Birds of Paradise

Kate Sanders (Diana Silvers) acabou de conseguir uma bolsa em uma escola de ballet em Paris, mas se sente excluída no lugar e não sabe se é capaz de batalhar para conseguir um contrato com uma companhia de ballet que contratará uma aluna e um aluno da academia.

Quando ela cruza o caminho de Marine Durand (Kristine Frøseth), uma espécie de rainha dalí e a melhor bailarina da academia, as duas se estranham, mas com o tempo se tornam amigas. A competição, no entanto, vai levar a amizade de Kate e Marine a extremos.

Amigas e inimigas

Birds of Paradise tem duas protagonistas que funcionam em uma dinâmica muito usada no audiovisual: amigas que competem o tempo todo uma com a outra e que não se sentem culpadas em passarem uma a outra para trás em qualquer aspecto da vida. Aqui temos Kate, uma garota de classe média baixa que consegue uma bolsa em uma escola de ballet de elite e que, claro, se sente completamente deslocada; e Marine, filha de um embaixador, a queen bee da escola, que sempre consegue tudo o que quer e que é malvada e mal-educada com todos os outros alunos.

Kate é diferente das outras alunas em muitos sentidos, não só porque ela é de classe média e só pode estar ali por causa de sua bolsa, mas também porque ela é muito menos profissional, embora seja muito talentosa.

Quando as duas meninas se conhecem, elas se odeiam quase que instantaneamente e muito disso se deve porque Kate faz um comentário desagradável sobre o irmão gêmeo de Marine, Ollie, que também estudava na escola e que se matou recentemente, mas logo elas descobrem que vão dividir o mesmo dormitório e, com o tempo, se tornam amigas e resolvem que vão ajudar uma a outra na competição.

Boa parte da movimentação de Birds of Paradise, no entanto, se dá justamente dessa amizade/rivalidade, já que o filme estabelece que Kate é gentil, educada e incapaz de passar alguém para trás, enquanto Marine é grosseira, mimada e está sempre disposta a ganhar, e que ainda que elas decidam que vão se ajudar, existe sempre a pressão da competição e a vontade das duas jovens de se tornarem estrelas do ballet.

O ballet

Mas o grande assunto de Birds of Paradise é o ballet e as competições que se dão entre esses alunos. Ele tem algumas semelhanças com Cisne Negro, já que também aborda bailarinas que estão no seu limite, competindo desesperadamente e almejando um sucesso repleto de dor e sofrimento, mas é basicamente um filme com personagens adolescentes e com tramas mais voltadas para esse público.

Birds of Paradise se passa em uma academia de ballet, em Paris, onde os alunos são internos e onde todo mundo está competindo para conseguir um contrato com uma companhia de ballet. As favoritas são, naturalmente, Kate e Marine. A ideia é mostrar que o ballet não só é uma atividade cansativa e dolorida, como também esse meio é competitivo e até assustador.

De fato, o terreno é muito fértil e pouco explorado, existem poucos filmes de ficção que mergulham nesse universo do ballet, que como mostram Cisne Negro e Suspiria, pode ser um pesadelo. Birds of Paradise até bebe na fonte desses longas, mas não mergulha no terror nem psicológico, nem sobrenatural, preferindo focar sua trama em questões mais adolescentes, mas quando faz isso se perde um pouco, já que não consegue definir se seu público é o adulto ou o jovem adulto.

Aspectos técnicos de Birds of Paradise

O filme não tem um roteiro particularmente inspirado, embora não seja ruim, ele se vende como uma espécie de suspense que pode beirar o terror, mas é um drama que fala sobre questões profissionais, romances, sexo e experimentações. O longa tem algumas cenas assustadoras que provém dos momentos de dança e de algumas cenas de alucinações motivadas pelo uso de drogas dos personagens.

A parte técnica de Birds of Paradise, por outro lado, é bem-feita. O filme trabalha com muitas cores e muitos brilhos, especialmente nas cenas de dança, que chamam a atenção e são, no mínimo, curiosas. A fotografia segue esses padrões, variando entre os tons escuros para a realidade, e os tons fortes e coloridos para as alucinações e para o que vemos no palco, diferenciando o real do imaginário e fantasioso.

Também existe uma preocupação em destacar Kate das outras alunas da academia, presente não só na maneira como ela se porta, mas também nos seus figurinos, mais simples, mais masculinizados, como se ela não tivesse a graça necessária para ser uma bailarina. O estilo é completamente oposto ao de Marine, a bailarina perfeita, graciosa, elegante, muito feminina.

O filme ainda conta com duas atuações muito potentes de Kristine Frøseth e Diana Silvers, muito certas de suas personagens. Birds of Paradise é cheio de cenas de danças lindas e até perturbadoras, que fazem muito sentido dentro da trama.

Mas o longa, infelizmente, perde oportunidades. Ele explora um assunto interessante e um universo com muito material, mas ao invés de focar em como a competição corrói essas amizades e em última medida, os corpos e as mentes dessas estudantes, ele se preocupa em falar sobre relacionamentos amorosos que mais uma vez fazem as protagonistas entrarem em choque, experimentações sexuais que até parecem meio deslocadas no filme, e festas e drogas, que soam meio perdidas na trama.

Birds of Paradise é um filme com bastante cuidado estético, mas que peca no seu roteiro e não sabe se quer ser um filme sobre adolescentes para o público adulto ou um filme adolescente que retrata questões desse período da vida, com um viés um pouco mais sombrio.