A Bela e a Fera, o live action da Disney

A Bela e a Fera conta a história de Bela (Emma Watson), uma garota inteligente e sonhadora. Ela mora em um pequeno vilarejo na França, com seu pai, Maurice (Kevin Kline). Ela tem que lidar diariamente com as cantadas de Gaston (Luke Evans), que quer se casar com ela. Bela se sente completamente diferente das outras pessoas no vilarejo e passa boa parte do seu tempo lendo.

Um dia, seu pai sai em viagem e acaba preso no castelo de uma perigosa Fera (Dan Stevens). Bela então, se oferece para ficar como prisioneira no lugar de seu pai. Uma vez lá, ela descobre uma variedade de objetos que falam e que existe uma maldição que assombra a Fera.

A Bela e a Fera é a versão live action da animação da Disney de mesmo nome, de 1991. Que, por sua vez, é inspirada no conto de fada escrito por Gabrielle-Suzanne Barbot.

A dança do casal de protagonistas
A dança do casal de protagonistas

Um conto de fadas diferente

Existem milhões de versões de A Bela e a Fera, assim como acontece com a maioria dos contos de fadas. A versão mais conhecida é a escrita por Jeanne-Marie LePrince de Beaumont. Já a versão apresentada no filme é inspirada no desenho da Disney, que fez diversas alterações.

Certamente existem muitos conceitos em A Bela e a Fera que podem ser discutidos e considerados estranhos. Como a ideia dela se apaixonar pelo seu raptor, por exemplo. Mas muito disso acontece porque os contos de fadas, quando surgiram, funcionavam mais ou menos como lendas urbanas. Eles eram usados para alertar as pessoas sobre os perigos que elas corriam. Mas mesmo a versão de 1991 já tinha modernizado um pouco da história. O que apareceu ainda de maneira mais forte nessa versão de 2017.

Bela é bem diferente da ideia que nós fazemos de uma “princesa da Disney”. Primeiro que diferentemente de algumas protagonistas de animações, como Cinderela e Branca de Neve, Bela não é uma princesa, e nem quer ser. Ela também não tem como ambição se casar. Como acontece com grande parte das princesas que a Disney criou antes dela. Muito pelo contrário, o que Bela quer é sair de seu vilarejo e viver aventuras. Mais ou menos como um dos heróis da Disney.

Dan Stevens e Emma Watson em cena do filme
Dan Stevens e Emma Watson em cena do filme

Bela é uma ávida leitora

Bela também é a única “princesa da Disney” que gosta de ler e passa boa parte do tempo fazendo isso. O que dá a ela uma personalidade um tanto diferente. O que o filme diz é que é justamente porque ela lê que ela não consegue se ver casada e cuidando da casa, do marido e dos filhos. O fato de Bela ser uma leitora tão voraz é algo que é comentado, de maneira crítica, pelos personagens do filme o tempo todo. Mas que é colocado como uma coisa positiva pelo roteiro.

Gaston diz, em diversos momentos, que não pode fazer bem para uma mulher ler tanto assim. Afinal, isso pode começar a dar ideias a ela. E em uma cena que não existe na animação, a população do vilarejo acha ruim que Bela ensine uma menina a ler.

Essa ideia de que Bela é uma leitora e mais inteligente que as outras pessoas do vilarejo, não existe no conto original. Embora a trama deixe claro que, entre suas irmãs, ela é a única que não é fútil. Uma vez que em função da viagem do pai, todas as irmãs peçam que ele as traga roupas e Bela peça apenas uma rosa. O conceito de que quem deseja roupas é necessariamente fútil, é errado. Mas funciona dentro do universo dos contos de fadas, onde as coisas são mais simplificadas. E pode ter levado os roteiristas da animação da Disney a decidirem que Bela seria uma personagem feminina diferente das que o estúdio tinha criado antes, o que é ótimo.

Emma Watson como Bela
Emma Watson como Bela

Uma história fora dos padrões

Outro ponto que diferencia A Bela e a Fera de outros contos de fadas é que leva um tempo para que o casal título se apaixone. Eles primeiro se odeiam, então, se toleram e mais tarde, passam a se conhecer e por fim, se apaixonam. Se analisarmos os filmes mais antigos da Disney, como Branca de Neve e Os Sete Anões (1937), Cinderela (1950) e A Bela Adormecida (1959), veremos que os príncipes se apaixonam pelas princesas apenas olhando para elas e as princesas, muitas vezes, se apaixonam pelos príncipes simplesmente porque acabaram de acordar depois de um beijo deles.

O live action de 2017 tem ainda mais um ponto favorável. É o primeiro filme da Disney a ter um personagem abertamente gay. Lefou (Josh Gad), que no desenho vivia atrás de Gaston, nessa nova versão deixa um pouco mais claro que toda essa servidão é um pouco mais do que pura admiração. Não tem nenhuma cena explícita, mas o conteúdo está bem claro.

O amor verdadeiro

A Bela e a Fera têm ainda mais um ponto positivo: o filme fala sobre o amor acima de aparências. É verdade que a maioria dos contos de fadas tem como premissa a busca pelo amor verdadeiro. Mas geralmente esse amor verdadeiro vem acompanhado de príncipes encantados e princesas perdidas com rostinhos bonitos e temperamentos amenos. E tudo costuma dar certo a partir do momento que o casal se vê pela primeira vez.

Bela e seu pai, Maurice
Bela e seu pai, Maurice

Não é o caso de A Bela e a Fera, que já apresenta uma relação um tanto quanto diferente. O casal principal não se conhece por livre e espontânea vontade. Bela conhece a Fera porque ela é sua prisioneira. O relacionamento dos dois se desenvolve pouco a pouco, até que eles se vêem apaixonados.

