Coração de Cowboy, homenagem ao universo sertanejo

Lucca (Gabriel Sater) é um cantor de sertanejo universitário, que está cada vez mais influenciado pelo pop, a pedido de sua empresária (Françoise Forton). Frustrado com sua carreira, Lucca se revolta e volta para o interior, aonde reencontra seu pai (Jackson Antunes), seus amigos e conhece Paula (Thaila Ayala), a jovem dona de um bar local onde ele costumava cantar com um trio (Lucca, Guga e Marcelle).

Coração de Cowboy já começa com um flash back que nos conta como Lucca (nessa fase interpretado por Enrico Lima) começou sua carreira e como ele chegou onde está nos dias de hoje.

Algumas das coisas que são apresentadas nessa primeira parte são um pouco confusas, como o fato de tanto Lucca, quanto seu irmão Guga, que são adolescentes, dirigirem precocemente e a insinuação de que existe uma disputa entre os dois irmãos em relação à Marcelle (Thais Pacholek na fase adulta e Giulia Nassa na fase adolescente), a terceira parte do trio, disputa essa que é completamente esquecida ao longo do filme.

Quando Lucca já é adulto, o filme mostra um homem que tem sucesso, dinheiro, mulheres e lota shows, mas que não é feliz, já que está reproduzindo um tipo de música que não gosta, mas que agrada ao público. A pressão que sofre por parte de sua empresaria é enorme, e ela nunca o deixa gravar o que ele realmente deseja. Coração de Cowboy quer nos falar sobre a perda de identidade a que Lucca se submete para poder alcançar a fama.

A única coisa que pode fazer Lucca feliz novamente é a volta para a casa e consequentemente às suas raízes sertanejas. O filme nos fala do reencontro de Lucca com seu pai, um homem turrão que não aceita o trabalho atual do filho. A relação dos dois é complicada e eles batem de frente com frequência.

Nessa volta, Lucca também reencontra Marcelle, agora casada e com uma filha, mas que deseja voltar a cantar.

A ideia do diretor do filme certamente era fazer uma homenagem à música sertaneja de raiz, e o filme tem diversas participações especiais, como Rio Negro e Solimões, Allison Lima, a Família Lima e claro, Chitãozinho e Xororó (que também emprestam seu maior clássico Evidências para a trilha sonora), mas talvez na ânsia dessa ideia, o roteiro do filme tenha sido um pouco prejudicado, já que a trama não chama a atenção especialmente.

A produção do filme também é muito parecida com a de um telefilme, quase como se o espectador pudesse ver com clareza onde entrariam os intervalos comerciais, e embora o elenco não esteja ruim, os diálogos soam um pouco falsos.

É verdade que Gabriel Sater, o protagonista, é carismático e faz ser crível o fato de seu personagem ter tantos fãs, mas o resto do elenco não tem muito destaque. A trilha sonora composta por Lucas Lima é interessante e funciona muito bem dentro do filme.

Uma coisa atraente do filme é que ele mostra com bastante verdade uma realidade brasileira sobre a qual o cinema nacional quase nunca fala, o que é interessante para quem não conhece cidades do interior, mas mesmo assim, poderia facilmente ser um filme que se passa no interior dos Estados Unidos, o que causa um reconhecimento do público, não só no Brasil.

Por outro lado, além de esquecer algumas informações que são jogadas no começo e nunca mais retomadas, o filme também tem algumas cenas completamente desnecessárias, que poderiam ter sido cortadas do roteiro ou da montagem, deixando assim mais espaço para momentos mais importantes da trama, que demoram muito para acontecer.

Em função disso, o filme se torna longo e a sensação que o espectador tem não é de ansiedade para que alguma cena importante chegue, mas de cansaço.

Embora retrate partes do Brasil com bastante veracidade, Coração de Cowboy é longo e ligeiramente arrastado e apresenta um roteiro com diversos furos.

Coração de Cowboy entra em cartaz hoje, dia 27 de setembro.