A Glória e a Graça

Vivemos no país que mais mata transsexuais no mundo. Vira e mexe surge uma notícia, um relato ou um vídeo com cenas grotescas de violência e intolerância contra pessoas trans. A conscientização, quebra de preconceitos e normatização dessas pessoas é mais do que urgente, e o cinema tem um potencial enorme nesse processo todo. “A Graça e a Glória”, o mais recente filme do diretor Flávio Tambellini, dá um passo na direção certa, tropeça, derrapa e cai.

O longa foca a sua história em Glória (Carolina Ferraz), uma travesti muito bem sucedida e feliz com suas escolhas e conquistas. Um belo dia ela recebe o convite para se reencontrar com sua irmã, Graça (Sandra Corveloni), com a qual já não tem contato há mais de uma década. Ao conversarem, é revelado que Graça está com uma doença terminal que pode matá-la a qualquer momento. Com as cartas na mesa, as duas decidem tentar uma reaproximação familiar para que no futuro Glória possa cuidar dos seus dois sobrinhos até então desconhecidos, quando Graça eventualmente falecer.

A falha mais gritante do filme já é evidente antes mesmo dele começar: por que diachos foi escolhida uma atriz cisgênero para fazer o papel de Glória? Não faz sentido, afinal se o objetivo do filme é pregar sobre a diversidade e pela inclusão, por que não começar pelo próprio elenco? Pelo menos a atuação de Carolina Ferraz, assim como sua caracterização física, são ótimas. A atriz demonstra domínio e confiança ao estar na pele de Glória, alternando entre a dureza e a ternura com confiança. Sandra Corveloni (Melhor Atriz em Cannes por “Linha de Passe”) também está ótima no papel de Graça, apesar de ambas serem prejudicadas pela qualidade do roteiro, carregado de clichês, culminando numa cena final extremamente melodramática e até mesmo brega, que vai fazer o espectador se retorcer levemente de vergonha.

No fim das contas, “A Glória e a Graça” não passa de um filme bonitinho e cheio de boas intenções, mas sabemos muito bem que só elas não são o suficiente para que uma produção seja eficiente no que diz respeito às suas pretensões.

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