Internet – O Filme

Apesar de o nome levar o espectador desavisado – muito provavelmente aquele que vai apenas acompanhar o filho ao cinema – a crer que o filme em questão trata sobre toda a infinitude de possibilidades que é a web, como numa espécie de A Rede Social, Internet – O Filme é sobre jovens (e outros nem tanto) youtubers brasileiros. Não que isso chegue a ser uma propaganda enganosa, afinal o foco do longa sempre esteve bastante claro em todo o seu material de divulgação.

Com roteiro assinado por Rafinha Bastos, que também atua, ‘Internet’ é uma comédia com sete pequenas narrativas interligadas que se desenrolam a partir de uma convenção de criadores de conteúdo digital na qual todos comparecem. Misturando o real ao ficcional, em ‘Internet’, os personagens, que são youtubers fictícios interpretados por youtubers reais, volta e meia deparam-se com obstáculos na busca pelos seus 15 minutos de fama.

Em tempo, é importante ressaltar que já houve época em que eu acompanhava quase que religiosamente mais da metade dos 25 youtubers que aparecem na telona. Deixando claro que não sou um hater deles, adianto: o filme é uma bomba. Não tão grande quanto se acreditava ser, mas ainda mais destruidora quando, após os minutos iniciais, descobrimos nele um potencial escondido que é jogado fora.

Além de ser um desperdício de roteiro (bem amarradinho, com uma ou duas histórias legais e momentos inspirados, como o do cachorro pedindo ajuda subliminarmente em seus vídeos) e dos jovens comunicadores talentosos, o filme se perde na indecisão entre ser uma sátira dos estereótipos do mundo digital ou uma comédia superficial com piadas de mau gosto (como a da negra gorda ser um ‘desafio’ para o menino conseguir uma passagem para o exterior).

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Profundo no número de tramas, mas raso em seus desenvolvimentos, o roteiro de Rafinha Bastos quer falar de tudo um pouco, mas acaba por não dizer nada. O que não seria comprometedor, se não fosse sua pretensa moral. Ao longo de uma hora e meia de duração, o filme almeja dialogar sobre amor, fanatismo, bullying, preconceito, discurso de ódio, o preço da fama e muito mais. O público-alvo, claro, pouco se liga nisso. Afinal, na tela, estão ídolos como Gusta Stockler, Felipe Castanhari, Mr. Poladoful, Christian Figueiredo, entre outros.

Falando na atração principal do filme, os youtubers, é visível como eles não sabem atuar, nem que no caso os personagens também sejam youtubers. Escolhidos apenas por serem amigos próximos de Rafinha Bastos (o idealizador do projeto), o problema fica ainda mais evidente quando contrastado com alguém com o mínimo de noção sobre interpretação, como Paulinho Serra, que dá vida a Adalgamir, um fanático stalker com ares de maluco.

Longe de suas zonas de conforto, ou seja, sozinhos gravando vlogs em seus quartos, os youtubers demonstram um enorme esforço nos momentos de tensão e emoção para entregar a atuação que a história pede, o que torna o resultado constrangedor e o ‘drama’ em cena forçado.

Tivessem escrito um roteiro completamente tresloucado e voltado para a HUEragem BR, nos moldes de É o Fim (no qual James Franco, Seth Rogen e companhia interpretam eles mesmos em um cenário apocalíptico surreal), um roteiro no qual os jovens youtubers tivessem mais liberdade para serem quem são aliados a um estilo visual narrativo que se aproximasse mais dos vídeos do YouTube e, aí sim, teríamos algo verdadeiramente engraçado e, até, inovador. Ou, ainda, tivessem diminuído o número de histórias e chamado atores profissionais e o resultado seria uma interessante crítica panorâmica dos absurdos desta era digital.

A impressão que fica, ao final, para quem não é do círculo de fãs, é de que o filme, fora ter sido uma grande festa para todos os envolvidos na produção, é de apenas ser um ‘caça-níquel’ que já mira em continuações com cada vez mais web celebridades e participações especiais.

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