Colateral ou será Chacal Colateral?
Hoje estou indignado. Indignado não… MUITO indignado. Ou decepcionado… sei lá.
Assisti o Colateral ontem. Aquele filme alardeado como “o primeiro filme onde o Tom Cruise faz papel de vilão” (o que não é exatamente uma verdade, afinal de contas, Lestat é o que? Mocinho?). Antes de começar minha coluna, adianto que sou fã do Tom Cruise e assisti a quase todos os filmes que ele atuou, com exceção de Dias de Trovão, que ninguém merece. Também gosto muito do Michael Mann, que já dirigiu ótimos filmes como Dragão Vermelho (o primeiro, não a refilmagem), Último dos Moicanos (1992), O Informante (1999) e Ali (2001). Isto posto, vamos ao que interessa.
Não vou ficar falando sobre os méritos do filme. Vou falar sobre finais ruins estragando ótimos filmes.
Tom Cruise está muito bem no papel de Vincent, um assassino profissional que chega a Los Angeles e precisa fazer cinco paradas até o amanhecer do dia seguinte, quando um vôo o levará de volta. Se este filme tivesse sido rodado dez anos atrás, certamente Richard Gere teria feito este papel.
O filme começa bem, com Jason Statham fazendo uma ponta como o contato de Vincent no aeroporto. Todos nós sabemos que filme que tem Jason Statham fazendo uma ponta não pode ser ruim. Em seguida, o diretor começa a construir os personagens de maneira muito sutil e inteligente, colocando uma corrida de táxi com Jada Pinkett Smith (Niobe, de Matrix) e o taxista Jamie Foxx (o Willie, de Um Domingo Qualquer) para mostrar ao público a personalidade de Max sem forçar, destacando traços de seu caráter que serão usados mais adiante. Até então, eu achei que Jada era apenas mais uma ponta bem sacada que serviu ao seu propósito e foi embora… ledo engano.
Cruise consegue deixar alguns maneirismos de Vincent demonstrarem lentamente a maneira como pensa e age. Mann coloca Vincent como um assassino profissional frio, calculista e extraordinário, com muitas semelhanças ao Personagem de Bruce Willis no Chacal (1997).
O filme vai se desenrolando de uma maneira grandiosa, com cenas noturnas muito bonitas, takes aéreos da cidade, enredo consistente e reviravoltas bem boladas na trama. Não tenho uma cena favorita. TUDO é muito bem feito. A cena do primeiro alvo de Vincent, o encontro no hospital, o clube de Jazz, o encontro no clube, Max se passando por Vincent, o confronto de caráter entre os personagens e a dúvida constante e nervosa se Vincent deixará ou não Max vivo no final do filme, tudo de vento em popa, até exatos 1h35 de filme. Anote na sua agenda: depois de 95 minutos de filme, quando a identidade da última vítima de Vincent é revelada, tudo vai para o ralo mais rápido do que você consegue dizer “Jada Pinkett Smith”.
Não vou contar o final do filme porque você já sabe qual é o final do filme. Ele é previsível, forçado, óbvio e bobão. Digno de um romance policial enlatado da sessão da tarde. E os executivos de Hollywood mais uma vez estragam o que poderia ter sido uma obra prima.
A última vez que fiquei tão indignado com o final de um filme de “assassino profissional” foi justamente com o Chacal, onde uma trama bem bolada, um vilão espetacular e um roteiro bacana são jogados no lixo quando faltavam menos de vinte minutos para acabar o filme. Tudo em nome do pieguismo de Hollywood.
Claro que existem outros filmes ótimos com péssimos finais, mas não consegui deixar de lembrar do Chacal o tempo todo durante os últimos vinte minutos de Colateral. Talvez seja pelo cabelo Preety Woman do Tom Cruise… De qualquer forma, se você for assistir ao filme Colateral, assista também o Chacal, compare os dois filmes e veja se tenho ou não razão.