Misery, angustiante e claustrofóbico
Misery – Louca Obsessão (nas edições mais antigas o livro se chama Angústia) provavelmente é mais conhecido pela adaptação cinematográfica de 1992, com Kathy Bates e James Caan. Embora o filme seja uma das melhores adaptações de Stephen King, o livro também é ótimo.
Paul Sheldon descobriu três coisas quase simultaneamente, uns dez dias após emergir da nuvem escura. A primeira foi que Annie Wilkes tinha bastante analgésico. A segunda, que ela era viciada em analgésicos. A terceira foi que Annie Wilkes era perigosamente louca.
No livro, conhecemos Paul Sheldon, um famoso escritor de livros de banca que acabou de escrever seu último livro com a personagem Misery. Sheldon pretende agora se dedicar a escrever livros mais “sérios”. Quando volta da comemoração pelo lançamento do livro, ele sofre um acidente e é resgatado por Annie Wilkes. Uma enfermeira aposentada, solitária, que mora em uma casa isolada, na companhia de uma porca (que ela batizou de Misery, em homenagem a personagem do livro de Sheldon). E por coincidência ela é, como ela mesma diz “A fã numero 1 de Paul Sheldon”.
Misery
Annie percebe que Paul está debilitado e resolve cuidar dele. Para isso, ela o coloca em um quarto e tira o seu acesso às outras pessoas. No começo, Annie parece a anfitriã perfeita, mas não demora muito para que Paul perceba que as coisas não são bem assim.
Um dos pontos mais interessantes desse livro é que, diferentemente de muitos dos que Stephen King escreveu, aqui não há elementos sobrenaturais. Ele foi escrito logo depois de A Coisa (de 1986 e Misery de 1987), que é, segundo o próprio King, o último livro dele a tratar de um monstro ou criatura.
Sendo assim, os vilões de Misery são seres humanos e o terror é quase psicológico e talvez por isso, o livro seja até mais assustador que os outros. Também é interessante ver que a história se passa basicamente em um ambiente só: a casa de Annie. Claro que temos algumas partes em que Annie vai na cidade, mas a ação mesmo se passa na casa.
Annie Wilkes
Ela é considerada, pelo próprio autor, uma das melhores vilãs que ele já escreveu e é impossível discordar. A personagem é cheia de camadas e nós vamos descobrindo isso junto com Paul. No começo, Annie é tão boazinha que Paul chega a compará-la com um anjo. Assim, aos poucos, a vemos se tornando cada vez mais perversa e obsessiva, até o clímax do livro. King também se preocupou em criar toda uma história pregressa para Annie, que é extremamente interessante.
A posição em que os personagens são colocados (Annie exercendo todo o poder, enquanto Paul se vê completamente impotente) é quase um contraponto à grande parte da literatura de suspense/terror, onde geralmente as personagens femininas se vêem refém dos personagens masculinos. O livro fala muito claramente sobre o culto à celebridade, um assunto que ainda é importante ser discutido hoje em dia, ainda mais depois da internet e da facilidade de comunicação entre artistas e seu público, devido às redes sociais. Stephen King é extremamente avesso a isso e é claro que o livro tem muito do que ele pensa, afinal, ele escreveu sobre um escritor que tem que lutar contra uma fã obsessiva.
Outros pontos
A solidão também é um elemento muito presente no livro. Annie é uma pessoa extremamente solitária, ela não se dá bem com as outras pessoas da cidade e só encontra companhia nos livros de Paul. No momento em que ela tem a única pessoa de quem ela se sente próxima ao seu alcance, ela faz de tudo para que ele também se torne um solitário e que eles possam viver só os dois, em uma relação idílica que só existe na cabeça dela.
A maneira como ela se sente dona não só da vida de Paul, como também da sua mente, das suas palavras e de seus personagens, reflete de maneira bem clara como nós nos sentimos em relação aos nossos livros, filmes ou séries favoritas, independentemente da opinião ou das ideias dos seus próprios criadores. Isso cria uma ligação entre o leitor e a vilã do livro e nos faz questionar até onde nós iríamos se tivéssemos nosso escritor/músico/cineasta/ator favorito em nosso poder.
Muito bem escrito, angustiante (como diz o título das edições mais antigas), e claustrofóbico, Misery – Louca Obsessão é um terror psicológico extremamente real e que certamente pode ser colocado entre os melhores livros de Stephen King.
Esse eu ganhei da própria Fernanda! Gostei muito e do filme também!
Esse eu ganhei da própria Fernanda! Gostei muito e do filme também!
Que sacada, utilizar a própria relação do escritor com o personagem para motivar a antagonista a percorrer essa linha de tempo progressiva de terror. Ótimo texto.
Que sacada, utilizar a própria relação do escritor com o personagem para motivar a antagonista a percorrer essa linha de tempo progressiva de terror. Ótimo texto.
Que sacada, utilizar a própria relação do escritor com o personagem para motivar a antagonista a percorrer essa linha de tempo progressiva de terror. Ótimo texto.
Obrigada, Luan!
Que bom que gostou! 🙂