As Histórias de Meu Pai

Brincadeira ou loucura?

Emile (Jules Lefebvre) tem 12 anos e acredita em todas as histórias que seu pai, André (Benoît Poelvoorde), lhe conta. Segundo André, ele já foi cantor, jogador de futebol, professor de judô, paraquedista, espião, pastor de uma igreja pentecostal americana e assessor pessoal do general Charles De Gaulle.

Um dia, André fala para seu filho que precisa da ajuda dele para salvar a Argélia e Emile recruta seu amigo da escola, Luca (Tom Lévy). Ao mesmo tempo, ele começa a perceber que as histórias do seu pai não fazem tanto sentido assim, e que a missão que lhe foi entregue pode ser perigosa.

Histórias fantásticas

As Histórias de Meu Pai parece, inicialmente, uma comédia, isso porque o filme se baseia em um hábito muito comum entre famílias, que são as histórias pessoais que são passadas de gerações para gerações. Claro que é natural que as histórias, repetidas depois de anos dos acontecimentos narrados, já tenham se modificado e que a pessoa que a está contando tenha as aumentando um pouco, mas André, o pai do protagonista do longa, ultrapassa esses limites.

Emile e o pai, André
Emile e o pai, André

André conta uma série de histórias para seu filho, que provam o quão talentoso, inteligente e glorioso ele é, segundo André, ele já teve várias profissões bem diferentes entre si e tem um melhor amigo nos Estados Unidos que é segurança pessoal de John F. Kennedy – o filme se passa nos anos 1960. Emile, de 12 anos, acredita em tudo o que o pai diz, e o vê como um ídolo.

Para a plateia, no entanto, as histórias soam fantásticas demais, ainda que elas estejam todas calcadas na realidade e que não exista nenhum elemento sobrenatural ou não-humano aqui, elas só não são razoáveis quando se pensa um pouco mais sobre elas. As Histórias de Meu Pai se delimita aí: Emile acredita nas histórias de seu pai, pelo menos por um tempo, e é possível supor que o próprio André acredita no que conta, mas a plateia tem desconfianças, que são confirmadas pela mãe de Emile, Denise (Audrey Dana).

Entre a fantasia e a loucura

Mas o que começa como uma diversão entre pai e filho, logo toma rumos um pouco mais sérios. A plateia nota que André é ou alguém que mente deliberadamente, talvez até para distrair seu filho, ou alguém que acredita nas histórias que ele cria, mas ele parece inofensivo, até que a trama se mostra um pouco mais sinistra.

A plateia nota os problemas de André, mas seu filho não
A plateia nota os problemas de André, mas seu filho não

André não só inventa histórias para o filho, mas ele também é violento com Denise, a tratando mal e, em determinado momento do filme, a deixa para fora de casa durante a noite toda porque não gostou que ela saiu. Todos esses momentos deixam claro que aquela não é uma situação familiar normal, e que André é um homem violento e abusivo e não só alguém criativo.

Quando André pede ao filho que lhe ajude a salvar a Argélia, a plateia já sabe que tem alguma coisa muito séria acontecendo com aquele homem, ainda que o plano seja escondido de Denise, que é muitas vezes o termômetro adulto e são do filme, que deixa claro à audiência o que tem de errado ali, mas o próprio Emile começa a desconfiar de tudo que já foi lhe dito e, claro, do que o pai está propondo.

As Histórias de Meu Pai usa de uma tradição que começa de maneira inocente para denunciar comportamentos bem mais perigosos e até criminosos.

O longa parece, inicialmente, uma comédia
O longa parece, inicialmente, uma comédia

Aspectos técnicos de As Histórias de Meu Pai

A primeira coisa que é preciso ressaltar é que esse é um filme muito bem caracterizado, que se passa nos anos 1960 e não só faz referências a essa época, como também tem figurinos bem realistas, que fogem daqueles estereótipos e que muitas vezes lembram fantasias. Fica claro logo no começo a década que está sendo retratada.

O longa também tem boas atuações, Audrey Dana, por exemplo, está muito bem, mas quem se sobressai é Benoît Poelvoorde, que consegue ser esse pai amigo, que conta histórias, e essa pessoa violenta e irascível, que obviamente não raciocina direito.

Naturalmente a trama é interessante e se sai bem nessa transição que faz do que é, aparentemente, uma comédia, mas que aos poucos se torna um drama, com contornos perturbadores, e o longa começa muito bem, prendendo a atenção do telespectador rapidamente. Ele se torna um pouco mais lento mais para o final do filme, o que não atrapalha a experiência.

As Histórias de Meu Pai parte de uma trama simpática e relativamente simples, que cativa a audiência, mas logo mostra a que veio e suas intenções são bem mais dramáticas e completamente fincadas na realidade. O filme chega aos cinemas no dia 9 de fevereiro.

As Histórias de Meu Pai

Nome Original: Profession du père
Direção: Jean-Pierre Améris
Elenco: Benoît Poelvoorde, Audrey Dana, Jules Lefebvre, Tom Levy, Nicolas Bridet
Gênero: Drama
Produtora: Curiosa Films
Distribuidora: Pandora Filmes
Ano de Lançamento: 2020
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