Belle – Desventuras no metaverso

O enredo de “Belle” nem se preocupa em esconder que é uma versão anime futurista da clássica história de “A Bela e a Fera”. Do diretor/roteirista Mamoru Hosoda, que eu não conhecia, mas aparentemente é uma grande figura do cenário japonês de animes, a obra é suntuosa, linda e enorme em vários sentidos. Talvez em mais sentidos do que fosse necessário, tem uns quatro ou cinco filmes neste filme aqui, todos artisticamente exuberantes, mas uns melhores que outros.

Metaverso

Para começar, a ambientação da história principal: é numa espécie de jogo online chamado “U”. Um metaverso mesmo. Um Second Life, ou sei lá qual que é o ambiente de realidade simulada do momento aí. Cada indivíduo corresponde a um avatar e pode manter o anonimato da sua persona em vida real. Sim, eu sei, tema batidão, já foi explorado demais, nada de novo nesse quesito.

A gente acompanha a história de Suzu, que cria sua conta, usa uma outra foto pra gerar sua imagem de perfil, assume a alcunha de Belle e começa a crescer em popularidade dentro do jogo, se tornando uma celebridade, uma verdadeira Casimiro Miguel japonesa. Aí, tem a versão da fera, que vai lá e sequestra Belle. Não sei por que ela não desconectou, fez um fast travel, mudou de servidor, sei lá, mas precisava mesmo desse drama todo aí, senão não tinha filme.

Belle

Daí pra frente essa área do filme vira “A Bela e a Fera” mesmo, incluindo um castelo, uma polícia-supresa da internet fazendo papel de Gaston e até pétalas de rosa digitais.

Só o ambiente virtual que é meio mal explorado, não explica direito a que veio. Não é pop e bem montado como o de “Ready Player One“, não tem um objetivo claro como em Fortnite, não tem a maluquice de um GTA Online. Nesse ponto, ele é claramente inspirado em um metaverso, não serve pra muita coisa, tá só lá.

Vida offline

Mas se faltou detalhe na vida online, a vida offline dos personagens é, de forma surpreendente, extremamente interessante. Cada personagem tem várias camadas e histórias envolventes e dá pra dizer que o filme funciona melhor na sua metade offline do que na metade online. Os cenários reais também são lindíssimos, esmeramente trabalhados.

Belle

Por um lado, o mundo online é tão escancaradamente digital que isso ajuda bastante na divisão entre cenários online e offline do filme. Ambos são lindíssimos, e um acerto é saturar de informação o mundo de “U”, como se fosse um desavisado entrando no twitter em noite de paredão de BBB. Os detalhes de ambos são preciosos.

E outro grande destaque vai para as músicas: Belle se torna uma artista com uma voz doce e suave como mil Milton Nascimentos em uníssono. As músicas que ela canta são deliciosas de se ouvir, mesmo sendo em japonês e eu não entendendo bulhufas.

Belle

No fim, porém, o filme acaba sendo meio que uma releitura de uma história batida. Há muito acontecendo e no final parece que são várias histórias que passam muito rápido. A vontade que fica é de ter gastado um pouco mais de tempo em todas elas, mas principalmente naquelas que não tem nada a ver com “A Bela e a Fera”, que afinal é uma história que eu já vi vezes demais na minha vida.

Talvez os 14 minutos que o filme foi aplaudido no Festival de Cannes tenham sido meio exagerados, mas sim, é um filme bem lindão, mesmo que você já saiba o final dele só por conta do título.

Belle

Nome Original: Ryû to sobakasu no hime
Direção: Mamoru Hosoda
Elenco: Vozes de Kaho Nakamura, Ryô Narita, Shôta Sometani, Tina Tamashiro
Gênero: Animação, Aventura, Drama
Produtora: Studio Chizu
Distribuidora: Paris Filmes
Ano de Lançamento: 2021
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