Bom Dia, Verônica – 2ª temporada
A continuação de uma das melhores séries nacionais contemporâneas não consegue alcançar o brilhantismo, tensão e o ótimo thriller do original, mas ainda se mantém em alta com o poder da sugestão e um direcionamento que busca não repetir a narrativa de antes, propondo novos caminhos, ainda que muitos deles sejam familiares pela mesma temática: o de diversas espécies de homens abusadores e uma mulher que assume essa jornada, caminhando em uma linha tênue entre a justiça e a vingança.
Tainá Müller continua maravilhosa e cada vez mais à vontade no papel da protagonista, que antes contava com dois atores extremamente triunfais em tela e que fazem muita falta aqui (me refiro a Camila Morgado e Eduardo Moscovis), mas o novo elenco não deixa nada a desejar, a começar por Reynaldo Gianecchini, que emula com muito charme, carisma e cinismo uma espécie de João de Deus com um poder midiático imenso e que propõe um vilão distinto do anterior.
A dinâmica familiar do missionário Matias Carneiro é desconfortável desde a primeira cena, e boa parte disso se deve às atuações tensas de Camila Márdila e principalmente Klara Castanho, que faz a filha dele; o detalhe da atriz ter passado por um caso de exposição recente, envolvendo abuso sexual, amplia as sensações pesadas sobre sua personagem.
Bom dia, Verônica – 2ª temporada
Alguns coadjuvantes que aprendemos a amar ou a odiar na primeira temporada, encontram fins trágicos nessa continuação, em desfechos críveis e impactantes que contribuem com o enredo. Por outro lado, porém, as ligações entre os vilões das duas temporadas soam um pouco forçadas, por mais que se compreenda as intenções da narrativa de conceber um trio maligno de abusadores (com o terceiro se preparando para a terceira temporada).
O último episódio também destoa dos anteriores (que se desenvolvem e se desenrolam bem), com cenas atropeladas ou corridas (a chegada na clínica em Extrema é feita de qualquer jeito, por exemplo), o que deixa uma interrogação se tem a ver com os efeitos da pandemia durante as filmagens.
A produção segue com sua característica qualidade cinematográfica, provando que o Brasil é sim capaz de fazer thrillers policiais de alto nível, como estamos acostumados a ver em Hollywood. Os criadores Raphael Montes e Ilana Casoy, ao lado de sua equipe de roteiristas, entendem a gramática do tema como poucos e oferecem um programa acima da média, que sabe criar desconforto e entreter ao mesmo tempo, mas que também precisa começar a desapegar da ideia de “franquia”, para se manter no nível do original, trazendo de volta a crueza que fez com que nos apaixonássemos por Verônica em sua campanha.