Branca Como a Neve, um conto quase erótico
A história de Branca Como a Neve nos traz Claire (Lou de Laâge), uma bela jovem que trabalha no hotel de seu falecido pai. O local agora é administrado pela sua madrasta Maud (Isabelle Huppert). Inconscientemente a jovem desperta o ciúme incontrolável de Maud, cujo amante se apaixona pela bela enteada.
A madrasta então, como uma verdadeira rainha má, resolve se livrar de Claire, mas ela consegue fugir com a ajuda de um misterioso homem. Assim, ela encontra abrigo em sua fazenda. Então a moça decide ficar no vilarejo e sua beleza causa bastante agitação entre os rapazes locais.
Rapidamente, Claire tem sete homens aos seus pés. Branca Como a Neve é uma jornada de descoberta e libertação, tanto romântica quanto carnal, para ela.
Branca Como a Neve
Anne Fontaine, a diretora e co-roteirista, quis recontar a trajetória da jovem mulher de forma moderna. A história de Branca de Neve já faz parte do imaginário coletivo e pode ser facilmente reconhecida em seu longa, mas essa é uma versão bem mais picante, longe da mulher servil que limpa e cozinha e é totalmente alienada pelos anões.
Primeiramente ela é vista trabalhando no hotel e obedecendo sua madrasta, mas já existe certa independência ali, se observarmos que Claire sempre sai para correr e tem admiração pela música. Já no vilarejo, o emprego que Claire arruma é como garçonete no bar/restaurante, mas seu trabalho fica em segundo plano, tendo em vista que ela consegue fazer um milhão de outras coisas.
Assim, temos uma personagem feminina que cresce e aborda a sensualidade sem um conceito moralizador ou mortificante. Claire é uma moça livre para experimentar diferentes relacionamentos, compartilhar, com sabor, desejo e apetite. Sim, estamos falando de aventuras sexuais com alguns homens, no plural. E tudo bem, não há nada ali para julgá-la.
Sete homens que não tem nada de anões
Todos os homens que Claire encontra pelo caminho são de tamanho normal, mas são sete personalidades bem diferentes. Dessa forma, ela faz amizades e encontra romances e divertimento. E nós, espectadores, recebemos pitadas de humor e de erotismo.
São eles um violoncelista hipocondríaco, um livreiro xavequeiro, um padre amistoso, um atleta tímido, um veterinário obcecado e os gêmeos donos da casa. Uma casa enorme que pode ser tanto protetora quanto opressiva. Claire tem algumas noites de sono tranquilo e outras de medo constante.
Cada um desses homens se aproxima da moça à sua maneira, lhe trazendo boa companhia, risadas, alguns trazem um tanto de luxúria, outros lhe devolvem o prazer de fazer música. Mas todos sempre mantém a moça firme em sua decisão de que aquela é uma nova vida e que ela faz o que bem entender, sem amarras. Afinal, ela está longe de “casa” e de todos que a poderiam julgar.
Maud, a madrasta má
Isabelle Huppert chega chegando em cena, no hotel, ordenando que a moça troque as maças verdes decorativas por maçãs vermelhas. Por que será? A mulher está sempre bem vestida em vermelho vivo em contraste com todos ao seu redor.
Maud quase considera Claire como uma filha. Entretanto, quando descobre que seu amante está, de fato, apaixonado pela jovem, seu objetivo de vida se transforma. Sem mudar suas expressões faciais, sabemos que há nela um misto de atração e ódio e a necessidade de acabar com a vida de Claire.
Nesse ponto o conto moderno poderia ter inovado mais. Convenhamos, a moça já estava bem longe do hotel, longe do amante da madrasta, vivendo uma outra vida. Maud precisaria mesmo tentar matá-la? Sem sentido né… Mas como a ideia era seguir a história original de Branca de Neve, Branca Como a Neve só inova na parte sensual da coisa.
A sensualidade de Claire
A princípio Claire passa a ideia de uma moça incompleta. Ela sofre o trauma da perda dos pais e permanece de pé, trabalhando no hotel, correndo todas as manhãs, mas parece que lhe falta algo para preencher sua alma.
Quando ocorre uma tentativa de assassinato e Claire se vê sozinha numa floresta, logo ela é acolhida pelos homens do vilarejo. A partir daí, dessa decisão dela de ficar por lá, sua personagem cresce e se transforma em uma mulher satisfeita, uma pessoa feliz e infinitamente livre. Ela pode viver como quiser, sem moralidade.
Talvez seja por isso que a sua sensualidade não tem consciência. Ela nem presta atenção nisso, é algo que surge de sua entrega e sua bondade. Ela não faz de propósito, sua pureza e curiosidade a tornam desejável. O problema é que são muitos homens a desejando, isso deve dar muito trabalho.
Resumindo, Branca Como a Neve é como um conto (sem príncipe) que tem fantasia, que pode misturar e distorcer os gêneros. Destaque para os esquilos voyers. Então não leve as crianças ao cinema! O filme entra em cartaz hoje, dia 19 de setembro.