O interessante em A Bela e a Fera é que Bela não se apaixona por um príncipe bonito, ela de fato se apaixona pela Fera, com o rosto que lembra o de um leão.

Um relacionamento estranho

É claro que podemos destacar diversos pontos negativos sobre essa relação. Primeiramente que o filme reforça o conceito de que garotas devem ser bonitas, enquanto os homens não necessariamente dependem da sua beleza física. Mas lembre-se que, embora Bela seja considerada “a garota mais bonita do vilarejo”, a Fera não se importa muito com isso. Ele acaba se apaixonando pela Bela em função da personalidade dela. Assim como Bela se apaixona pela Fera em função da personalidade dele.

Aliás, quem se “apaixona” pela Bela em função da sua beleza física é o Gaston, o vilão do filme. Seria interessante se os papéis estivessem invertidos? Seria, mas quem sabe um dia a gente não ganha uma versão assim?

Os objetos encantados
Os objetos encantados

Em segundo lugar, a Fera tem uma personalidade um tanto quanto bruta no começo do filme. Ele prende Bela, o que é um crime e a trata mal durante bastante tempo. O fato dela se apaixonar por ele mesmo assim, pode reforçar a ideia de que quando você tem um relacionamento com uma pessoa que é grosseira e violenta, o que você pode fazer é se manter ao lado dela mesmo assim, esperando que ela mude.

O que é errado e a única maneira de justificar isso é que o conto foi escrito há muito tempo e que os contos de fadas são repletos de coisas absurdas. Como, por exemplo, abóboras que viram carruagens e vovozinhas que são retiradas inteiras e com vida de dentro da barriga de um lobo, que na maioria das vezes, funcionam apenas como metáforas.

Apesar dos pesares…

No entanto, A Bela e a Fera ainda é um dos filmes da Disney que mais tem qualidades positivas. Uma delas é justamente se desvencilhar dessa ideia de que a beleza é algo tão importante. Uma mensagem que está muito presente nos filmes mais antigos deles. Na época da produção da animação, os desenhistas tiveram até um pouco de dificuldade em criar o visual para o Gaston, já que geralmente os vilões da Disney são esteticamente feios. Mas isso não poderia acontecer com o Gaston, uma vez que ser bonito faz parte da descrição do personagem.

Por isso, A Bela e a Fera é a primeira animação da Disney que tem um vilão bonito. E no caso de Gaston, esse é justamente o problema, já que é por isso que ele é fútil e só se preocupa com a aparência. Por outro lado, a Fera, que é considerada um monstro, não o é de fato. Essa é uma mensagem interessante para se passar.

Gaston e Lefou
Gaston e Lefou

A Bela e a Fera de 2017

O filme de 2017 é extremamente fiel à animação. E nem poderia ser diferente, uma vez que a produção tinha que se preocupar em agradar milhares de fãs. Para isso, os roteiristas mantiveram a trama bem parecida, fazendo pequenas alterações e algumas modernizações.

O figurino do filme é especialmente bonito, e repete algumas das roupas que aparecem na animação, especialmente os dois vestidos clássicos de Bela, o azul que ela usa no vilarejo e o amarelo, que ela usa na cena de dança. Além disso, o filme ainda acrescenta diversos outros vestidos, um mais bonito que o outro. A direção de arte também é extremamente parecida com a do desenho.

A mudança ficou por parte dos objetos encantados que habitam o palácio, que no filme de 1991 tinham uma aparência mais infantil e mais fofinha. Aqui parecem um pouco mais adultos e portanto, mais realistas. O filme de 2017 também reuniu um elenco estelar para dar voz aos objetos. Entre eles estão Ewan McGregor como Lumière, Emma Thompson, como Mrs. Potts, Ian McKellen como O Relógio, Audra McDonald como Madame Garderobe e Stanely Tucci como Cadenza.

Lefou é o primeiro personagem abertamente gay da Disney
Lefou é o primeiro personagem abertamente gay da Disney

A trilha sonora e as premiações

Já as músicas também foram mantidas as mesmas que aparecem no desenho (e na versão de A Bela e a Fera da Broadway, de 1994). Com algumas mudanças, o elenco que canta todas as músicas. Entre elas estão Belle, Gaston, Be Our Guest, Something There e Beauty and The Beast. O filme de 2017 também inclui a música Days in the Sun, que não está nem na animação, nem no musical.

O filme de 2017 foi indicado a dois Oscars: direção de arte e figurino. Já a animação foi a primeira a ser indicada ao Oscar de melhor filme. Além disso, recebeu mais cinco indicações: melhor canção original (por Belle), melhor canção original (por Be Our Guest), melhor canção original (por Beauty and The Beast), melhor mixagem de som e melhor trilha sonora. Levou para a casa o de melhor canção original por Beauty and The Beast e o de melhor trilha sonora.

A Fera
A Fera

O musical já passou por diversos países como Inglaterra, Canadá, Argentina, Espanha e Rússia. Aqui no Brasil, A Bela e a Fera já foi encenado duas vezes. A primeira em 2002, com Saulo Vasconcelos (de O Fantasma da Ópera e Os Miseráveis) como a Fera, Kiara Sasso (de Miss Saigon e A Noviça Rebelde) como Bela e Daniel Boaventura (de Evita e A Família Adams) como Gaston; e a segunda em 2009, com Lissah Martins (ex-Rouge e de Miss Saigon) como Bela e Ricardo Vieira como a Fera.

Certamente existem milhões de versões de A Bela e a Fera, mas nenhuma é tão marcante quanto a versão da Disney. O filme de 2017 transforma a animação em live action e aumenta ainda mais a sensação de sonho que se tem quando assiste ao filme.

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