Babenco: Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer Parou

O escolhido para representar o Brasil no Oscar

O primeiro longa-metragem de Bárbara Paz, Babenco: Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer Parou, foi selecionado para mais de 20 festivais internacionais e já conquistou quatro prêmios incluindo Melhor Documentário no 76º Festival Internacional de Cinema de Veneza. É também o escolhido para representar o Brasil na próxima cerimônia do Oscar. Abaixo você pode ver o momento emocionante onde ela recebe o leão de ouro e aproveita a ocasião para protestar e homenagear o cineasta que também foi seu marido.

Sinopse: “Eu já vivi minha morte, agora só falta fazer um filme sobre ela” – disse o cineasta Hector Babenco a Bárbara Paz, ao perceber que não lhe restava muito tempo de vida. Assim, ela aceitou a missão e realizou o último desejo do companheiro: ser protagonista de sua própria morte.

Nesta imersão amorosa na vida do cineasta, ele se desnuda, consciente, em situações íntimas e dolorosas. O longa, que nem é tão comprido assim, revela medos e ansiedades, mas também memórias, reflexões e fabulações de Hector, num confronto entre vigor intelectual e a fragilidade física que marcou sua vida.

Hector Babenco e Bárbara Paz
Hector Babenco e Bárbara Paz

Babenco: Alguém tem que ouvir o coração e dizer parou

Do primeiro câncer, aos 38 anos, até a morte, aos 70 anos, Babenco fez do cinema seu remédio e alimento para continuar vivendo. Este documentário é o primeiro filme de Bárbara Paz mas, também, de certa forma, a última obra de Hector – um filme sobre filmar para não morrer jamais.

Pra quem não sabe, Hector Babenco foi um cineasta argentino naturalizado brasileiro de ascendência judaico-ucraniana. Ele dirigiu filmes como “Pixote, a Lei do Mais Fraco” e o fantástico “Carandiru“. Além disso, recebeu a indicação ao Oscar de melhor direção em 1986 por O Beijo da Mulher Aranha, filme que deu a estatueta a William Hurt.

Sendo assim, sua carreira foi recheada de filmes urgentes, filmes que passaram mensagens de críticas sociais e histórias fortes que fazem pensar. Histórias de amor, de polícia e bandido, de infâncias perdidas, de vidas conturbadas e muita poesia.

Hector e Bárbara

O relacionamento de Bárbara e Hector fez surgir na atriz esse desejo de eternizar seu grande amor no formato cinematográfico, afinal, foi o próprio cinema que manteve Babenco vivo. Para ele, certamente existia a poética dúvida do que vinha primeiro, filmar ou estar vivo.

Mas o verdadeiro último trabalho do cineasta foi (também) em dupla com a parceira, a publicação do livro “Mr. Babenco: Solilóquio a Dois Sem Um”. Entremeada de registros fotográficos, a obra traz memórias dos últimos anos de vida do cineasta, que morreu em 2016 por uma parada cardíaca.

O livro passa por histórias da infância dele na Argentina, seus poemas escritos durante a adolescência, a descoberta do primeiro câncer e questionamentos sobre a vida e a morte, além de comentários sobre sua obra cinematográfica e seus bastidores.

Babenco

O coração que não quer parar

Além do material para o filme, os dois gravavam também suas conversas, que eram permeadas por inquietações, memórias e “todo o lirismo com o qual Hector regeu a vida”. O livro e o documentário são duas obras de arte complementares. “Solilóquio a Dois Sem Um” é uma espécie de poema de amor, de Bárbara Paz para Hector Babenco. Quanta poesia, né? Não é à toa que o escolheram para disputar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Pela primeira vez o Brasil manda um documentário.

É durante o processo deste documentário que Babenco escreve seu último filme, Meu amigo hindu (2015), onde o americano Willem Dafoe vive seu alter ego, e Bárbara vive sua amada. Um triângulo artístico que se fortalece e se torna uma grande amizade. Sempre presente, Dafoe colabora neste filme de Bárbara, tornando-se seu produtor associado. Além, é claro, de atuar um pouquinho.

Nas palavras de Bárbara Paz: “Eu tinha muitas imagens dos últimos dias no hospital, do velório etc. Mas senti falta de garimpar lá atrás, as imagens de arquivo, ele jovem, como estava quando rodou cada filme. Encontrei muito material jornalístico – quase nada muito pessoal. Todo mundo que colaborou no filme – Eduardo Escorel, Marília Moraes, Maria Camargo – foram importantes. E ressaltavam que o mais importante era manter esse pedaço do Hector que só eu tinha, aquele mais pessoal. A ideia era registrar o homem, o ser humano, que por um acaso foi cineasta.

Willem Dafoe, Bárbara Paz e Hector Babenco

Contar a história para poder esquecê-la

Um pouco antes de Hector falecer, Bárbara mostrou um teaser do filme pra ele e sua conclusão foi: “É… até que eu sou um homem interessante. Você pode fazer o que quiser neste filme. Estou te dando meu passaporte.” Assim, Bárbara nos trouxe um filme muito pessoal, bonito e poético. Quando viu o filme, o Willem Dafoe disse que estava diante de um milagre, uma obra com o cheiro do Hector. Disse também que tinha muito orgulho de estar nas vidas deles.

Babenco estava com medo de perder a memória e a visão, ou seja, tudo o que ele foi a vida inteira. Como um homem como ele podia ficar sem ler? Então foi tudo muito dolorido pra ele. Ele sentiu que o círculo estava se fechando. Fazer o filme, portanto, era uma forma de poder perder a memória sem tanto sofrimento. Deixar registrado para então poder seguir em paz.

Babenco: Alguém tem que ouvir o coração e dizer parou é uma bela homenagem de uma mulher apaixonada a um homem apaixonado (por cinema e pela vida também). Certamente vai agradar mais àqueles que acompanharam a carreira e que gostam dos filmes do diretor, mas também pode ser uma grande lição aos amantes da sétima arte. O filme entra em cartaz hoje, dia 26 de novembro.

Babenco: Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer Parou

Nome Original: Babenco: Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer Parou
Direção: Bárbara Paz
Elenco: Hector Babenco, Regina Braga, Willem Dafoe, Bárbara Paz
Gênero: Documentário, Biografia
Produtora: HB Filmes
Distribuidora: Imovision
Ano de Lançamento: 2019
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