Assassinos da Lua das Flores (2023)
Retratando a extinção gradual de um povo, Martin Scorsese se cerca de sensibilidade e nenhuma hipocrisia, enquanto narra eventos históricos em um drama potente, de excelentes atuações de um elenco para lá de entregue, com muita dor e resoluções agridoces. As performances de um chucro Leonardo DiCaprio, um perverso e cínico Robert De Niro e uma adorável Lily Gladstone enchem a tela de coração e aflição. Cada momento importa, as três horas e meia não pesam na sessão. Cada registro é uma mescla de brutalidade indiferente com punição de dar gosto (ainda que tardia), enquanto Scorsese vai desconstruindo uma visão de western.
Interessante conhecer a história por trás do afiado roteiro de Eric Roth, que a princípio dedicaria o enredo para mostrar as origens do FBI (que ainda existem aqui, mas mais contidas e apresentadas somente no terceiro ato) e que depois foi repensado para revelar com mais sinceridade o apagamento do povo Osage. Esses ajustes ficam ainda mais evidentes na resolução (não tem spoilers aqui, mas leia por sua conta e risco), que ao invés de usar os recursos típicos de um drama baseado em fatos, com o letreiro apresentando os desfechos que não foram mostrados no filme em si, opta por uma espécie de dramatização relatando os últimos acontecimentos, com a participação do próprio diretor.