American Horror Story: Double Feature
Uma temporada, duas histórias
Na sua 10ª temporada, intitulada Double Feature, a série American Horror Story se divide em duas tramas diferentes: Part 1: Red Tide e Part 2: Death Valle.
Em Red Tide, o escritor Harry Gardner (Finn Wittrock) se muda com a esposa grávida, Doris (Lily Rabe), e a filha, Alma (Ryan Kiera Armstrong), para uma cidade litorânea, onde pretende escrever um roteiro. O local é estranho e repleto de pessoas pálidas e carecas que perseguem a família. Para piorar a situação, Harry não consegue escrever e o prazo de entrega está chegando. Tudo muda quando Harry é apresentado a Musa, uma pílula que é capaz de aumentar a criatividade e a produtividade de qualquer pessoa que tem talento, mas é claro, que ela tem efeitos colaterais.
Já em Death Valle, um grupo de quatro amigos, que viaja pelo deserto, se encontra com uma luz misteriosa, que os deixa enjoados. Mais tarde eles descobrem que estão todos grávidos, inclusive os homens.
Red Tide
A primeira parte de American Horror Story: Double Feature vai até o sexto episódio e é uma espécie de história de vampiros. Acompanhamos Harry, um talentoso escritor que precisa escrever um roteiro, e que se muda de Nova York, com a família, para uma cidade litorânea. No começo tudo parece perfeito, Harry não só tem a família ideal, como a cidade também é linda, ainda que um tanto quanto cinzenta.
Mas aos poucos vamos descobrindo que nada é bem o que aparenta ser. O casamento de Harry e Doris não anda às mil maravilhas e ela não se dá muito bem com a filha, que está com ciúmes do irmão prestes a nascer. Alma, a filha de Harry e Doris, é uma violinista talentosa e extremamente perfeccionista, que acha que o pai é inteligente, mas a mãe nem tanto. Harry também não consegue escrever de jeito nenhum, e não demora muito para que a família note que a cidade está repleta de pessoas pálidas e carecas, que segundo a delegada (Adina Porter), são viciados em drogas, mas que parecem um pouco mais assustadores e perigosos do que isso.
Harry então, é apresentado a uma pílula apelidada de Musa, que tem a capacidade de fazer com que pessoas talentosas se tornem muito produtivas, mas em contrapartida, quem a toma passa a sentir sede por sangue.
O interessante da primeira parte da temporada é justamente a maneira com que a série reimagina os vampiros e que essas criaturas finalmente sejam usadas na série antológica, que já passou por várias criaturas e vários subgêneros. Aqui as pessoas passam a sentir vontade de beber sangue a partir do momento em que tomam a pílula, a barganha que existe não é com a vida eterna, mas sim com a possibilidade de produzir incansavelmente e no seu melhor. As criaturas aqui – que nunca são chamadas de vampiros, mas que tem alguns aspectos em comum com o cânone do vampirismo – também não tem problemas em sair no sol.
Death Valle
Já a segunda parte da temporada começa no sétimo episódio e vai até o último – o décimo – e tem como temas os alienígenas. Esse elemento já foi usado de maneira bem tímida na segunda temporada, American Horror Story: Asylum, mas aqui eles ganham mais destaque.
Death Valle segue duas histórias paralelas, uma que mostra várias visitas dos alienígenas aos Estados Unidos ao longo da história, inclusive com o conhecimento de personalidades importantes e de presidentes americanos, e outra que segue Troy (Isaac Cole Powell), Cal (Nico Greetham), Kendall (Kaia Gerber) e Jamie (Rachel Hilson), quatro universitários que estão viajando pelo deserto e que se depararam com luzes estranhas. Os jovens se sentem mal e depois descobrem que estão todos grávidos.
Essa segunda parte tem menos tempo para se desenvolver do que a primeira e em alguns aspectos isso é um problema, porque a história é bem mais simples, ainda que a série passe por vários períodos históricos. Por outro lado, a trama de Death Valle é significativamente menos interessante do que a trama de Red Tide.
Nessa segunda parte não existe muita inovação, já que o roteiro copia muito do que já vimos dentro do subgênero dos alienígenas. O que tem de interessante aqui é o body horror, que fica claro quando descobrimos que os quatro jovens estão grávidos, inclusive os garotos.
Aspectos técnicos de Double Feature
A antologia American Horror Story trabalha com uma série de subgêneros do terror e do horror e também faz várias homenagens, trazendo elementos comuns a histórias do gênero. Nessa décima temporada a ideia é relembrar das sessões duplas de cinema dos anos 30, onde a plateia pagava apenas um ingresso, mas assistia a dois filmes, o primeiro um pouco mais curto, e de qualidade menor – conhecidos como filmes b, justamente porque não eram a atração principal -, e às vezes até uma animação, e o segundo um filme que chamava mais plateia, mais longo e com uma qualidade técnica mais requintada.
American Horror Story: Double Feature faz exatamente isso e apresenta duas tramas diferentes dentro da mesma temporada, mas o resultado não é muito bom. É óbvio que existe uma quebra enorme de expectativa de uma trama para a outra, principalmente porque as duas partes são muito diferentes e nem parecem se passar no mesmo universo. Além disso, a primeira parte tem mais tempo de desenvolver a sua história, que é mais interessante e mais complexa, enquanto a segunda ganha pouco tempo e tem uma qualidade inferior a antecessora, Death Valle não parece ter recebido a mesma dedicação que Red Tide.
Enquanto a primeira parte da temporada se encaixa direitinho na proposta da série e combina com as temporadas anteriores, a segunda parece uma grande viagem sem qualquer sentido. O resultado é uma temporada que vai bem até a sua metade, mas que perde a graça completamente no final.
Ainda assim é preciso ressaltar a qualidade técnica da atração, que hoje em dia já é uma grande produção. Os cenários são bem-feitos e muito imersivos, a cidadezinha onde a primeira parte se passa é sombria e macabra, e os figurinos combinam com essa estética. As criaturas carecas que andam pela cidade também são bem assustadoras, embora os alienígenas não deem muito medo.
Outro ponto alto da temporada é o elenco: Finn Wittrock e Lily Rabe estão ótimos, e Ryan Kiera Armstrong, que interpreta Alma, é assustadora em cena. A série conta ainda com participações de atores que sempre estão presentes na antologia, como Evan Peters, Frances Conroy, Billie Lourd e Denis O’Hare.
American Horror Story: Double Feature começa muito bem e consegue perturbar seu telespectador, mas a mudança brusca de tramas e, pior ainda, para uma trama menos interessante, prejudica demais a temporada, que poderia ter se mantido e se aprofundando em uma história só.