Até a Morte: Sobreviver é a Melhor Vingança
Uma premissa interessante impulsiona a trama de Até a Morte: Emma (Megan Fox) tem um casamento falido com Mark, um advogado de alto escalão (Eoin Macken), seu ex-defensor num caso de agressão de muitos anos atrás. Ela tem um caso com um colega do marido (Tom, vivido por Aml Ameen), com o qual deseja romper graças ao peso na consciência gerado por seu aniversário de casamento. Mark, para celebrar a data, organiza uma série de eventos que culmina com uma noite na casa do lago do casal. E é lá que tudo se desenrolará.
Mark é frio e possessivo; dentro da casa, revela-se também maquiavélico, levando Emma a viver situações de muita tensão iniciadas com um tiro que o marido dá. Surgem então as melhores ideias do filme: numa clara alegoria ao fardo de um casamento morto, na metáfora do laço que não pode ser quebrado (representados por algemas e um colar) e na presença de um homem que revive de maneira doentia a dor que a protagonista viveu em tempos passados, tudo representa reflexões sobre relações desiguais e dominadoras e parceiros capazes das coisas mais tenebrosas para exercer seus desejos. Como todo filme de horror precisa ser: um trampolim para discussões que vão além do que vemos diretamente na tela.
Entretanto, depois da proposta inicial, o filme cai no banal: o aprisionamento decorrente de situações do meio ambiente e a fustigação de invasores externos poderiam ser melhor trabalhados, mas Emma se vê em situações complicadas das quais não se veem saídas plausíveis. O roteiro, aí, cria licenças poéticas para tentar ajudar a moça, como que percebendo que exagerou no nível de dificuldade (vide a cena em que ela aparece de repente vestida com uma roupa de manga comprida, sendo completamente inviável, dada a situação em que se encontra, de vesti-la).
Até a Morte
S.K. Dale (responsável pelo premiado filme de terror The Coatmaker) demonstra que entende a essência da proposta em se fazer um filme de horror: partindo de boas ideias, ele procura desenvolver ritmo à trama; ganha bons pontos aqui. Entretanto, não consegue engrenar uma boa atuação de Megan Fox, exuberante como sempre, mas muito limitada: não passa credibilidade nas sensações que vive no longa, optando por querer transmitir a força de uma mulher guerreira à moda de Mad Max, sem ter os trejeitos físicos necessários.
O filme é um pouco lento no início por tempo demais. Além disso, o casal Emma-Mark é excessivamente frio, seus rostos praticamente não se movem quando falam e, como sempre, o semblante de Fox é generosamente exibido na tela, e seu ar sem vida obriga o seu companheiro de cena Macken a forçar uma atuação excessivamente blasé. Nessa hora, um pulso mais firme do realizador poderia ter amenizado isso. Passa-se a sensação de que Dale recebeu nas mãos o texto de Jason Carvey e o implementou, sem coragem de apagar as arestas que vieram com ele. Quanto aos momentos de susto, os enquadramentos resultaram corretos; as cenas de externa receberam um esmero na fotografia e o som está bom.
No resumo geral, Até a Morte: Sobreviver é a Melhor Vingança é um filme agradável para quem gosta do gênero. Uma boa diversão, mas não mais que isso.