Amado

Longa aborda o poder paralelo das milícias e do narcotráfico

A nova empreitada de Edu Felistoque (Toro, Bipolar, além de documentários), com roteiro e mentoring de Erik de Castro, é este filme policial ambientado nas ruas conturbadas da Ceilândia, a populosa cidade satélite de Brasília onde o submundo, pra variar, dá as cartas corrompendo a polícia, eliminando inimigos e bancando contravenções. Aqui, quem poderá nos salvar? Amado, um incorruptível policial preto (Sérgio Menezes), que não se dobra a nenhum tipo de pressão e, destemido, combate a criminalidade.

Sim, nada de novo: um Charles Bronson tupiniquim, com direito a uma última tomada claramente copiada de diversos outros filmes de violência catártica, passando na frente dos nossos olhos.

O diretor nos informa que desejava realizar um filme de ação para torná-lo acessível a um público mais amplo que também merece atenção, e não apenas fazer cinema, como ele próprio define, “to amigos” (para os amigos, iniciados na arte cinematográfica, e intelectuais amantes da sétima arte). Solicita, também, que contemplemos as diversas camadas de sua obra.

amado

Amado

Bom, fiquei aguardando mais ação durante todo o tempo e busquei camadas mais profundas. O filme não tem, decisivamente, o ritmo de Hollywood: os diálogos são lentos, os personagens pensam bastante antes de emitir qualquer palavra (parecendo que não desejam ser mal-interpretados em todos os momentos: até os palavrões são raciocinados), chegando ao ponto de demorar vários minutos, no início do longa, para os primeiros diálogos.

Isso não faz o público mais exigente com filmes de ação entrar fácil na trama, logo, a primeira proposta do diretor fracassa aqui. É certo que vários vão se empolgar com as cenas de justiçamento, mas, como antes, nada de novo sob o sol.

O trabalho de empostação dos atores também me incomodou. Os sons sempre saem titubeantes, não parecendo ter sido proferidos por seres empedernidos e machucados pela lida das ruas. Isso torna o todo pouco crível e excessivamente encenado. Está na cara que todos em torno de Amado correm risco, e todos deveriam saber disso. Porém, sempre me pergunto o que faz personagens andarem sozinhos em ruas escuras, alvos óbvios dos inimigos de plantão.

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Mais considerações

Um outro elemento a ser considerado é a dose de vontade que o personagem principal tem que receber para finalmente partir pra cima: são necessárias mágoas extras, como se não bastassem o seu perfil originalmente truculento, sua profissão e seu cotidiano. É como se, para agir, precisássemos sofrer além do que já sofremos habitualmente.

E onde estão as camadas subjacentes ao que vemos? A escolha por um protagonista preto parece indicar a vontade de associar uma questão étnica ao tema da honestidade: se sim, soa comercial.

A câmera está sempre na mão e balançando, com o intuito de imergir o público dentro da cena. Com isso, Felistoque se aproxima do documental, uma de suas especialidades. Mas esse recurso soaria melhor em passagens mais frenéticas e, pelo contrário, tudo demora pra acontecer de fato ao longo do filme.

Enfim, é um filme correto, com trilha incidental esperada e um todo previsível, com resultados técnicos dentro da média e atuações gerais mornas.

Amado

Nome Original: Amado
Direção: Edu Felistoque e Erik de Castro
Elenco: Sérgio Menezes, Adriana Lessa, Gabriela Correa, Brenda Ligia, Alexandre Barillari, Igor Cotrim, Neco Vila Lobos, Sérgio Cavalcante
Gênero: Ação
Produtora: BSB Cinema Produções
Distribuidora: Downtown Filmes
Ano de Lançamento: 2022
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