças, ele pode certamente entreter todas as idades.

Alice no País das Maravilhas foi, na época de seu lançamento, uma reviravolta na literatura infantil. Antes disso, os livros para crianças eram focados em transmitir uma educação moral e isso não acontece em Alice no País das Maravilhas, muito pelo contrario, Alice é uma criança mandona, que reclama da vida com uma frequência quase assustadora, dá broncas em adultos e ressalta a falta de educação dos personagens que ela encontra no país das maravilhas. Ela é o extremo oposto do que uma criança deveria ser e mesmo assim, Alice é uma criança real, ela é malcriada e faz birra, como as crianças fazem, quando as coisas não saem como elas desejam. Diferente de muitas crianças da literatura, que são heroicas e muitas vezes soam mais adultas que seus pais, Alice soa, o tempo todo, como uma criança.

Uma das ilustrações originais do livro, por Sir John Tenniel

No livro, Carroll também tira sarro do sistema educacional da época, mais preocupado com pompas do que em de fato ensinar, por isso Alice usa palavras grandes o tempo todo, sem nem saber seu significado. Além disso, Carroll ainda encheu o livro de enigmas matemáticos.

Tudo isso deixa muito difícil ter uma conclusão sobre o que livro fala, mas talvez seja justamente isso que torna essa história tão popular até hoje. Claro que o livro pode ser interpretado apenas como um conto de fadas moderno, ele tem os requisitos necessários para isso, mas existem milhões de teorias que rondam o livro.

Nos anos 70, devido a onda Hippie, surgiu a interpretação de que o livro faria alusão a drogas, e que o próprio Carroll era usuário de substancias ilícitas, afinal, o livro fala sobre uma viagem aonde Alice encontra diversos personagens estranhos, consome coisas que fazem com que ela altere seu tamanho e em determinado momento, até conversa com uma lagarta fumando um narguilé. Existem interpretações que dizem que o livro fala sobre o crescimento e a transformação da criança em adolescente, uma transformação que acontece aparentemente do nada (quando Alice cai no buraco), onde a própria criança não se reconhece mais e onde ela cresce da noite para o dia, representados pelos momentos em que Alice diminui e aumenta de tamanho após comer pedaços de cogumelo. Existe ainda uma explicação mais macabra, em que Alice seria louca e estaria presa em um sanatório e o país das maravilhas é algo que ela criou para escapar da realidade, teoria que poderia ser confirmada com a constante repetição do Gato de Cheshire sobre todo mundo ser louco no país das maravilhas.

Alice na animação da Disney, de 1951.

Na época do lançamento do livro, tinham sido colocados relógios nas fábricas inglesas, devido a revolução industrial e o tempo se tornou algo importante para a população, o tempo também é algo é muito importante para o Coelho Branco, que está sempre atrasado.

É impossível saber qual foi a real ideia de Carroll, mas o tema facilita a proliferação de teorias. Sabe-se porém que Carroll tinha alucinações visuais, que faziam os objetos parecerem grandes ou pequenos em momentos diferentes, comenta-se também que o autor tinha mais do que um interesse de amizade por Alice. Ele fotografava meninas seminuas e em poses quase sensuais, embora não exista nenhuma prova conclusiva sobre o assunto, muitas pessoas acreditam que Carroll sentia atração sexual por meninas pequenas, e existe uma história de que ele de fato teria pedido Alice Liddell em casamento quando ela tinha 12 anos (e ele mais de 30).

O fato é que o livro chama atenção até hoje, talvez porque a história por trás de sua criação seja misteriosa, ou porque a trama do livro é um enigma que todos querem decifrar, talvez porque os personagens sejam estranhamente interessantes ou talvez porque o livro faz questionamentos que rondam a cabeça de muitos adultos.

Mia Wasikowska como Alice no filme de 2010.

Quando perguntada sobre quem ela é, Alice responde que não sabe dizer, que era uma pessoa de manhã e agora é outra, um questionamento que está dentro de nós durante períodos diferentes da nossa vida e talvez, até com mais freqüência, na vida adulta.

O livro fez tanto sucesso que ganhou uma continuação em 1871, chamada Alice no País dos Espelhos.

Alice no País das Maravilhas sem dúvida, ultrapassou as paginas do seu próprio livro e hoje, ela não só está no cinema e na TV, como também em toda a cultura pop. Existem milhões de referências à obra nos mais diversos lugares, como na música “White Rabbit” da banda Jefferson Airplane, ou na música “I’m The Walrus” dos Beatles (Alice no País das Maravilhas era o livro favorito de John Lennon), que faz referência ao poema sobre a Morsa que aparece no começo do livro. Nos quadrinhos as referências a Alice aparecem nos vilões de Batman, Novos Titãs e Liga da Justiça, nos games, Alice ganhou seu próprio jogo chamado American McGee´s Alice, um jogo sombrio sobre a volta de Alice ao país das maravilhas. Algumas palavras usadas por Carroll no livro acabaram sendo incorporadas ao vocabulário inglês como “Mad as Hatter” (em tradução literal “tão louco quanto um chapeleiro”) e “Smiling like a Cheshire Cat”(em tradução literal “Sorrindo como um gato de Cheshire”), Alice virou até referência médica, para descrever justamente a síndrome da qual Carroll sofria.

Alice Liddell, fotografada pelo próprio Carroll

No cinema, o livro já ganhou diversas adaptações, as mais famosas são a versão animada da Disney, de 1951, que determinou como vemos Alice até hoje e a versão de Tim Burton, de 2010.

Independentemente de suas interpretações, Alice no País das Maravilhas é um clássico, com mais de 150 anos, que mantém o interesse do público e que é capaz de entreter adultos e crianças, de maneiras completamente diferentes.

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