Mulher-Maravilha
Os fãs de quadrinhos da DC podem respirar aliviados: Mulher-Maravilha coloca o universo cinematográfico da editora nos trilhos rumo ao sucesso com muita eficácia, corrigindo praticamente todos os erros cometidos por seus irmãos mais velhos e estabelecendo o tom que deve ser seguido daqui por diante.
O longa conta a história de Diana, princesa da ilha de Themyscira, filha de Zeus com Hipólita, a rainha das Amazonas. Treinada por sua tia Antíope para ser a maior guerreira do lugar, a vida de Diana muda de forma inesperada quando o avião do piloto norte-americano Steve Trevor cai nas águas que cercam a ilha, trazendo consigo uma multidão de soldados alemães para aquele local até então secreto e desconhecido pelos mortais comuns. Após uma batalha sangrenta, Diana percebe que o seu lugar é no mundo dos homens lutando para conter a influência de seu violento tio Ares, deus da guerra, o qual ela acredita estar controlando os rumos da Primeira Guerra Mundial.
A obra como um todo é muito bem dirigida por Patty Jenkins (do poderoso Monster – Desejo Assassino), mas o destaque fica com as cenas de ação elegantemente filmadas, permitindo que se entenda tudo o que está acontecendo na tela e que se sinta o peso dramático da ação. Ainda que haja um exagero no uso do recurso de câmera lenta, é tudo tão bem feito que esse pequeno desvio é facilmente perdoado, especialmente quando o espetáculo visual é combinado à poderosa trilha de Rupert Gregson-Williams. Há uma cena em particular na qual Diana decide cruzar sozinha um campo de batalha até então considerado intransponível a qual é tão bonita que certamente fará marmanjos ficarem de olhos marejados e pelos arrepiados. Perdoem-me as palavras, mas é muito f*#@!
Outro ponto positivo do filme são as atuações. Gal Gadot se mostra cada vez mais confortável no papel de Diana, e acredito que em breve alcançará o potencial máximo da personagem. No entanto, por enquanto ela ainda não convence em cem por cento de suas cenas (algumas das mais dramáticas, por exemplo, deixam bastante a desejar). Sua caracterização, por outro lado, é impecável: a beleza da atriz e suas habilidades combativas excepcionais convencem qualquer um de que ela é realmente uma deusa andando entre mortais.
A outra grande atuação do filme fica por conta do injustamente subvalorizado Chris Pine, o qual desponta como o elemento mais engraçado do filme. Ele já havia demonstrado seus talentos cômicos em Quero Matar Meu Chefe 2, mas aqui ele consegue ir além. Isso não significa que seu personagem seja apenas um alívio cômico, já que o ator não deixa a desejar nas cenas mais sérias. O elenco de apoio também agrada e a química entre todos os “mocinhos” da história é ótima, nos fazendo querer passar mais tempo em sua companhia.
Aliás, é importante dizer que o tom do filme é muito mais leve que o de Batman vs. Superman, no qual a personagem fez sua estréia cinematográfica. Temos aqui uma obra mais leve, colorida e iluminada. A situação de Diana como um peixe fora d’água no mundo dos mortais é um prato cheio para situações cômicas que se desenrolam com naturalidade e sem exageros. Em nenhum momento a tensão é quebrada com piadas fora de hora, contribuindo para que a força dramática do longa não se dilua.
O único problema do filme é aquele que parece ser o calcanhar de aquiles de todos os filmes de super-heróis: o vilão. No caso de Mulher-Maravilha, a escolha do ator para o papel surpreende positivamente por ser inusitada, mas o resultado final decepciona, já que toda a construção feita durante o longa não satisfaz no final, resultando em uma batalha burocrática e “mais do mesmo”, ainda que bem dirigida e visualmente interessante. Uma pena.
Sejamos sinceros: nenhum filme de super-herói até o momento, seja da Marvel ou da DC, é uma grande obra cinematográfica que explora grandes temas da condição humana (não, nem Batman: O Cavaleiro das Trevas), mas não é por isso que os fãs do gênero sejam obrigados a engolir qualquer porcaria. “Mulher-Maravilha” representa para o universo cinematográfico da DC o mesmo que a iniciativa Rebirth representou para os seus quadrinhos: uma volta às origens que sempre fizeram desses personagens os ícones que são.
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