B.P.D.P. Origens: 1946-1947, de Mike Mignola
Da primeira vez que a Mythos HQs trouxe o B.P.D.P Origens: 1946-1947 para o Brasil, eu vivia um período turbulento pessoal e financeiramente, acabei deixando passar e essa HQ se tornou um artigo de luxo, pois foi a única edição do personagem a se esgotar por aqui… só ganhando reimpressão nesse ano. Para um cara que coleciona tudo do HB há mais de 20 anos, tal material era imprescindível.
Agora, aliado ao Joshua Dysart nos roteiros, o mestre Mike Mignola inicia de fato seu universo expandido, mostrando as fundações do Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal, com Trevor Bruttenholm como protagonista dos dois primeiros anos, 1946 e 1947, certeiramente bem localizado no pós-guerra e, portanto, contando também com soldados humanos e sem qualquer paranormalidade, além de suas grandes habilidades em campo.
A mão de Dysart pesa consideravelmente nos dois enredos, com uma escrita mais arrojada e verborrágica. Parece denotar personalidade própria para esse segmento, onde Hellboy mal aparece, sendo um mero figurante de luxo. Certamente com razão, afinal ainda era uma criança que só queria brincar com o cachorro no quintal. Isso tudo soa mais coeso, afinal não estamos aqui pra ler mais uma aventura do vermelhão e sim compreender melhor como era o mundo antes de suas ações e como as pessoas se viravam sem sua presença.
B.P.D.P. Origens: 1946-1947
Claro que Mignola já trabalhou com outros roteiristas antes (e com o triplo de artistas), mas fica evidente as liberdades que ele dá para para Joshua nesses quadrinhos. Isso favorece a história o tempo todo! Pois enquanto o convidado explora os traumas dos soldados – os mesmos tem de se defrontar com cabeças de nazistas, gorilas cibernéticos, vampiros primitivos e vampiros de elite –, o mestre se atém às passagens de horror em sua essência, o que mantém a identidade da obra.
Paul Azaceta realiza um trabalho competente em 1946, que aproxima o leitor do realismo proposto, mas são nossos brasileiros Gabriel Bá e Fábio Moon quem brilham pra valer no ano seguinte, alternando entre sequências; apesar de semelhantes artisticamente falando, eles possuem características próprias de estilo. Para quem conhece, é divertido ficar tentando fisgar a participação de cada um, quem fez o quê, ao seguir pela história de um homem que é feito cativo de duas criaturas.
Enquanto isso, algo maior rola no pano de fundo. Destaque ainda para a “garotinha russa” Varvara, uma das personagens mais cativantes da trama e que volta a aparecer nas publicações futuras.
Muito bem!
Por mais improvável que pareça, a aliança de Mignola com Dysart funciona do começo ao fim. O primeiro sustenta seu DNA em cada quadro (ele faz o storyboard de todas suas HQs, mesmo quando desenhada por outros); enquanto o roteirista convidado insiste em burocracias, fatos históricos e lendas fundamentadas, com um apuro incrível. Assim como quando o filho quer agradar o pai, algo que fica evidente no prefácio de Joshua.
O encadernado da Mythos segue o bom acabamento das mais recentes edições, onde além de compilar as duas histórias principais, traz ainda dois contos menores ao final da revista, com uma pequena galeria de capas, mas sem os famosos glossários de termos ou cadernos de esboços, que tanto marcaram as demais HQs do personagem pela editora.