Compra-me Um Revólver, retrato de um México sem lei
Em algum lugar no futuro próximo, a jovem Huck (Matilde Hernandez) usa uma máscara para conseguir esconder que é uma menina, pois as mulheres estão desaparecendo gradativamente na sua cidade. A sobrevivência da garota e dos seus amigos é o mote do filme Compra-me Um Revólver, de Julio Hernández Cordón, que estreia em 30/05, com distribuição da Pandora Filmes.
No longa, Huck ajuda o pai viciado a cuidar de um campo de beisebol abandonado, onde os traficantes se encontram para jogar. O pai tenta protegê-la dos perigos daquela realidade, mas é o grupo de amigos o grande aliado da menina. Juntos, eles vão ter que lutar para superar as dificuldades da vida e derrotar a máfia local.
Compra-me Um Revólver
Numa terra onde tudo é controlado por cartéis, conhecemos a pequena Huck. Essa garotinha tem que esconder seu rosto quase o tempo todo, pois não deve ser reconhecida como uma menina. As mulheres sempre são levadas pelos traficantes. A menina tem um grupo de amigos da mesma idade, mas um deles perdeu um braço para o chefe do cartel. Sua missão de vida é recuperar seu braço. Huck embarca na saga junto ao amigo.
Um dia, seu pai é convocado a tocar com seu conjunto musical em uma festa organizada pelos traficantes. Sem alternativa, acaba tendo que levar a filha junto. No dia seguinte, após uma verdadeira chacina, Hulk acorda cercada pelo caos e pela morte. Mas mesmo com todos esses elementos de desgraça, a sequência gera uma cena incrivelmente bonita. A menina anda ao lado dos cadáveres, mas cada um deles é representado como uma pessoa de papel, amassada, junto a uma poça de sangue, numa vista aérea.
Sobrevivência no caos
A história de Compra-me Um Revólver é extremamente pesada, mas infelizmente é a realidade de alguns locais. Uma situação um tanto primitiva, uma história incrível de sobrevivência. Curto e grosso, o longa não enrola em nenhum momento. Quando acaba, até pensamos que poderíamos continuar acompanhando a garotinha corajosa. Mas ao mesmo tempo, é cada soco no estômago…
O pai viciado não consegue tomar as melhores decisões possíveis. Em alguns momentos protege a filha, em outros parece que a expõe ainda mais aos perigos do cartel. Ela é esperta, mas com certeza ambos contam com um bocado de sorte para sobreviver nesse ambiente. Já não se pode dizer o mesmo do restante de sua família.
Não há melhor descrição do que esta, abaixo, do próprio diretor:
“Eu queria fazer uma homenagem a todas as histórias que alimentaram minha imaginação quando eu era criança: Mad Max, As Aventuras de Huckleberry Finn, O Senhor das Moscas, Os Garotos Perdidos de Peter Pan, o beisebol, paisagens desoladas e filmes de gangster. Eu queria fazer um filme – quase uma carta – de um pai que se reconhece imperfeito, mas profundamente amoroso. A única coisa que este homem tem que pode ser herdada é a sua sorte e o seu instinto de sobrevivência. Eu acho que o filme é uma história sobre amor e paternidade no âmbito de um lugar sem regras ou governo. Onde a lei do mais forte reina, onde nada importa, exceto tentar escapar da morte. Esta história é também uma desculpa para falar sobre o México sem lei e selvagem em que as instituições são invisíveis; em que as vidas das pessoas dependem do humor dos criminosos”
Mesmo deixando alguns aspectos daquela realidade sem explicação (o que acontece de verdade com as mulheres, onde estão as famílias das outras crianças, existem outras facções no comando), Compra-me Um Revólver é um filme muito interessante. Nos faz mergulhar na trama curta, porém pesada, de crianças que se divertem com pouco em um segundo e no segundo seguinte precisam tomar decisões drásticas. Recomendo bastante o filme, que entra em cartaz dia 30 de maio, inclusive no projeto Caixa de Pandora.