American Horror Story: Apocalypse (8ª temporada)
Um crossover sem muita criatividade
Uma explosão nuclear destrói o mundo e um dos poucos lugares seguros restante é um abrigo subterrâneo comandado por Wilhemina Venable (Sarah Paulson) e Miriam Mead (Kathy Bates). Os habitantes do abrigo são basicamente pessoas ricas que puderam comprar seus lugares como a influencer Coco (Leslie Grossman), sua assistente Mallory (Billie Lourd), seu cabeleireiro Gallant (Evan Peters), a avó dele, Evie (Joan Collins), a repórter Dinah (Adina Porter) e dois jovens, uma moça e um rapaz (Kyle Allen e Ashley Santos) escolhidos por terem o DNA perfeito.
A princípio, todos os sobreviventes estão agradecidos, mas logo eles percebem que Venable e Mead são sádicas e têm como única intenção torturar os habitantes do local. Até que Michael Langdon (Cody Fern), um homem misterioso, aparece dizendo que vai decidir qual deles vive e qual deles morre.
O apocalypse
American Horror Story é uma série antológica de terror que, a princípio, tinha como intenção retratar uma história diferente, dentro do gênero em questão, a cada temporada. A oitava temporada então, começa explorando o apocalipse, que é um tema comum em obras de terror que exploram um futuro não tão distante e distópico.
Aqui o apocalipse se deu em função de uma explosão nuclear que varreu o mundo, deixando apenas alguns poucos sobreviventes, em sua maioria, ricos que conseguiram comprar uma vaga em um abrigo subterrâneo. O primeiro episódio da temporada acompanha Coco, Mallory, Gallant e Evie, enquanto eles tentam chegar ao tal abrigo.
A partir daí, a série se concentra no que acontece no abrigo: os sobreviventes, que são obrigados a se vestirem com trajes do século XVIII, passam seu tempo sentados em uma sala ouvindo sempre a mesma música, até que as coisas começam a mudar. Timothy e Emily, os dois que têm o DNA perfeito, se apaixonam e começam uma relação sexual proibida e Venable e Mead passam, aos poucos, a mostrar o quão são cruéis e sádicas.
A chegada de Michael Langdon – que sim, é o filho de Tate Langdon (Evan Peters), nascido na primeira temporada -, um homem misterioso, mas muito poderoso, altera não só a dinâmica do abrigo, mas também de toda a temporada.
Crossover
Michael aparece no abrigo dizendo que tem o poder de decidir quem vai viver e quem vai morrer, causando, naturalmente, um rebuliço entre os sobreviventes. A partir do momento em que ele entra na trama, a série muda radicalmente.
A oitava temporada, que a princípio parecia retratar mais uma história única, com começo, meio e fim, se torna uma espécie de crossover de outras temporadas, o que por si só já descaracteriza a ideia original da série e para além disso, Apocalypse parece estar repleta de ideias que surgiram de última hora e que buscam aumentar tramas de temporadas anteriores que já estavam fechadas.
Primeiro, a série retoma sua terceira temporada, Coven – de longe, a temporada mais criticada pelos fãs -, e volta a apresentar o coven de bruxas composto por Cordelia (Sarah Paulson), Zoe (Taissa Farmiga), Myrtle (Frances Conroy), Misty (Lily Rabe), Madison (Emma Roberts), Queenie (Gabourey Sidibe) e Nan (Jamie Brewer), que dessa vez precisa enfrentar um coven composto por bruxos homens, do qual Michael faz parte e que querem eleger, pela primeira vez na história, um supremo homem.
A ideia é interessante e o embate entre os dois covens rende boas cenas, mas a impressão que se tem é que os roteiristas resolveram revisitar a história da terceira temporada para preencher buracos que foram deixados na época em que ela foi ao ar originalmente.
Não contente em mergulhar na sua terceira temporada, Apocalypse também volta à sua primeira temporada, Murder House – a melhor temporada da série – e coloca Madison, uma das bruxas e Behold Chablis (Billy Porter), um dos integrantes do coven masculino, investigando o passado de Michael, que nasceu na casa. Aqui temos a volta de Vivien Harmon (Connie Britton), Ben Harmon (Dylan McDermott), Tate Langdon, Violet Harmon (Taissa Farmiga), Constance Langdon (Jessica Lange) e Moira O’Hara (Frances Conroy).
Claro que é interessante saber a origem de Michael, que é o grande vilão dessa temporada, e que muitos fãs queriam saber o que aconteceu depois da última cena da primeira temporada, quando Michael aparece ainda criança, mas mais uma vez, parece que o roteiro foi escrito sem nenhum planejamento e só buscando agradar fãs insatisfeitos que talvez já tivessem abandonado a série.
A oitava temporada ainda dá um passeio pelo hotel, cenário de sua quinta temporada, Hotel.
Aspectos técnicos de American Horror Story: Apocalypse
A temporada começa de maneira instigante e embora tenha estreado em 2018, é quase impossível não relacionar os primeiros episódios da série, onde os personagens se veem em um confinamento que parece eterno, com a pandemia de Covid- 19, que também obrigou as pessoas a ficarem isoladas dentro de suas casas. A ideia do apocalipse assombra a humanidade com frequência, e parece ainda mais constante nos dias de hoje, portanto o tema é relevante.
Mas a temporada se perde quando começa a misturar seus temas com os temas de outras temporadas, primeiro porque perde a essência da série, que é antológica e se propõe a apresentar uma trama diferente, com personagens diferentes – mesmo que interpretados pelos mesmos atores de outras temporadas – e segundo porque vira uma bagunça que vai e vem no tempo, com a intenção de fechar buracos de temporadas anteriores e agradar fãs que não gostaram de alguns conteúdos antes apresentados.
O que atrapalha a série também é o fato de alguns atores interpretarem mais de um personagem na mesma temporada. Taissa Farmiga, Kathy Bates e Frances Conroy interpretam, cada uma, duas personagens diferentes, Sarah Paulson interpreta três personagens diferentes e Evan Peters interpreta quatro personagens diferentes. Isso, além de confundir o telespectador, faz com que um pouco da graça da série se perca, afinal, a plateia sabe que a proposta da série é que os mesmos atores interpretem personagens diferentes, mas em temporadas diferentes.
As atuações são um ponto alto da série, o elenco é de fato muito bom, Sarah Paulson, Evan Peters e Leslie Grossman se saem muito bem, Emma Roberts também está completamente imersa na sua personagem, embora interprete, quase sempre, a mesma personagem, que funciona para ela. O grande destaque é de Jessica Lange, que volta como uma das personagens mais queridas da série, e que mais uma vez entrega um trabalho primoroso.
A série também aposta em temas comuns ao horror, como a chegada do anticristo, espíritos, casas assombradas e bruxas e bruxos, o que funciona, embora não seja especialmente assustador e nem tenha tantos mistérios a apresentar quanto suas temporadas anteriores. Uma das grandes sacadas de American Horror Story é o fato de a série mostrar cenas com bastante violência e sangue, sem poupar seus telespectadores de nada, o que claro, agrada os fãs de terror, ao mesmo tempo que choca a audiência, mas é essa a proposta.
Na sua oitava temporada, American Horror Story parece já não ter mais tanto fôlego e com a intenção de segurar sua audiência trai uma premissa básica da série – o fato dela ser uma antologia – e tenta a todo custo agradar os fãs, mesmo que o roteiro já não faça mais tanto sentido.
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